Arquivo do mês: março 2008

Um dia sem Google. Você consegue?

Dia sem Google

É amanhã: o Read Write Web convida os internautas a utilizarem outras máquinas de busca durante todo o dia 1º de abril. Você consegue?

Falamos disso num post antigo. O problema é a falta de opções (ou opções deficientes).

Debateremos o assunto em breve. Um motivo bem jornalístico, além da óbvia fonte de pesquisa que as máquinas de busca são para a gente: hoje, o usuário chega às notícias basicamente por meio de sistemas de busca. Ou seja, a home page está com os dias contados.

Aliás, cuidado com o Google neste 1º de abril. No dia da mentira, a empresa tradicionalmente divulga, como se fossem sérios, falsos avanços tecnológicos. Atenção com eles, como a busca do futuro.

A morte do escudeiro maltrapilho

Falamos deles outro dia, quando abordamos a representação do jornalista no cinema, e ontem morreu Dith Pran, fotógrafo cambojano que era o protótipo do escudeiro leal, maltrapilho e disposto a morrer para ajudar seu parceiro jornalista. Um personagem que virou clichê nos filmes dos anos 80, mas que neste caso era verdadeiro.

Pran foi tradutor e faz-tudo do jornalista do The New York Times Sydney Schamberg, enviado ao Cambodja em 1975 para cobrir o golpe que colocou no poder o marxista sanguinário Pol Pot. Como conhecia os atalhos, Pran levou o repórter americano a locais onde se acumulavam caveiras e corpos (como mostra este documentário).

Impedido de deixar o país (só Schamberg pôde sair do Cambodja, e lamentou para o resto da vida ter deixado o amigo para trás), Pran foi preso e torturado por quatro anos, até que se conseguiu passar por um iletrado camponês (o regime de Pol Pot matava as pessoas que pareciam esclarecidas) e fugiu para os EUA, onde acabou contratado pelo NYT e criou uma fundação para ajudar as famílias das vítimas do genocídio.

Da cama do hospital, onde lutava contra o câncer, Pran deu uma entrevista ao NYT poucos dias antes de morrer.

É uma coincidência, já que na quarta passada, e também de câncer, morria Philip Jones Griffiths, fotógrafo que teve papel importante na Guerra do Vietnã.

Não clique, pode lhe provocar convulsões

Furaço da Wired: num fórum de discussão de site sobre epilepsia foram postadas mensagens em linguagem Java capazes de provocar dores de cabeça e até mesmo crises da doença. Uma irresponsável crueldade. Porém altamente humana e facilitada pelas benesses da “bendita tecnologia”, como eu já apelidei.

A reportagem conta que centenas de imagens com GIFs animados foram colocadas no fórum e relata o drama de pelo menos uma pessoa afetada pelo ataque, provavelmente o primeiro da história com conseqüências físicas em usuários da web.

A Wired estima em 50 milhões o número de epiléticos no mundo e diz que cerca de 3% deles estão sujeitos a reações a estímulos visuais como flashes coloridos.

Lembrei do Caso Pokemón, mas até onde se sabe o que ocorreu daquela vez não foi deliberado e, graças a ele, descobriu-se mais sobre o poder de imagens frenéticas emitidas por telas.

Estarrecedor.

Fotos que mudaram o mundo

O Horror da Guerra 1

Rolou na quarta, mas só fiquei sabendo hoje: morreu Philip Jones Griffiths, aos 72 anos, de câncer. Lambe-lambes de luto.

Também, o cara foi “o” fotógrafo. Sua cobertura da Guerra do Vietnã para a agência Magnum ajudou a mudar os rumos do conflito quando expôs na cara dos americanos as atrocidades que estavam sendo cometidas do outro lado do mundo.

Mas a minha imagem predileta do conflito vietnamita no qual os EUA meteram indevidamente o bedelho é essa aí de baixo, feita por Eddie Adams para a AP. Há um documentário em que ele conta o horror da execução (com direito à cena completa, que também foi filmada) a sangue frio perpetrada pelo chefe da Polícia Nacional do Vietnã do Sul, Nguyen Ngoc Loan.

O Horror da Guerra 2

Presenciei uma notícia. E agora?

A interação ainda é tratada como um aspecto menor pelos grandes portais de Internet brasileiros. Hoje, a participação do usuário é oferecida quase como se fosse um doce, um agrado. Está lá nos sites apenas porque é bonito e _alguém disse em algum momento_ que é preciso ter.

A interação não é o futuro, é o presente da Internet. E há quem defenda que nem sequer ocorra interação: simplesmente que todo o conteúdo noticioso seja produzido pelo internauta. Falarei disso mais para adiante. Há prós e contras e vale a pena escrever um livro para abordar tudo. Por ora, defendo a mediação (a coexistência pro-am, entre profissionais e amadores).

A questão hoje aqui é o que é possível fazer quando presenciamos uma notícia? Telefones celulares com câmera e gravadores digitais (enfim, a bendita tecnologia) deram ao cidadão comum (ou ao candidato a jornalista) a chance de assumir o posto de repórteres onde os repórteres não estão ou comeram bola.

Nesse ponto, o Wikinotícias é uma ferramenta inadequada. Despreparada para a apuração original, a plataforma é útil apenas para a prática de edição de texto (ou seja, reescrever e aprimorar conteúdo já existente). É o que temos feito e continuaremos a fazer.

Vários portais oferecem o doce para você que captou um flagrante. Imagens (fotos, mas especialmente vídeos) são infinitamente mais bem-vindas do que textos. A primeira experiência do gênero (o Foto Repórter do Estadão, lançado em 2005) originalmente convidava os leitores do jornal a tentar publicar um instantâneo nas páginas do impresso (e com remuneração, o que persiste até hoje).

Fosse a data inaugural do projeto, digamos, 18 de março de 2008, certamente solicitariam vídeo _evidentemente, por questões técnicas insuperáveis, a serem encaminhados para a versão on-line da mídia).

Depois vieram as iniciativas de IG (Minha Notícia), Terra (Vc Repórter), Globo (Eu-Repórter) e G1 (Vc no G1), todas bem semelhantes: abertas a qualquer coisa, apenas para provar que a interação existe, que eles gostam de você e que te dão espaço. Ah, e sem a possibilidade de ganhar nada além da satisfação de ver sua “obra” no ar (como se os blogs não resolvessem essa prosaica questão, né?).

A Folha também ensaia abrigar conteúdo produzido pelo usuário, mas ainda não existe um canal permanente (o doce só é dado em ocasiões especiais, como acidentes ou shows/festas populares). Algo do tipo “só enviem quando eu mandar”.

Mas a dica mais importante se você quiser praticar reportagem e publicar num grande portal é: todos esses modelos de colaboração envolvem cadastros, muitos deles exigindo senhas do próprio site em questão (ou seja, mais cadastros e formulários).

Logo, antes de presenciar uma notícia, cadastre-se nos links que eu dei acima. Nada é mais chato do que, na urgência de reportar um fato, se deparar com uma burocrática seqüência de perguntas e cliques quase inúteis. E lembrem-se: jamais ponham dados confidenciais na rede.

A primeira página

Quer ver a capa de hoje de cerca de 500 jornais pelo mundo? Este é apenas um dos recursos que o Newseum tem. Essa aí de baixo é do Yedioth Ahronoth, de Tel-Aviv (Israel). Juro.

Capa do Yedioth Ahronoth, de Tel-Aviv

Cabe tudo na Internet, mas precisa organizar, né?

Multidão ouve jogo do Brasil transmitido pela Rádio Nacional na Copa de 58

Uma coisa insuperável da mídia Internet é que ela comporta absolutamente todas as outras. Costumo dizer que é um “tudo em um”. Nela cabem jornal, revista, livro, TV, rádio…

Só que as coisas precisam ser organizadas. Um exemplo: olhem que bacana a iniciativa da Rádio Nacional-RJ, por ocasião dos festejos dos 50 anos da Copa de 58 (ganha pelo Brasil).

A emissora (que era a TV do Globo da era do rádio, dominando o país de norte a sul como uma superpotência informativa e de entretenimento) disponibilizou áudios, fotos, textos e vídeos com transmissões de jogos daquela seleção brasileira que encantou o mundo.

Agora tentem encontrar as coisas no blog montado especialmente para abrigar o acervo. Tarefa dura: tudo desorganizado. Os áudios (que são o prato principal, afinal estamos falando de uma emissora de rádio) não aparecem com protagonismo e estão perdidos lá no pé da página.

O destaque principal são vídeos que, evidentemente, não foram produzidos pela rádio na época. Basicamente, colagens de filmes oficiais + coisas pescadas nos sites de compartilhamento de vídeos.

Tudo muito legal, confiram. Mas que a bagunça da sala de estar tornou uma baderna quase incompreensível. E, pior, relegou o que tinha de mais legal (as narrações que reuniam milhares de pessoas em torno do rádio, como se vê na imagem lá de cima, tomada na Cinelândia, no Rio).

Há um século, decidiram ensinar jornalismo…

No dia 29 agora (neste sábado, portanto) completam-se 100 anos que dois jornalistas americanos, incentivados financeiramente pelo lendário Joseph Pulitzer, criaram a primeira escola de jornalismo do mundo, na Universidade de Missouri.

E até hoje a discussão persiste: e jornalismo lá se aprende na escola?

Para quem acha e defende que “não” ou “em termos” (como eu _por mais paradoxal que isso possa soar), iniciativas atuais mostram que até quem não deveria está sendo instado a se sentar num banco escolar para aprender como se comporta (ou deveria se comportar) esse estranho ser chamado jornalista.

Travestidas de ação social libertária, tentam ensinar o modus operandi de repórteres e editores a cidadãos comuns interessados em práticas de jornalismo colaborativo.

Ou seja: até quem chegou (o “público antes conhecido como platéia“) para ajustar a madrasta agenda da mídia está sendo devidamente amestrado.

Mas afinal: jornalismo se aprende na escola?

A máquina do tempo, revisitada

Atendendo a pedidos: falei outro dia do bacana Wayback Machine, que nada mais é do que um arquivo de páginas da web. Daí me perguntaram: como funciona?

Explico: vai e coloca, no espaço correspondente, o site ao qual você pretende “voltar no tempo”. Pronto. O arquivo vivo da Internet diz ter hoje mais de 2 bilhões de páginas arquivadas.

A tela aí de baixo, por exemplo, é exatamente a que o portal UOL (o de maior tráfego do Brasil) exibia em 23 de dezembro de 1996…

A home do UOL em dezembro de 1996

Cidadão Kane no Unifai

Nesta sexta (28/3), no período da aula de Edição II, vamos exibir Citizen Kane (com legendas em português). Além de, provavelmente, tratar-se do maior filme já concebido e rodado, é o maior filme sobre jornalismo jamais realizado.

É a história de Charles Forster Kane, fictício magnata da imprensa idealizado por Orson Welles _que negou até a morte ter se inspirado no verdadeiro William Randolph Hearst, este sim magnata de carne e osso.

Difícil dissociar Kane e Hearst: “Rosebud“, por exemplo (nome que permeia a trama), seria o apelido que o ricaço deu à periquita da segunda mulher…