Arquivo do mês: setembro 2009

A segunda queda de Dan Rather

Dan Rather, último âncora clássico da TV e primeiro jornalista a ser desmascarado pelo poder da publicação pessoal e da mobilização na internet, perdeu em primeira instância a causa milionária que movia contra seu empregador por mais de 50 anos, a rede CBS. Vai recorrer.

Ele é a pessoa por trás da reportagem de 2004, que dava conta de uma gazeteada do então garotão George Walker Bush no serviço militar. A matéria tinha por base memorandos de um superior do menino Bush condenando e, ao mesmo tempo, compreendendo a maracutaia.

Internautas comprovaram que os documentos, batidos a máquina, eram incompatível com os espaçamentos e entrelinhas existentes na época da suposta dispensa do exército do ex-presidente _que, daquela forma, se viu livre de combater no Vietnã.

Rather caiu em desgraça, ganhou um cargo figurativo como repórter investigativo que não tinha pautas e acabou se demitindo em 2006. À Justiça, pediu US$ 70 milhões de indenização da CBS por danos morais.

“Objetivamente, o caso acabou”, festejou Louis J. Briskman, o “advogado-geral” da emissora americana.

Rather já tinha acabado faz tempo.

De novo, a coceira de fazer newsgaming

newsgaming_volks

A publicidade também se apropria da linguagem dos games para transmitir sua mensagem. Esse joguinho bancado pela Volks é um belo exemplo.

E pensar que deixamos passar essas oportunidades diariamente no jornalismo, que poderia produzir peças de newsgaming (advergaming em publicitês) como complemento luxuoso para o noticiário.

Chegaremos lá?

(via Advertido)

ATUALIZAÇÃO: um exemplo de newsgaming feito pela Wired contextualizando a ação dos piratas modernos na região da Somália. É disso que estamos falando.

E o R7, heim?

O Brasil ganhou um novo portal de notícias,  o R7, que tem por trás a Rede Record _e, claro, o dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus.

O site, nitidamente, prioriza notícias de entretenimento e parece formulado para o público das classes B e C (mas isso é uma suposição minha, não possuo esta informação).

De resto, fica a sensação de mais do mesmo, ou seja, que o R7 não apresentará nenhuma novidade nem acrescentará algo ao panorama on-line brasileiro. Pouco para algo que foi tratado, pela Record, como uma espécie de descoberta da internet.

Falamos em breve sobre isso.

Aumenta, nos EUA, o número de estudantes de jornalismo

Os patrões encaram a crise, e a profissão tem perdido cada vez mais o glamour.

Então me explica porque o número de estudantes de jornalismo só aumenta, principalmente nos EUA, onde o cenário é de terra arrasada?

A ética jornalística e as filhas góticas de Zapatero

Os casais Obama e Zapatero e as filhas do premiê espanhol, que chocaram pelo visual gótico

Os casais Obama e Zapatero e as filhas do premiê espanhol, que chocaram pelo visual gótico (a foto foi pixelizada para proteger as menores)

É o debate da vez na Espanha: vários meios de comunicação se aproveitaram de um descuido (ou seria do excesso de transparência?) da equipe de comunicação de Barack Obama, que divulgou uma foto em família do mandatário americano e do premiê espanhol, José Luis Zapatero, numa visita ao Metropolitan Museum, em Nova York.

Minutos após enviar a imagem ao mundo, a Casa Branca solicitou aos meios de comunicação que a foto não fosse publicada porque os pais das duas garotas (de 15 e 13 anos) que aparecem no instantâneo queriam proteger sua intimidade. Os pais eram, naturalmente, Zapatero e a mulher, Sonsoles Espinosa.

Imediatamente, a agência EFE (que é espanhola) embargou a cena. Mas, com várias redações já de posse da fotografia, era de se esperar que ela acabasse publicada, o que provocou a ira do líder do governo espanhol.

O pior é que a providência da EFE, dizem na Espanha, só foi tomada após uma ligação de gente ligada ao governo. A Agência nega, dizendo-se cumpridora da Lei do Menor _apesar de, no mesmo dia, ter distribuído uma foto de Louis Sarkozy, de 12 anos, filho do presidente francês.

A censura aliada à novidade (as meninas tinham sido fotografadas uma única vez, em 2004), mas principalmente o visual das garotas (gótico e, digamos, fora de moda), suscitou chacota e, claro, fotomontagens e outros gracejos. Prato cheio para a internet e seu poder de comunicação instantâneo.

É um caso que tem uma série de ângulos. O jornalismo avançou o sinal? É justo, do ponto de vista jornalístico, sustentar este tipo de acordo com personalidades? Até que ponto uma pessoa pública consegue proteger seus familiares desse tipo de assédio? Não teria sido mais fácil não levar as filhas a um evento que, naturalmente, seria fartamente fotografado? Respostas difíceis de dar, mas bem bacanas de discutir.

Socorro, frente parlamentar defende volta do diploma de jornalismo

Estou me perguntando aqui qual a contrapartida que 184 deputados e 12 senadores receberão por compor a tal frente parlamentar em defesa da exigência do diploma de jornalismo para o registro profissional.

Pior, o grupo diz ter a capacidade de propor uma “lei de transição” entre o vazio com a acertada decisão do STF (o ruim é o vazio, a imprensa sem lei) e o modelo que desejam impor, o da volta da reserva de mercado, do pedaço de papel como passe para exercer a profissão _um curral inaceitável.

Tem gente de todos os partidos na jogada, o que é excelente (economiza saliva em qualquer discussão de botequim).

A universidade, enfim, deu um passo adiante e sugeriu mudanças efetivas nos cursos de graduação e posteriores. Afinal, caiu o diploma, não a profissão e, menos ainda, a formação.

Deixemos deputados e senadores pra lá.

Sem rumo, jornais dão de graça o que poderiam cobrar

Olha só como os jornais singram sem rumo: o ABC, um dos maiores periódicos da Espanha, acaba de colocar no ar uma hemeroteca digitalizada com todas as edições de seus 118 anos.

É o típico produto que pode ser cobrado na web, um plus que os usuários interessados pagam felizes da vida.

Leia também: Só 5% do público aceita pagar por conteúdo na internet

Recomenda-se apenas uma edição temática para reunir, num mesmo pacote, matérias relacionadas (exemplo: a cobertura da Guerra Civil Espanhola, ou 100 textos de um determinado articulista notório etc).

Mas não: o trabalho brutal de digitalizar tudo, algo inimitável e que pertence apenas ao ABC, está aí, disponível de graça. Enquanto isso, o jornal quer cobrar por hard news, que todo mundo tem.

Vai entender.

Conteúdo pago: crônica de uma morte anunciada

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Como se aproxima rapidamente a hora em que alguns dos principais jornais do mundo voltarão a cobrar por conteúdo (não deve passar do início do ano que vem, num movimento que inclusive pode ser considerado cartelização e, posteriormente, vetado), chega em boa hora pesquisa do site Paid Content que, como o nome diz, defende o tiro no pé e o suicídio de se cobrar por aquilo que há anos é de graça e, mais, que se pode encontrar em qualquer lugar na internet.

Mas enfim, o site perguntou o que as pessoas fariam se, de repente, a página de notícias preferida delas passasse a cobrar por conteúdo.

Bem, as respostas estão no quadro acima. Destaco que só 5% aceitariam pagar assim, na boa. E olha que esse levantamento foi feito na Grã-Bretanha. Aposto que, fosse no Brasil, a adesão ao conteúdo pago seria ainda menor.

 Aproveitando o assunto, vale muito a pena ler (e ouvir, pois o áudio está disponível também) mais um pouco das opiniões de Clay Shirky, professor da Universidade de Nova York, sobre o assunto.

A frase emblemática deste colóquio: “Deixem mil flores para substituir os jornais, mas não criem um paredão pago em torno de um bem público”.

Honduras, o golpe e a desnutrição infantil

Enquanto o mundo assiste, atônito, à disputa pelo poder em Honduras (com direito a um fato novo, o regresso do presidente deposto e agora aboletado na embaixada brasileira), a produtora multimídia Tracy Boyer acaba de concluir o documentário “Honduras and the Hidden Hunger“.

O trabalho trata de um projeto transnacional para amenizar a desnutrição infantil no país da América Central, apontado pelo Banco Mundial como o terceiro mais pobre da região.

Leia mais notícias sobre a situação política em Honduras

Boyer conta que filmava em Honduras quando ocorreu o golpe que depôs Manuel Zelaya e, a partir daí, teve inúmeras dificuldades, principalmente por causa dos apagões frequentes e duradouros de energia, que comprometeram a autonomia de seus equipamentos de filmagem.

Isso sem contar as dificuldades naturais de um trabalho que envolve o registro de sofrimento, dor e angústia. Muito pesado.

A reportagem multimídia, nota-se, não tem a apresentação glamourosa de outros trabalhos do gênero (e, também diferentemente deles, valoriza o texto). Tem problemas de edição, design, áudio e programação.

Mas serve para a gente lembrar que sempre há um povo por trás de disputas políticas.

Ponto pra gente: ‘os jornalistas tinham de ser atirados no meio do rio’, diz funcionário público flagrado em delito

“Nós somos a mosca na sopa” já dizíamos tantos jornalistas muito antes da campanha publicitária da Folha. Por motivos óbvios, eu parei.

Mas como é bom ver a reação dos que tiveram a sopa estragada por nossa vigilância. Hugo Jenefes, conselheiro do tribunal de contas da província argentina do Chaco, perdeu a compostura diante de matéria dando conta que permitiu, ao arrepio da lei, o funcionamento de uma creche estatal.

“Tem que fazer como dizia o general Juan Domingo Perón: ou todos os jornalistas são funcionários do estado, ou que sejam postos numa canoa e atirados no meio do rio”, disse Jenefes. Que depois contemporizou. “Venho de uma família de jornalistas e tenho vários amigos jornalistas. Jamais diria que é necessário matá-los”.

Mais uma sopa quentinha e gostosa jogada no lixo. Ponto pra gente.