O caso do falso atrasado do Enem me fez lembrar de diversas outras oportunidades em que a mídia foi manipulada por quem sabe bem que, para ser retratado por ela, basta contar uma história. Qualquer história.
Ryan Holiday, por exemplo, é um mentiroso contumaz que pregou peça atrás de peça no jornalismo nosso de cada dia. Na França, estudantes criaram uma cabeluda história de prostituição para bancar a faculdade – era tudo balela, mas a imprensa “repercutiu”.
E há ainda o sofisticado “O Abraço Corporativo”, em que um falso consultor de RH dá dicas absurdas sobre como o afeto incrementa a produtividade das empresas – e ganha um amplo espaço na mídia, novamente contemplativa.
Em 1996, quando do acidente da TAM em Congonhas, um rapaz choroso foi ao local do acidente e cavou seu espaço no noticiário ao dizer que tinha acabado de perder três amigos naquele voo. Deus seus nomes, chorou. Aqueles nomes não estavam na lista de passageiros – o sempre diligente Micael Silva encontrou uma entrevista do cidadão contando essa lorota.
O melhor de tudo isso: quando revelados, os embustes fazem os jornalistas recorrerem a uma série de explicações. Não precisa: nada pode ser mais babaca do que dar voz a atrasados do vestibular e a um consultor tresloucado.