Arquivo do mês: abril 2013

Marketing e publicidade valorizam mais o jornalista do que o jornalismo

Uma das novidades trazidas pela transformação do ecossistema informativo, eternamente sendo reinventado, é que hoje o trabalho jornalístico é muito mais valorizado (e melhor pago) por ofícios ligados ao marketing e à publicidade.

Ambos, evidente, querem emprestar, além da credibilidade, a metodologia de trabalho jornalística que envolve coleta de informação, apuração, clareza e objetividade na estruturação de textos, entre várias outras coisas.

Há aquilo que se convencionou chamar de brand journalism, o que é bem estranho, mas paralelamente surge todo um novo campo de ação para jornalistas, trabalhando em áreas que efetivamente valorizam seus profissionais.

Há luz no fim do túnel, senhores.

De Estadão a Estadinho

Para registro: o Estadão explica, por meio de seus principais executivos, porque virou Estadinho (passou por um enxugamento de cadernos e, mais grave, de equipe). Atenção especial com o trecho que discorre sobre dispositivos móveis.

João do Rio

Se você não conhece João do Rio, deveria. E agora há um belíssimo motivo com o lançamento do livro “Cartas de João do Rio: a João de Barros e Carlos Malheiros Dias”, obra da pesquisadora Cristiane d’Avila editada pela Funarte.

Além de suas angústias pessoais, revelam-se nas páginas do trabalho projetos de revistas e as agruras cotidianas de um jornalista no início do século 20.

João do Rio é uma espécie de precursor do “new journalism” (anos antes do movimento notabilizado nos Estados Unidos por Wolfe e Capote, entre outros), adotando técnicas literárias no dia a dia do ofício jornalístico.

É um dos personagens mais importantes para quem pretende entender a construção da identidade do jornalismo brasileiro.

Babado forte na redação do NYT

Babado forte na redação do The New York Times, aquele jornal que figura numa categoria com um único integrante, o The New York Times.

Segundo o site Politico, a editora-chefe Jill Abramson (que ocupa o cargo há 18 meses) teria perdido o equilíbrio nas cobranças à sua equipe e, com isso, o próprio suporte do time.

A coisa saiu do controle a ponto de o editor-chefe, Dean Baquet, ter dado um piti após deixar a sala da chefe e abandonar a redação pelo resto do dia – inclusive a sagrada reunião de primeira página, às 16h. Dean é o único “on” da reportagem (além da assessoria de imprensa).

Pois bem, as revelações do Politico agora são alvo de dezenas de críticas. Como a de que reclamar do chefe é normal e a matéria jamais teria ido ao ar se Abramson fosse homem. Ou o excesso de fontes sigilosas. E ainda que esse tipo de entrevero é a coisa mais comum do mundo nas redações.

O fato é que jornalista adora uma fofoca.

Desenvolvedores também perdem o encanto com o Facebook

Não é só a Globo: desenvolvedores também perderam o encanto com o Facebook. Num movimento relevante, estão deixando de trabalhar em aplicativos para o site de rede social.

O motivo, entre outras coisas, é o absurdo controle do ecossistema e, mais importante, o inevitável caminho ao mobile total – área em que o negócio de Mark Zuckerberg ainda está engatinhando (e, como em todos seus tentáculos, é leonino e devora seus fornecedores).

Jornais cada vez com menos fatias do bolo publicitário

Dados recentes sobre a distribuição do bolo da publicidade do governo federal mostram o tamanho da desidratação do produto jornal. De 2000 para cá, o meio – que detinha 21,1% deste mercado – foi reduzido a meros 8,2% em 2012.

No mesmo período, o investimento público federal na internet partiu do zero para 5,3% – e ainda estamos falando de um meio visto com desconfiança pelo mercado porque simplesmente não se sabe ao certo a sua eficiência.

Estes dados, somados a outros, levantam duas considerações que precisam ser levadas em conta: sem ações integradas e presença em várias plataformas, os jornais, sozinhos, correm sim o risco de naufragar.

A outra, ainda mais importante: num movimento que já começa a aparecer nos Estados Unidos, o jornalismo financiado pelo público (ou seja, pelo cliente) para ser muito mais sustentável do que o velho modelo amparado em publicidade, especialmente a oficial.

‘Jornalistas postergam a felicidade’

O Unidade, jornal interno distribuído aos sócios do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, entrevista nesta semana o professor Roberto Heloani, que já esteve no Webmanario por ser o responsável pelo mais completo estudo sobre a saúde física e mental dos coleguinhas.

“O jornalista perdeu o prazer da profissão?”, pergunta o periódico. “A questão é de  identidade”, responde Heloani.

“Continua sendo uma profissão glamourizada. E isso cria uma relação ambígua de amor e ódio. Ao mesmo tempo em que se veem como Dom Quixotes, se veem lá embaixo. Isso é muito esquizofrênico e produz um sofrimento muito grande. Jornalistas postergam a felicidade.”

É isso, não?

Ah, o Unidade é editado pelo meu grande amigo Simão Zygband.

O outro país das maravilhas

Muito depois de Lewis Carrol e sua Alice, surgiu outro país das maravilhas – esse sim, maravilhoso de verdade.

Nele, todas as pessoas são felizes, frequentam lugares bacanas, almoçam e jantam nos melhores restaurantes, estão sempre cercadas de amigos, viajam pelo mundo e, nas horas vagas (eles têm muitas horas vagas), mostram seu altruísmo e solidariedade aderindo a campanhas humanitárias e mobilizações políticas.

Esse planeta maravilhoso, você já percebeu, é o Facebook, hoje frequentado por quase 1 bilhão de pessoas (entre os quais 70 milhões de brasileiros, praticamente 90% dos internautas do país). Fosse um país de terra e água, o site de Mark Zuckerbeg seria o melhor lugar pra se viver, disparado. Ali,todo mundo se dá bem.

Há exceções, como em tudo, mas a regra é um indício óbvio de que nesse país da internet todo mundo é mentiroso e manipulador. Desde o célebre cartum de Peter Steiner (“na internet, ninguém sabe que você é um cachorro”), a manipulação on-line tem sido objeto de sátira, análise e pesquisa.

Não por acaso a publicidade e o marketing têm tanto pé atrás nesse ambiente de conteúdo gerado pelo público – o jornalismo, como sempre, se jogou de cabeça, e sofre com isso.

Vale tese de doutorado, mas de toda forma prometo voltar com mais consistência ao tema.

Os 50 anos da notícia ao vivo

Em 2013 completam-se 50 anos do assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy, um momento difícil para o jornalismo diante da quantidade de teorias da conspiração, afora o estupor natural provocado por esse tipo de meganotícia.

Dois dias depois da morte, que apesar de registrada em vídeo não foi transmitida ao vivo, outro assassinato (esse diante dos olhos de milhões de telespectadores) chocaria ainda mais o público: Lee Harvey Oswald, apresentado como o assassino de Kennedy, foi abatido a tiros quando era conduzido a um presídio.

Se não foi a primeira morte mostrada ao vivo, certamente foi um dos primeiros momentos em que a TV, que ainda engatinhava, conseguiu levar ao ar um acontecimento noticioso inesperado ao mesmo tempo em que ele acontecia.

A reviravolta nas transmissões de TV e rádio, como você pode conferir nos vídeos acima, foi incrível. Afinal, no mesmo momento o corpo do presidente morto deixava pela última vez o Capitólio, em Washington. Jack Ruby, um escroque com problemas mentais, resolveu roubar a cena.

Houve outros momentos em que o jornalismo capturou a notícia ao vivo, caso do assassinato do presidente egípcio Anwar Sadatt e da tentativa de assassinato contra o Papa João Paulo II.

A morte do premiê israelense Ytzak Rabin foi registrada por uma câmera de segurança e posteriormente exibido pelas TVs, mas houve ainda o inesquecível e mortífero balé aéreo dos aviões usados como mísseis no 11 de setembro de 2001.

Nesses momentos, o jornalismo profissional é insuperável.

Ferramentas digitais para o jornalismo de interesse público

Isso é muito legal:  estão abertas as inscrições para o curso “ferramentas digitais para o jornalismo de interesse público”, iniciativa do International Center For Journalists (ICF).

Os instrutores são da pesada: o jornalista especializado em transparência pública Fabiano Angélico e meu duplo colega Marcelo Träsel, que coordena um excelente curso de especialização em Jornalismo Digital no RS.

O curso do ICF é gratuito, a distância e voltado a jornalistas e ativistas comprometidos com questões sociais. Inscreva-se já!