Arquivo do mês: novembro 2016

Catraca Livre e caça-clique

“O receptor é, sim, uma das chaves para compreendermos o fracasso e o sucesso dos meios de comunicação. E não é pelos cliques que faz, mas sobretudo pelo seu engajamento e pela crítica que elabora ao que consome.”

Sobre o case Catraca Livre no episódio da queda do avião que vitimou a delegação da Chapecoense, fico com o texto “Ponto de Vista: Catraca Livre e a fuga em massa da audiência: como não agir na cobertura de tragédia“, Amanda Miranda e Lívia Vieira para o objETHOS. Nada a acrescentar.

Buscar um incremento de audiência a qualquer custo de fato nos remete à TV dos anos 80 e 90. A questão é que na TV a audiência é passiva – todo o oposto do que acontece nas redes sociais.

Como usar a bolha do Facebook a seu favor

Muito já se falou (inclusive aqui) sobre a circulação de notícias falsas nas redes sociais e até que ponto elas podem ter beneficiado o republicano Donald Trump, enfim eleito presidente dos Estados Unidos. Agora vale a pena tentar entender um pouco também o lado do bem – que tipo de estratégia digital colaborou para o triunfo de Trump?

A mais importante delas é ultraóbvia: se o Facebook é uma bolha que faz com que seus conteúdos dificilmente atinjam grupos fora da turma de apoiadores, qual a melhor maneira de otimizar essa característica do que pensar na rede quase que exclusivamente como um canal para amealhar doações?

Pois foi isso que Brad Parscale, estrategista digital da campanha, imaginou. Usou os US$ 90 milhões dedicados por Trump para essa rubrica em busca de contribuições – e portanto usando o digital como ferramenta, não apenas como plataforma. Cerca de US$ 250 milhões chegaram à campanha por essa via.

“Ganhamos a eleição por causa do Facebook e do Twitter. O Twitter por Trump e o Facebook pelas doações”, disse Parscale à Wired, mencionando a incontinência verbal que o republicano demonstrou (e ainda demonstra) no microblog.

Além do uso do Facebook como um canal de publicidade, a estratégia explorou como nunca a incrível capacidade de personalização de anúncios dentro do site – algo ainda proibido nas campanhas eleitorais brasileiras.

Em média, relata Parscale, cerca de 50 mil variações diferentes de uma única peça foram testadas por dia – uso ou não de legendas, imagem estática ou vídeo, idade, gênero e localização do receptor, entre outras diferenças sutis. Os números são difíceis de acreditar até ele te contar que no dia do debate presidencial foram 175 mil possibilidades testadas com os mais variados públicos em anúncios dentro do Facebook.

Enquanto Hillary gastava mais de US$ 200 milhões em comerciais de TV na reta final da campanha, o laboratório de Parscale produzia milhares de opções de conteúdos que recebiam investimento variado no Facebook e toda sorte de configuração de entrega.

É uma história para onde devemos olhar se quisermos entender todos os meandros daquele que muitos consideraram como um resultado surpreendente.

A propósito: até mesmo na face visível do trabalho em mídia social, o engajamento, Trump deu de goleada.

Notícias falsas, outro calcanhar de Aquiles do Facebook

Não é somente o absurdo controle do que as pessoas veem, mas a responsabilidade de evitar que notícias falsas circulem dentro do Facebook. Eis a nova fronteira do questionamento ao maior serviço de rede social do mundo – justiça seja feita, obviamente nem o Google está sujeito a se livrar desse triste papel.

Ao Gizmodo a empresa nega que tenha desenvolvido métodos para impedir a disseminação de boatos a não ser a autodeclaração de usuários que se sintam ofendidos por um conteúdo específico. Também, para seu criador a falsidade responde por mero 1% do conteúdo postado no site.

O tema, evidente, ganhou força após a eleição de Donald Trump, quando a rede chegou a ser considerada ‘culpada’ pelo resultado.

A verdade, infelizmente, está em nós: no ramo das notícias, sensacionalismo e bobagens sempre terão mais engajamento do que jornalismo sério e acurado. Culpe os seres humanos.

Triunfo de Trump põe em xeque estratégia eleitoral de Hillary

O desfecho da eleição americana colocou em xeque uma estratégia do marketing político tão controversa quanto famosa por ter dado com os burros n’água em outras oportunidades: a campanha democrata torrou US$ 33 milhões (ou 68% de todo o custo da empreitada) em anúncios, na TV e na internet, que tinham como único objetivo desconstruir o republicano Donaldo Trump, enfim vencedor.

Na web, nada menos do que todas as dez peças mais compartilhadas pelos usuários partiram da campanha de Hillary Clinton, mas não falavam dela – ressaltavam desatinos verbais do adversário, convidando o receptor das mensagens a confrontar suas convicções morais (veja outros comerciais da eleição americana).

Os conteúdos (em outra decisão polêmica do ponto de vista comunicacional) muitas vezes foram conduzidos sem porta-voz, ou seja, era da boca da própria Hillary que partiam as críticas ao adversário. Enquanto o tiroteio corria frouxo, a agenda positiva foi deixada de lado – e o país ficou sem saber o que Hillary realmente podia fazer pela América.

Durante muito tempo acreditou-se, no Brasil e no mundo, que o caminho escolhido pela campanha democrata era fadado ao fracasso. Análises mais recentes (inclusive a de um pesquisador brasileiro) mostraram, porém, que quem bate não necessariamente perde. Desta vez, mais uma vez, perdeu.

Impossível não voltar a refletir sobre a eficácia deste surrado método e a conclusão, imediata, de que cada eleição tem uma história.

O Facebook (ainda) quer controlar a internet

É cada vez mais assustador o avanço do Facebook sobre o controle da internet. Chega a lembrar Steve Jobs e sua obsessão doentia por controlar toda a experiência do usuário – o que incluía a megalômana ideia de possuir a própria rede de telefonia.

O projeto Free Basics, pelo qual os desfavorecidos do mundo poderão acessar a rede (desde que dentro do Facebook),  não passa de mais um falso aceno filantrópico cujo objetivo é inflar em progressão geométrica a quantidade de usuários do site (que, por sinal, deverá anunciar em breve que atingiu 2 bilhões de pessoas conectadas).

Legisladores do Egito e da Índia já vetaram a boa ação de Mark – a alegação é a mesma de outros países que questionam o almoço grátis: a neutralidade da rede.

Rachita Taneja, para a Wired, falou e disse tudo sobre o assunto.