Arquivo do mês: junho 2010

O rei está morto, viva o rei

A notícia de que Larry King, 76 anos, deixará de apresentar seu talk-show na CNN, dada pelo próprio jornalista, movimentou a internet.

É o tipo de anúncio que mexe com a audiência. Afinal, foram 25 anos na mesma hora, no mesmo canal, todos os dias _ao todo, King tem 53 anos de carreira e já conduziu mais de 40 mil entrevistas.

O Mashable registrou bem o buzz de quem, involuntariamente, se converteu em notícia.

E nessa hora do tudo rápido, para ontem e cheio de pirotecnia, é bom pra gente lembrar que credibilidade ainda é a coisa mais importante nessa profissão.

Rolling Stone guardou o furo para o papel _e foi furada por todo mundo

O furo da Rolling Stone com o tresloucado (e agora demitido) general McChrystal exibiu claramente mais uma faceta nefasta da proteção de conteúdo considerado “exclusivo do papel”.

Na terça passada, quando a revista foi às bancas, o único lugar do mundo em que não se podia ler a notícia era o site da Rolling Stone _evidente que todos os outros veículos fizeram corretamente a lição de casa e replicaram seu explosivo teor (detalhe para Time e Politico, antípodas cronológicos da mídia, mas que agiram da mesma forma e publicaram não apenas a notícia, mas o PDF do furaço da RS).

A situação gerou uma discussão sobre roubo de conteúdo na web que meu mestre António Granado analisa, como sempre, de forma sucinta e clara.

Guardar o melhor para o papel, enquanto toda sua concorrência repercute o que você escreveu, tem um só nome: burrice.

O teaser qualificado (ou seja, com vídeos, áudios e mais o que couber na web) é o elo.

Facebook, o filme

Já está circulando o primeiro trailer de “The Social Network”, filme baseado na história de Mark Zuckerberg e, claro, na invenção que o tornou famoso, o Facebook.

O filme, que chega em outubro ao Brasil, é dirigido por David Fincher, autor de sucessos como “Clube da Luta”.

Ainda pouco se sabe do enredo, mas a chamada é provocativa: “Não é possível ganhar 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos”.

O Brainstorm9 foi quem viu primeiro.

Estudo sobre jovens e web é pretexto para vender lições

Entra best-seller, sai best-seller, Don Tapscott continua a escrever para um público que ainda se surpreende com o que a internet fez por nós e também com tudo aquilo que podemos fazer com ela.

Foi assim em “Wikinomics”, talvez o maior sucesso do canadense, palestrante disputado e consultor na área de novas mídias -a obra chegou a 22 países.

É assim em “A Hora da Geração Digital – Como os Jovens Que Cresceram Utilizando a Internet Estão Mudando Tudo, das Empresas ao Governo”.

Originalmente lançado em 2008, o livro é desnecessário: é um pretexto para vender as ideias (e o negócio) de Tapscott, um persistente candidato a guru tecnológico que jamais abandona o tom de autoajuda em seus escritos.

Bem por isso, a obra se dedica a dar conselhos de toda sorte. De métodos para ter uma mente aguçada a dicas para gestores, empreendedores, pais e até governantes.

Desta vez, pelo menos, há trabalho duro por trás: o livro é resultado de uma pesquisa que custou US$ 4 milhões e ouviu mais de 10 mil jovens sobre seu comportamento na internet.

Claro, é tudo muito americano (defeito menos grave do que os quase dois anos que separam o levantamento da chegada ao público brasileiro, uma eternidade em se tratando da web).

Porém o canadense discorre, sempre com a segunda intenção de vender algum tipo de solução fácil (ele é dono da empresa que coordenou a pesquisa), sobre assuntos que outros autores já abordaram de forma definitiva.

REFERÊNCIAS
Como o engajamento político, por exemplo, dissecado em cada palmo pelo sociólogo espanhol Manuel Castells no brilhante tratado “Communication Power” (O Poder da Comunicação, Oxford University Press, 2009).

Ou a força da mobilização e da vigilância do público pela internet (e também a produção colaborativa de conteúdo), objeto de estudo de Clay Shirky, professor da Universidade de Nova York, no indispensável “Here Comes Everybody” (Aí Vem Todo Mundo, Penguin, 2008).

Assim como a inevitável convergência de mídias e produtos, uma necessidade dos tempos da conexão integral, que Henry Jenkins analisa com primor em “A Cultura da Convergência” (Aleph, 2008) -única das três obras citadas que possui tradução para o português.

O novo livro de Tapscott tem, no entanto, o mérito de tentar resumir todos esses assuntos, fundamentais para se compreenderem as mudanças pelas quais o mundo está passando.

Analisar esse contexto de transformação tendo como ponto de partida a geração que já nasceu digital acaba sendo, de fato, uma boa ideia. Mas sem pensar em usá-la para ensinar lições de como proceder diante da avalanche da tecnologia.

Times perde audiência após cobrar por conteúdo

O The Times, jornal publicado em Londres desde 1785 e hoje propriedade do multimilionário Rupert Murdoch, começou a cobrar por conteúdo neste mês.

Pois bem, saíram seus primeiros resultados e, claro, a audiência caiu (o quadro aí em cima não deixa qualquer dúvida). Mais: só 17% dos usuários do site passam pela área de conteúdo restrito.

Um fracasso retumbante que a gente já sabia. Cobrar por notícias que estão em toda parte é tiro no pé.

O que faz um editor de mídia social?

Já falei recentemente sobre o papel do curador de conteúdo na web, função que eu considero indispensável hoje ao jornalismo, e pintou agora uma boa apresentação sobre o cargo de editor de mídias sociais, outra novidade que a imprensa formal não pode mais se dar ao luxo de abrir mão.

Com a palavra, Rafael Sbarai, que desempenha o papel em Veja _o veículo do mainstream nacional que mais seguidores possui nas principais redes sociais, o que evidencia o bom trabalho desenvolvido por lá.

Tudo para se refletir, e muito, sobre os novos papéis dentro das corporações jornalísticas.

A conversação na internet evolui e, com ela, nossa capacidade de monitorar e responder a essas novas necessidades.

A última do link patrocinado, a revanche

Aconteceu de novo _e outra vez no site do jornal O Globo.

Uma matéria que conta uma situação dramática (uma menina que ficou presa numa máquina de lavar roupas) ganha o indesejável acompanhamento de links que vendem o eletrodoméstico.

Problemas do uso de palavras-chave patrocinadas no jornalismo, já abordada aqui. Um erro, não pode.

(A dica é do solerte Everton Maciel).

A guinada do El Pais rumo às redes sociais e à conversação

Alberto Dines descreve, em texto no Observatório da Imprensa, a aposta do espanhol El Pais em redes sociais.

O jornal, que há até bem pouco tempo separava completamente suas equipes em papel e on-line (e dizendo que era o que devia ser feito porque as mídias têm características diferentes), agora acelera a integração.

Mais: se preocupa com a conversação com seu público, uma tecla em que eu tenho batido muito _agora com a oportunidade de testá-la na prática com resultados bem satisfatórios.

Sempre gosto de lembrar que o El Pais é praticamente um garoto entre os jornais relevantes do planeta (tem só 34 anos).

E o jornalismo encosta na literatura

Falei sobre jornalismo literário esta semana na Faap e passagens das vidas de Truman Capote e Hunter S. Thompson foram bastante comentadas. Inevitável lembrar dos filmes que retratam parte de suas vidas.

Ah, o resumo da conversa: apesar das literatices, o gênero foi uma importante contribuição para o jornalismo moderno. E sua vertente gonzo, o ápice de porralouquice do ofício.

O Dunga está certo

“Eu apanho, me batem de manhã, de tarde e de noite, é um direito de cada um, mas quando eu respondo, me criticam. Quem bate em mim é divertido, alegre, e eu, quando respondo, sou rancoroso”.

Olha aqui, a última coisa que eu queria era entrar numa discussão que tem Dunga e a Copa do Mundo como protagonistas.

O Mundial de futebol é aquele momento nefasto em que uma maioria de ignorantes em bola saltita, assopra cornetas e tenta compreender a diferença entre expulsão e arremesso lateral. É insuportável, e me faz reviver a cada quatro anos o desejo de ter nascido finlandês.

O comportamento da ‘emprensa’ nessas ocasiões é ainda pior, mas reflete um pouco do pensamento que persiste entre a categoria, o que é lamentável. Nós, jornalistas, ainda não percebemos que não somos mais o poder mediador.

Aliás, mesmo antes, na época do monopólio, jamais acreditei que havia explicação para sermos tratados com deferência especial.

O jornalista faz seu trabalho, como os profissionais da área que cobre, e não há lei que obrigue que os dois lados sejam amigos. Pelo contrário, uma boa dose de eletricidade na relação é sempre bem-vinda.

Daí que avaliar a performance de Dunga passou a ser mais importante do que ele explica sobre o desempenho de seu time. E aí a ‘emprensa’ comete seu erro mais grave.

A Globo editorializou, na voz de Tadeu Schmidt, o veto ao comportamento do técnico. De novo a imprensa clama por deferência no tratamento das fontes.

Agora me explica o porquê.

“Tava bom pra mim esse jogo, nesse jogo eu podia ter feito falta à vontade, o juiz ia me dar os parabéns”.