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Tiros na corrupção

Num ano em que o holofote sobre a corrupção está mais aceso do que nunca, impossível não lembrar a tragédia protagonizada por Budd Dwyer – secretário do Tesouro do estado da Pensilvânia que, diante das câmeras, se matou após condenado por supostamente receber propina de US$ 300 mil para autorizar a contratação de um serviço público.

Dwyer foi deputado e senador, mas se notabilizou na vida pública como o implacável chefe do tesouro estadual que descobriu – e conseguiu que fossem devolvidos aos cofres estaduais – uma farra de gastos pessoais do governador Dick Thornburgh, no começo dos anos 80. A festa incluía servidores fazendo supermercado e conduzindo os filhos do mandatário, entre outras coisas.

Partiu de Thornburgh, já sem mandato, o início das investigações contra Dwyer, a partir de uma denúncia anônima. Jamais se comprovou que o tesoureiro recebeu o dinheiro, mas o simples fato de ter admitido a possibilidade de suborno (o que aparecia na versão de uma testemunha que, anos depois, disse ter mentido) foi suficiente para sua condenação.

Em 22 de janeiro de 1987, Dwyer reuniu a imprensa, leu uma nota oficial, entregou envelopes com mensagens para familiares a seus auxiliares e sacou, para espanto geral, uma arma que colocou na boca e disparou. Tudo ao vivo, sem cortes, nas cinco maiores emissoras de TV dos EUA.

O caso até hoje é usado como exemplo da falta de escrúpulo da mídia – não pela transmissão ao vivo, mas pela exploração das imagens nos dias seguintes em jornais e telejornais e também pelo fato de cinegrafistas e fotógrafos continuarem a trabalhar mesmo diante do cadáver de Dwyer.

O filme “Honest Man” revê essa trajetória e afirma, com relatos atuais, que Dwyer era inocente e foi perseguido pelo governador que fiscalizou. O suicídio estaria relacionado à ruína das finanças da família, dizimadas no custoso processo judicial. Uma história e tanto.

O plágio na infografia

plagiarism

O famigerado control c + control v, tão mencionado quando falamos de textos na internet é tão (ou mais) popular na infografia. Meu mestre Alberto Cairo tem falado constantemente sobre o assunto.

Inspiração não tem nada a ver com cópia.

A Constituição do Facebook

Você já leu os termos de uso do Facebook?

Ex-editor-chefe do Washington Post e agora diretor da Faculdade de Jornalismo de Columbia (EUA), Steve Coll leu. E abandonou o serviço.

“Tudo me pareceu muito pretensioso, escrito como uma Constituição, mas de um Estado do qual eu não gostaria de ser cidadão”, contou.

Há mais bobagens do que a observação “Você não deve usar o Facebook se for um criminoso sexual condenado” na tal “Constituição” do serviço de Mark Zuckerberg. O besteirol grassa em termos de uso de forma generalizada, como os do Twitter, por exemplo.

A grande questão é que as cláusulas leoninas escondidas entre as estultices acabam sempre passando batidas. E, depois, dá-lhe polêmica porque uma foto de passista foi excluída da página de um veículo jornalístico que fazia a cobertura do Carnaval.

Mas eu nem deveria estar falando disso, já que certamente você não leu nem lerá as regras. Tá. Apenas não reclame depois. O ambiente ali não é nosso, é deles (dos donos).

Apelação

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A Comisión de Arbitraje, Quejas y Deontología de la Federación de Asociaciones de Periodistas de España (Fape), que é a entidade fiscalizadora da atividade da mídia na Espanha, absolveu o jornal La Voz de Galicia da acusação de ferir o código nacional de ética com a capa que você vê acima, que retrata um acidente de trem em junho deste ano e mostra claramente mortos e feridos.

A imagem, não é preciso uma comissão para detectar, é desnecessária e apelativa.

Os crimes nossos de cada dia

Pode perceber: é cada vez mais frequente a divulgação, pelo jornalismo tradicional, de imagens postadas por pessoas em redes sociais. Especialmente pessoas que se envolvem em alguma tragédia humana, como vítimas de homicídio.

Apesar da visibilidade pública na rede, certamente essas fotos e vídeos não podem ser apropriadas por ninguém. Ou seja: claramente aqui há uma violação de direitos.

Já há, em alguns tribunais brasileiros, processos que questionam precisamente isso, o festival de uso indevido (pelo jornalismo formal, repito) de fotos de mortos e seus assassinos (estes, pela tênue questão do interesse público, ainda são questionáveis).

É um pouco como o entendimento (equivocado) de que vídeos publicados no YouTube são públicos e podem ser reproduzidos a bel-prazer. Nada mais errado.

Nessa seara da ética e da legislação digital, ainda temos um longo caminho a percorrer.

Jornalistas-espiões também nos deixam nus

A descoberta de que jornalistas da Bloomberg espionavam os clientes de terminais de dados (responsáveis por 85% do faturamento da empresa) em busca de pistas de negócios é grave, ainda mais em se tratando da companhia cujo manual de estilo é considerado a Bíblia da ética jornalística.

No entanto, trata-se da ponta do iceberg do uso de dados (os meus, os seus, os nossos) pelo mundo corporativo.

Coisas muito sérias estão acontecendo e, ao virem à tona, talvez possam minimizar o ímpeto com que somos desnudados todos os dias ao acessar a rede.

Qual o crime da opinião?

Um editor geral de um periódico pode ter coluna de opinião no veículo ou isso, de alguma forma, constitui alguma agressão à ética jornalística?

O consultório ético da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI) responde.

Como Javier Restrepo, não encontro nenhum impedimento ou crise existencial na questão. A opinião, desde que formulada em espaços devidamente identificados para tal, é salutar e necessária ao exercício do bom jornalismo.

Ética jornalística ao vivo

Repórter de TV atrapalha socorro à vítima de acidente e ainda ouve ‘vai estudar’ do entrevistado.

Foi um dos textos mais lidos de 2012 no Webmanario.

O sucesso da autorregulamentação da mídia na Escandinávia

Num país em que se pretende utilizar a regulamentação da mídia como clara forma de censura (o tal “controle social” nada mais é do que garantir que a agenda do governo seja contemplada pelos meios de comunicação), é até ridículo tratar do case de sucesso da Escandinávia, onde a autorregulamentação, bem-feita, venceu.

É o que mostra interessante raio-x do Columbia Journalism Review sobre os conselhos expressos de mídia, modelo existente em Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.

Lá, as reclamações do público são deliberadas de forma expressa por grupos independentes cujas decisões são, via de regra, acatadas de imediato.

Aula gratuita de ética jornalística

É por essas e por outras que recomendo às pessoas: não deem entrevistas, você não sabe diante de que tipo de profissional estará. No Tocantins, um repórter açodado foi advertido severamente pelo entrevistado. “Vá estudar”. Merecido, e que sirva de reflexão antes de atrapalharmos as pessoas.