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Fake news e jornalismo colaborativo

De repente, o mundo descobriu que estamos todos em perigo de extinção por causa da disseminação de notícias falsas – apenas mais um dos efeitos colaterais do avanço tecnológico e da possibilidade de qualquer pessoa ser um publicador. Nossos filhos correm sério risco de vida e a própria democracia, como a conhecemos, será destruída.

Quer dizer então que nunca houve distribuição de informações inverídicas até o advento das redes sociais?

Faz-me rir. Isso aconteceu desde sempre, dos rabiscos nas cavernas à oralidade, chegando à imprensa propriamente dita (ofício aliás criado para defender interesses muitas vezes com base em argumentos tortuosos e pouco afeitos à verdade).

Seres humanos mentem o tempo todo, distorcendo a realidade de acordo com seuus interesses. No caso específico das fake news de nosso tempo, o chequinho em dólares por clique pago pelo Google basta – mas é óbvio que a manipulação pode atender a propósitos bem menos paroquiais e patrimonialistas. Como ocorreu desde sempre.

A notabilização desse furo no modelo ‘as notícias são para todos’, que provocou furor entre acadêmicos (entre eles, esse que vos fala) e popularizou o conceito de jornalismo colaborativo que Dan Gillmor e Jay Rosen tão bem descreveram há mais de dez anos, não significa que o jornalismo das pessoas está em xeque.

As noticias falsas surgiram muito antes, no âmbito do dito jornalismo profissional. Não é preciso percorrer muitos quilômetros, aliás, para encontrar expoentes dessa vertente em qualquer canto. O tal jornalismo profissional é bonito, mas infelizmente é para poucos.

A utopia do jornalismo colaborativo não se encerra com a epidemia de falsidades distribuídas via novas plataformas. Os seres humanos continuam tendo o direito de relatar/analisar/comentar/distribuir fatos, sejam jornalistas de ofício ou não. A questão é que estes, e já faz tempo, podem ter muito mais alcance do que os players do mercado – justamente os mesmos que, em seu momento, compartilharam suas próprias inverdades.

Aí mora uma outra questão interessante deste debate. Voltarei a ela.

Barrigas

thread

Dirigido por Greg Barker, o documentário The Thread aborda como o registro pessoal do cotidiano – potencializado pela evolução dos dipositivos e da rede celular – e o acesso público a dados concorre (e às vezes supera em audiência e credibilidade) o conteúdo produzido pela mídia formal.

O paradigma aqui é o atentado da Maratona de Boston e o que aconteceu no Reddit, uma rede de fóruns baseados em tópicos criados pelos usuários. Naquele dia, curadores amadores e uma rede de nerds espalhada pelo planeta reuniu informações sobre o ataque e ainda ajudou na caçada aos suspeitos. Mas também teceu milhões de teorias furadas usando frames de pessoas com mochilas e falando a celulares – quase todas negros ou estrangeiros, claro.

O pior é que muitas dessas teses de araque foram reproduzidas pelo jornalismo formal, este também forrado de conjecturas, invasão de privacidade e erros factuais. Tem barriga para todos os gostos neste filme, na verdade.

Nota importante: no Reddit, o anonimato dos usuários é regra (exatamente como quando a web foi criada). Logo, estamos falando de uma curiosa cobertura jornalística absolutamente anônima e sem créditos.

Um momento hilário é o relato de como o BuzzFeed ficou sabendo do atentado. O produto também tem jornalismo e jornalistas, mas em escala tão insignificante que só se deu conta do tamanho do incidente após avisos de usuários. Queriam que o Buzz Feed cobrisse o atentado. E, de certa forma, esse momento acabou mudando a percepção do site sobre notícias.

Jornalista cidadão é ameaçado de prisão nos EUA

A polícia de Baltimore ameaçou prender um jornalista cidadão que registrava uma ação de seus oficiais – ironicamente, dias depois de a própria instituição ter divulgado nota em que dizia preservar o trabalho de quem registra fatos por conta própria.

A  National Press Photographers Association (NPPA) protestou formalmente contra a ameaça.

O cara que ajudou a mudar o jornalismo

Você conhece Phillipe Kahn? Muito provavelmente não.

Pois esse cara mudaria o jornalismo como o conhecíamos ao adaptar a câmera fotográfica para telefones móveis, em 1997.

Foi um passo decisivo para impulsionar o jornalismo participativo, que afinal de contas transformaria o nosso modo de entender (e usar) a profissão.

Salve, Kahn!

CNN bomba sua “rede social de notícias”

No quinto aniversário do iReport, seu canal de jornalismo colaborativo, a CNN anunciou mudanças no que chama de “a única rede social de notícias” da web.

Agora, os repórteres-cidadãos têm homes personalizadas que além de catalogar o material que produzem, facilitam o contato.

O iReport é, de fato, a experiência mais bem-sucedida de convívio pro-am que se tem notícia na internet,

Armadilhas da colaboração na rede

Investigação jornalística. É essa receita de Julien Pain para evitar que falsas notícias acabem indo parar nas páginas do Observers, site colaborativo francês.

Chato, mas sempre tem alguém usando o jornalismo participativo para tentar trapacear, seja enviando uma foto não original ou, ainda pior, um relato fraudulento.

No caso de quem trabalha no dia a dia com mídia social, monitorar o que as pessoas estão dizendo na rede pode significar minutos preciosos na antecipação de um acontecimento _desde, claro, que ele seja verídico.

Identificar o autor da informação, contextualizá-la e organizá-la são algumas dicas da Slate francesa para evitar barrigas vindas das redes sociais.

Outro aspecto bacana é o técnico: descobrir informações sobre imagens postadas (e isso não é muito difícil mesmo sem ferramentas pagas) pode, por exemplo, revelar uma data que inviabilizaria a associação com uma determinada notícia.

A terceirização dos comentários em sites

António Granado alerta para texto do Nieman Lab sobre uma novidade: a mídia tradicional começa a experimentar a terceirização da moderação de comentários em seus sites, essa praga quase impossível de administrar e, ao mesmo tempo, fundamental para aprimorar a conversação e participação do público.

Uma empresa canadense já faz o serviço, que garante ser “personalizado”.

Clay Shirky: ‘Mesmo sem dinheiro, estamos na época de ouro do jornalismo’

Ainda tratado como “guru” (o que é um despropósito, trata-se de um pesquisador), Clay Shirky falou esta semana em Paris sobre as mudanças que a tecnologia impõe ao comportamento humano.

Para quem ainda não o conhece, Shirky escreveu dois livros importantíssimos sobre o tema (Here Comes Everybody e Cognitive Surplus, ambos sem tradução em português).

No que nos diz respeito, o jornalismo, Shirky sai do lugar comum: diz que a profissão vive seu melhor momento “ainda que não haja dinheiro”.

Para ler, guardar a refletir.

Lições de quem entende o jornalismo como um diálogo

Arianna Huffington consegue reunir algumas das coisas que eu considero mais importantes quando tratamos de internet e jornalismo.

Em 2005, misturou blog e site para criar o seu Huffington Post, usando ainda o conceito de blogueiros convidados (e, mais importante, não jornalistas).

Ela foi ainda uma das entusiastas da participação do público no relato/análise de acontecimentos, tornando um case o projeto Off the Bus, que cobriu a eleição americana com cerca de 13 mil voluntários (e a supervisão de Jay Rosen, professor da Universidade de Nova York que conhece o assunto como poucos).

Em visita ao Brasil, Arianna falou com gente de internet e, na Folha, deu entrevista e se reuniu com a Redação.

Vale a pena ler tudo isso e refletir sobre esse momento da profissão. Afinal, 2011 está logo ali.

Um insight sobre o Wikileaks

Jeff Jarvis, professor da Universidade de Nova York (onde estão boas cabeças a refletir sobre as mudanças introduzidas pela tecnologia no jornalismo, como Jay Rosen e Clay Shirky) tem um insight sobre o fator Wikileaks, o projeto colaborativo na internet que tem como objetivo divulgar documentos confidenciais particulamente constrangedores ao governo americano.

“Quando os governos perceberem que os agora os cidadãos podem vigiá-los melhor do que são vigiados, veremos a transparência dissuadir atores ruins e ações condenáveis”.

Há uma revolução em curso, patrocinada pela tecnologia: o acesso de pessoas comuns às armas antes reservadas aos poderosos.

Difundir informação é uma das mais devastadores para efetivamente “mudar o sistema”, como se dizia no meu tempo.