Arquivo do mês: fevereiro 2010

Webmanario, 2

É hoje: esta página, rebatizada Webmanario (sem o acento, por pura frescura) chega ao seu segundo ano de vida. Há um ano, contei como foi o primeiro aniversário.

Não há muito a atualizar, com exceção do layout e, principalmente, da imagem principal _já tomei bronca por manter o Cubo d’Água pequinês por tanto tempo ali (aliás, alguma sugestão?).

Foram 397 posts nesta última temporada, um pouquinho mais do que um por dia (é menos que o mínimo que um produto on-line deve fazer, mas foi o que pude fazer), e muitas discussões e experiências trocadas por quem toca esse site de verdade: você.

Aproveitando a efeméride, vou compartilhar estatísticas curiosas. Até eu me surpreendo ao fazer esse balanço.

Por exemplo, me surpreendo ao me dar conta que o link mais clicado dentro do site nestes dois anos foram os 15 interessantíssimos (e modernos) potfólios de jornalistas que recomendei em julho de 2008 (o original saiu no 10,000 Words).

Percebe-se claramente, ainda, a influência do Twitter no acesso ao Webmanario: o microblog é disparado a principal porta de entrada (já responde por 40% do total), seguido de mecanismos de busca _liderada pelo fotógrafo Steve McCurry, citado em apenas dois dos 806 posts do site, mas campeão de menções de leitores que chegaram a estas paragens por acaso.

E é também um post sobre fotografia (“Fotos que mudaram o mundo“, sobre a Guerra do Vietnã) o mais lido de toda a história dessas mal traçadas linhas.

Aos dois anos, mal aprendi a andar. Muito a aprender ainda, aqui e, principalmente, nas redações, que me motivam para escrever aqui. Debater esse ofício é, sem dúvida, meu hobby predileto.

Espero que você curta nossa terceira temporada. E colabore, o Webmanario é o que você quiser que ele seja, desde que democrático e aberto ao diálogo.

Janelas paulistanas

Inspirador o ensaio do fotógrafo Helvio Romero com o tema Janelas Paulistanas, na versão eletrônica de O Estado de S. Paulo.  E o texto de apresentação é irretocável.

“Uma viagem poética pelas fachadas da cidade. Um mosaico de cores formas e contrastes. A São Paulo antiga, a São Paulo moderna, os bairros de classe média, os bairros da periferia. Janelas decadentes, janelas enfeitadas, janelas coloridas, janelas divertidas. Janelas com gente, janelas com bichos, janelas com plantas, janelas desabitadas. Janelas, janelas, janelas, janelas… Janelas por onde São Paulo é vista. Janelas por onde olhamos São Paulo”.

Filiação de não diplomados racha sindicalismo jornalístico

O sindicalismo jornalístico brasileiro está muito perto de um racha. E o motivo é bizarro: alguns sindicatos (com São Paulo à frente) passaram (em respeito à lei) a filiar não diplomados em jornalismo, mas que exercem a profissão.

Como todos nós sabemos, no Brasil o exercício do jornalismo é livre _como de resto, no mundo: o avanço tecnológico já tinha dado uma imprensa para cada um.

Dentro da Fenaj (a federação nacional da profissão) surgiu um movimento contra essa filiação, e o assunto será discutido em 27 de março pelo Conselho de Representantes, que quer proibir a prática.

Os motivos desse grupo eu entendo perfeitamente. Minha grande dúvida é saber o porquê de não diplomados em jornalismo decidirem se filiar a entidades da classe, o que se passa na cabeça dessa gente?

Como sindicalizado veterano, atesto a inutilidade da coisa.

Afinal, queremos um sindicato de diplomados em Jornalismo ou um sindicato de jornalistas? Ou não queremos sindicato? Nem precisa responder.

Lembro que me revoltava porque não aceitavam, lá pelos idos de 1992, sindicalização de frila, ainda que jornalista formado. Hoje entendi que o sindicalismo do jornalismo só se importa com quem faz xixi até a linha delimitada por ele.

Desta vez, ao menos em SP, foram razoáveis. E tem gente partindo pro casuísmo. Uma vergonha, não me representam e não falam por mim.

Agruras da diagramação e da falta de acabamento decretam que entrevistado é sem noção

Olha quão importante é, no jornalismo impresso, o acabamento da edição (também o é no on-line, mas é que o papel não permite correção): fui tratado como “sem noção” em entrevista que dei recentemente, como você vê acima.

O projeto gráfico do Diário do Norte do Paraná, de Maringá, me foi cruel: o box em que apareço como entrevistado de um miniping tem um título e uma seta que não deixa dúvida. Leva diretamente ao meu nome. Eu sou sem noção.

Não creio ser uma decisão editorial, já que também ofereço declarações para o abre.

Sempre digo que não é fácil fazer jornalismo em papel…

Fotojornalismo: uma pequena mostra do portfólio de Steve McCurry


O fotógrafo Steve McCurry, mundialmente famoso por seu retrato de uma menina afegã que ilustrou capa histórica da revista National Geographic, não fez, evidentemente, só isso.

Aqui tem um pequeno mostruário de seu trabalho, muito calcado em retratos, mas com tomadas inusitadas como a do Taj Mahal, na Índia, que reproduzo acima. Estão no livro South Southeast, da editora Phaidon Press.

Três boas matérias sobre redes sociais e velha mídia

Excelente o pacote redes sociais/velha mídia que o caderno Mais!, da Folha de S.Paulo, publicou neste domingo.

Ernane Guimarães Neto entrevistou o jornalista David Kirkpatrick, que lança em junho “The Facebook Effect – The Inside Story of the Company That’s Connecting the World”. Na obra, Kirkpatrick vê na rede social mais popular do mundo a ambição de possuir todas as informações pessoais possíveis.

O mesmo Ernane foi a Julia Angwin, editora de tecnologia do “The Wall Street Journal” e que lançou “Stealing MySpace – The Battle to Control the Most Popular Website in America” em março do ano passado. Em abril, o subtítulo já estava desatualizado: o MySpace, que priorizou o conteúdo amador e não gerenciou a presença de seus usuários, foi superado pelo Facebook.

“Eles [O MySpace] foram lentos para reagir tecnologicamente, se atualizar. Não perceberam a tempo que precisavam acrescentar novas atrações, que as outras redes eram ameaças. Sofreram um pouco com a fadiga das pessoas, a tendência para migrar para as novidades, é verdade, mas não fizeram o bastante para mantê-las. Nessa área, se você não inova, fica para trás: as páginas demoram para carregar, o software é velho…”, diz Julia.

Para completar o pacote do Mais!, uma entrevista de Leneide Duarte-Plon com Sylvie Kauffmann, 55 anos, primeira mulher a comandar a redação do Le Monde, ainda hoje um jornal de referência, mas bem menos influente (como de resto todos os outros).

“Vejo a internet como uma oportunidade para a imprensa escrita, e não como uma catástrofe. Ambas são bastante complementares e podem funcionar em relação recíproca”, afirma Sylvie.

‘É preciso humildade para entender a importância do discurso do público’, diz editor de Época

Conheci Sérgio Lüdtke, 49 anos, hoje editor da revista Época, numa viagem em que pretendia entender a interação e integração de redações no Grupo RBS, que sempre trabalhou com o conceito de rede _jornal, rádio, jornal e web mesclados, em boa medida com os mesmos jornalistas-grife passeando por todos.

Lüdtke é um dos defensores do conceito de “perseguir a audiência” (diferente de Paco Sánchez, aqui também entrevistado, que teoriza que a originalidade do conteúdo fará seu público o encontrar).

Perseguir a audiência significa, muitas vezes, dialogar com “gente que dá um carteiraço ao contrário, você quase nunca sabe com quem está falando”, como diz Lüdtke. Mas ele não desiste nunca. “É preciso humildade para entender a importância do discurso do público”, afirma. Leia a entrevista completa abaixo.

Às vezes eu acho que somos jornalistas diferentes. Entendemos a importância do discurso do público, damos valor a ele, buscamos nossa audiência… Estamos errados?
Estou convicto de que estamos certos, mas é preciso admitir que temos a facilidade histórica de contar com a internet. Como ela é o primeiro meio a possibilitar a interação com o público pelo próprio meio, é uma via em dois sentidos, a percepção da audiência que conseguimos no jornalismo online não era possível aos profissionais de jornal, rádio e TV. A experimentação de um diálogo franco e intenso com o público nos permite entendê-lo melhor, conhecer suas opiniões, mas também suas deficiências, suas incompreensões. Creio que é essa possibilidade de leitura da realidade, reforçada pela enorme capacidade de mensuração dos meios digitais, que nos diferencia. Não quer dizer que sejamos diferentes, mas temos tudo para ser.

Há uma distância, no entanto, entre a possibilidade e a efetividade. Para entender a importância do discurso do público é preciso também uma dose de humildade. Não é fácil, em meio a tantas atividades, parar para dar atenção – e às vezes até razão – a sujeitos cuja identidade não é revelada, autenticada ou reconhecida. Gente que dá um carteiraço ao contrário, você quase nunca sabe com quem está falando. Mas esses sujeitos anônimos são aqueles para quem sempre trabalhamos, desde o surgimento do primeiro jornal, e que agora também podem – e querem – ter um nome. Eles podem ser a extensão dos nossos olhos e nossos ouvidos, ser a nossa quase onipresença. Nosso trabalho é editar.

Você pode, melhor do que ninguém, falar sobre a importância do clique. Temos nossos mantras, mas vários deles ainda engatinham no quesito consumo de massa. Na maior parte das vezes funciona mesmo o que todo mundo quer ver, ou melhor, o que todos os portais estão publicando, numa mimetização impressionante. Até que ponto essa imitação dos sites noticiosos ajuda quem prega colaboração e participação no processo de construção das notícias?
A internet pode se estabelecer como um meio de massa, mas a quase totalidade de seu conteúdo não. Os portais, principalmente aqueles que têm na origem grupos de comunicação que já operavam outras mídias, levam para a internet a reprodução de seu modelo offline. E ao apostar editorial e publicitariamente em volume de audiência, deixam de lado aquilo que é a melhor possibilidade da internet: a de, independente do volume de pessoas conectadas, falar de um para um. Acredito que isso vá mudar muito nos próximos anos. A fragmentação é irresistível, mesmo numa área aparentemente muito concentrada como a das redes sociais. Não que não haja espaço para o mainstream, para o blockbuster, para a celebridade, mas esse é um terreno em que todos fazem mais do mesmo. Todos se repetem. É onde ainda faz diferença a idéia de Home de portal: tem mais cliques quem tem mais audiência e faz as escolhas mais adequadas a seu público. Mas isso só gera volume e uma posição no Ibope. O que, reconheço, não é pouco. Até por que a publicidade, que igualmente herdou o modelo, também vende volume. Não acredito que esse modelo vá prevalecer.

Os portais, por outro lado, podem usar inteligentemente a força de suas urls para promover o conteúdo gerado pela audiência, principalmente de usuários pouco experientes. Lembro que há alguns anos tínhamos que pedir à audiência para mandar fotos da mãe, do cachorro ou até da sogra. Era uma futilidade necessária para gerar a experimentação necessária, testar a usabilidade das ações. Hoje isso já é uma rotina, mas está na hora do editor-chefe do portal pensar nisso além da rotina e de uma forma menos burocrática.

O jornalismo colaborativo é apenas uma moda? Essa coisa de aplaudir o ‘meu-cachorro-fez-xixi-no-poste’, às vezes louvado como colaboração, faz algum sentido? Não temos nós, os ‘profissionais’, que sermos confrontados por eles, os ‘amadores’, e não nos colocarmos numa eterna posição de mediador?
Não acho que seja moda, mas devemos evoluir numa relação que preserve a responsabilidade com o conteúdo que oferecemos a nossa audiência. Seria impossível competir – se essa fosse a intenção – com a capacidade de captação de uma legião de olhos e ouvidos atentos e equipada com celulares, câmeras e gravadores. Além disso, independente da nossa vontade ou concordância, as pessoas já possuem seus espaços na web e lá publicam e compartilham o que bem entendem. Estamos na era do Eu.com. Nosso desafio está mais na capacidade de identificar, valorizar e descobrir formas de agregar esses conteúdos para oferecê-lo ao nosso público do que no confronto ou menosprezo com aquilo que é gerado pelo público.

Um guia de design para novatos _mas que experts podem garimpar coisas valiosas

Páginas e mais páginas com dicas no estilo “faça” e “não faça”, comparativas. É o The Wall Street Journal Guide to Information Graphics, livro bacana _mas que pode parecer repetitivo pra quem já conhece muito o riscado: há coisas valiosas, mas tem de garimpá-las.

A obra não traz gráficos do jornalão, mas é assinada por Dona M. Wong, ex-editora de Arte da publicação. Tem tanto texto quanto exemplos gráficos e, em resumo, mostra problemas (e soluções) em infografias que vemos publicadas todos os dias em qualquer jornal.

Como tudo que realmente é útil em design, o livro é uma espécie de guia do bom-senso. Para experts e garimpeiros.

A estratégia da Coca-Cola para as redes sociais pode servir para os nosso jornais

Vale a pena dar uma olhada numa apresentação interna que revela todos os passos da comunicação da Coca-Cola, umas das maiores empresas do mundo e, certamente, a principal e mais tradicional marca do planeta, na web em geral e nas redes sociais em específico.

Insights como o acima, retirado da apresentação (“Nossa home page não é apenas coke.com, mas também google.com”) transmitem um recado claro de que as maneiras pelas quais podemos ser encontrados por nosso público mudaram radicalmente.

A marca (bem-sucedida, né, precisa dizer?) ressalta o poder da conversação e da mobilização de seu público, mostrando ações que foram criadas pelos próprios usuários _nos últimos seis meses, por exemplo, a empresa tabulou mais de 4,6 mil fotos produzidas por usuários que, de alguma forma, faziam uma avaliação positiva de seus produtos.

Tudo isso para desembocar na seguinte conclusão: se a Coca-Cola, que é a maior marca global, está preocupada em conversar com seus fãs, e mais, inserir a produção deles dentro de uma perspectiva mais ampla de diálogo e troca de experiência, por que ainda há jornais que ignoram essa realidade?

O ótimo Adivertido falou primeiro disso.

Jornal publica anúncio em memória de demitidos em passaralho

Aconteceu em Minneapolis (EUA), no The Star Tribune: jornalistas da casa fizeram uma vaquinha e bancaram US$ 3.225 (quase R$ 6 mil) para colocar um anúncio no próprio jornal homenageando vítimas de seguidos passaralhos na redação _em quatro anos, o quadro do periódico caiu de 400 para 250 pessoas.

No mês passado, os sobreviventes já tinham participado de uma greve de assinaturas: ninguém assinou matéria num dia específico. “Uma greve de assinaturas é um conceito interno que não significa nada para nossos leitores”, disse muito bem Mary Abbe, articulista do jornal.

Foi ela quem deu a ideia do anúncio fúnebre, quase uma reprodução dos paredões de granito de soldados americanos mortos tão comuns aos cemitérios militares ou memoriais. Muita gente não quis colaborar. “Alguns colegas entenderam o anúncio como uma forma de financiar a empresa”, contou Mary.

O jornal tinha R$ 6 mil motivos para não barrar a manifestação de seus funcionários. E não o fez, dando o sinal verde para a publicação do anúncio _basicamente uma lista de nomes sob o título “Agradecemos aos mais de 140 jornalistas que deixaram a Redação nos últimos três anos”.

A @kikacastro foi quem viu primeiro essa história.