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Agências de notícias, um raio x

Praticamente 30 anos depois do primeiro trabalho do gênero, a academia brasileira volta a se debruçar sobre o tem em “Agências de Notícias: perspectivas contemporâneas brasileiras”, e-book que já está a disposição para download (ele não é gratuito: em troca exige acesso a informações pessoais de seu perfil no Google e um longo cadastro).

A coletânea reúne artigos de oito autores que pretende traçar uma linha do tempo que vai da estruturação desse tipo de empreendimento jornalístico até o momento atual, no qual pontuam no cenário experiências alternativas (e enviesadas) que de toda forma oxigenaram o formato surgido muito antes da crise do jornalismo tradicional – paradoxalmente, justamente para conter custos e que teve como efeito colateral maligno a pasteurização do conteúdo midiático.

Aprisionados

Há alguns problemas com relação ao Instant Articles, programa pelo qual o Facebook colocou pra dentro da plataforma nove importantes players produtores de conteúdo jornalístico, dando sequência ao seu malévolo plano de se transformar no único site que os usuários da rede deverão acessar – hoje, mais de 90% das pessoas que têm acesso à internet já passam por ali diariamente.

O conflito mais grave é ético: sendo o Facebook um ambiente que censura conteúdo, como produtos jornalísticos podem considerar fazer acordo com Zuckerberg – a troco de 30% de tudo o que for vendido em publicidade em cada artigo?

A questão de fundo, e a que considero mais importante, é filosófica: precisamos mesmo estar dentro do Facebook, sob seu controle?

E o iTunes de notícias avança

Lembram que em novembro eu caçoei do Blendle, o “iTunes de notícias” holandês?

Pois agora o trio NYT, Washington Post e The Wall Street Journal aderiu ao projeto, vendendo reportagens a 20 centavos de dólar – o NYT, inclusive, é investidor do projeto.

Continuamos de olho.

A publicidade, o jornalismo e Cuba

cuba_palacio

Tenho uma relação muito especial com Cuba – é um dos lugares onde mais aprendi com as pessoas. A notícia de que o isolamento imposto pelos EUA pode estar chegando perto do fim me traz de novo a sensação que tive desde a primeira vez que coloquei meus pés na ilha. Ela irá precisar de tudo durante e após a transição, inclusive de comunicação e jornalismo.

Minha amiga Flavia Marreiro, a brasileira que melhor conhece Cuba, escreveu um artigo bastante interessante sobre o assunto. Enquanto no mundo todo o modelo de jornalismo sustentado pela publicidade está em xeque, ele jogará um papel crucial na redemocratização cubana – onde a publicidade privada é proibida.

Vale ler e entender outros desafios que o país têm daqui por diante.

Modelo para o jornalismo digital

Indispensável o trabalho de Caio Túlio Costa que radiografa o estado do jornalismo na intenção de propor soluções viáveis para sua existência rentável.

Realizado em Columbia, o estudo coloca claramente a necessidade de à operação jornalística habitual serem acrescentados novos serviços.

A pesquisa analisa bem a influência das redes sociais na distribuição de conteúdo (inclusive a nefasta influência do algoritmo). A conclusão é aquela sobre a qual falamos desde 2007 – não há para onde correr, é preciso conversar e interagir com seu público.

Importante, ainda, a ausência de preconceito com que foi tratada a gama de serviços adicionais passíveis de cobrança – em boa medida uma releitura dos classificados focados em resolver os problemas das pessoas concretamente, não apenas torná-los públicos.

Jornalismo financiado sofre mas está otimista nos EUA

Os números ainda são ruins, mas jornalistas que trabalham em startups voltadas para a comunicação nos EUA estão otimistas com o que pode acontecer nos próximos meses – é o que mostra pesquisa do Pew.

Das 172 instituições ouvidas, nunca é demais lembrar que duas já ganharam o Pulitzer. E, importante, que praticamente todas ainda estão em busca de um modelo de negócios sustentável.

 

A economia dos aplicativos

A web ainda não acabou, como previu Chris Anderson, mas é inegável que a navegação está migrando – muito graças aos dispositivos móveis.

Meu amigo (todo corintiano é meu amigo) Carlos Merigo recebeu Cris Dias, Saulo Mileti, Alexandre Maron e Leonardo Dias para discutir a economia dos aplicativos.

A conversa, de cerca de uma hora e meia, é bastante interessante e com insights legais. Desmistifica, por exemplo, o grosso dos aplicativos que, na verdade, são apenas uma casca com uma releitura de html (ou seja, a boa e velha web).

Ah, uma bela dica de busca dada no podcast para se descobrir aplicativos novos e criativos “top dez aplicativos para…” ou “top ten apps”. Pergunte ao Google e seja feliz.

Hoje, dos dez aplicativos mais baixados, nove são jogos. Isso dá um indicativo claro de para onde está caminhando a plataforma que, quis a Wired, substituiria a web (sobre isso, aliás, Michel Lent fez uma boa apresentação recentemente).

Como sempre, calma lá.

O artífice do paredão pago

Bill Keller não desiste. Em entrevista à Folha de S.Paulo, um dos artífices do paredão de conteúdo pago do NYTimes _que tem, entre seus diferenciais, entrada aberta via mecanismos de busca e redes sociais_ faz a comparação errada entre o modelo do iTunes para vender música e a possibilidade de cobrar por material jornalístico generalista.

Música, relembremos, não é perecível e via de regra é executada centenas de vezes pelo comprador _que lê uma única vez o noticiário do dia (e só naquele dia) em muitos lugares disponíveis.

Feito o parêntesis, em boa medida a ideia de Keller tem prosperado (como falei outro dia aqui). É uma ótima notícia para o jornalismo que tenta desesperafdamente se tornar sustentável em outras plataformas que não papel, TV e rádio.

O Facebook dá, o Google toma

Um pequeno recorte da realidade mostra que o Facebook não é apenas uma máquina de oportunidades para si próprio: estudo da Universidade de Maryland aponta que apenas o mercado de aplicativos para o site de Mark Zuckerberg gera cerca de 200 mil empregos diretos nos EUA.

Enquanto isso, o Google é acusado de favorecer seus produtos no fantástico mecanismo de busca que criou (e que responde por cerca de 90% das pesquisas no mundo).

 

Primeiro na web, depois impresso

Artigo de Alysia Santo na Columbia Journalism Review analisa uma faceta interessante do modelo de negócios adotado por alguns projetos nascidos na web e que, posteriormente, criaram um braço impresso como estratégia de mercado.

Os motivos são basicamente três: cobrar mais dos anunciantes, reforçar a marca em pontos de venda e ganhar mais credibilidade.

Este último, ainda o maior ativo do jornalismo em papel.