Arquivo do mês: abril 2014

Senna e os punks

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Onde você estava há 20 anos, durante o funeral de Ayrton Senna? Eu estava na Assembleia Legislativa de São Paulo, na época como repórter do Diário do Grande ABC, jornal no qual seria editor de esportes por longos cinco anos – até 2000, para ser preciso.

Virei a noite daquele 4 para 5 de maio conversando com algumas das milhares de pessoas que se aglomeraram numa longa fila na última homenagem ao piloto, morto três dias antes num acidente em Ímola. “Entreguei” a cobertura 20 horas depois, na porta do cemitério Morumbi, após acompanhar o cortejo. Não havia jornalismo on-line nem celular: tudo o que havia a fazer era conversar e observar, observar e conversar. Passar informações, só bem depois. Velhos e desconectados tempos…

Daquela multidão, nunca me esqueci da quantidade de punks, carecas, skinheads, white powers, o que fosse, vários deles, devidamente caracterizados e carregando bandeiras e adereços relativos ao Brasil. Vários chorando, como de resto boa parte dos que se dispuseram a se deslocar até ali. Sustentavam (os punks) em seu discurso o suposto nacionalismo de Senna, que bastava para conduzi-lo ao panteão de seus heróis. Uma bandeira no pódio e pronto, não era preciso nem gostar de automobilismo: havia algo a ser exaltado.

Um ângulo bastante inusitado daquela cobertura. Seguramente foram as pessoas que mais me surpreenderam encontrar naquela noite que parecia nunca terminar.

Uma pauta diferente

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Sempre apontamos para a mesmice das pautas, um dos fatores que também colaboram com a destruição do jornalismo, mas de repente a revista Autoesporte aparece levando a Interlagos (algo que nem o próprio piloto fez) os dois carros que Ayrton Senna possuía no Brasil ao morrer, um Honda NSX e um Audi S4 Avant (o primeiro veículo exportado ao país pela marca). Preciosidades com menos de cinco mil quilômetros rodados mantidas pela família.

Belíssima história pra contar.

A voz do Brasil

Entidades patronais estão aproveitando a proximidade da Copa do Mundo para tentar pressionar o Congresso a votar projeto que flexibiliza a difusão do programa “A Voz do Brasil“, que consiste num resumo chapa-branca das atividades dos três poderes e existe há mais de 70 anos.

A campanha “A voz que eu quero ouvir” usa como chamariz o fato de que um terço dos jogos do Mundial de futebol serão às 19h, horário em que boa parte das emissoras de rádio suspende sua programação normal para entrar em cadeia.

Hoje em dia, só há duas maneiras de não transmitir a “Voz” às 19h: provar que, em vez do programa, a rádio presta serviço de utilidade pública (como informações sobre o trânsito) ou pagar um punição pecuniária e leva-lo ao ar até as 23h59 do mesmo dia.

Tradicionalmente, campanhas de coleta de assinaturas fracassam porque o tempo necessário é sempre subcalculado – mas isso vale para projetos de iniciativa popular. Neste caso, e para valer durante a Copa, ela precisaria ser votado até meados de maio, pois já está no Congresso.

Duplo prêmio

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Ganhador do Pulitzer de 2013 pela imagem acima, o fotógrafo Tyler Hicks conquistou outro prêmio dias depois, quando a protagonista da imagem entrou em contato com ele e contou em detalhes como se virou durante a invasão de um shopping no Quênia.

Menos é mais

O cartum animado acima, obra de Guga Schultze, é a tradução mais simples do que significa estar na internet – e usar os recursos que ela permite. É um exemplo bem raso do que podemos considerar nova mídia. Se estivesse em papel, a garotinha não pularia corda, apenas pareceria estar pulando.

Detalhe: esse GIF é de 2007

A publicidade on-line sobe

Cresceu 22%, de 2012 para 2013, o investimento do governo federal em publicidade na web. Ainda assim, a plataforma fecha a lista de mídias preferenciais para a comunicação da administração Dilma Rousseff – a TV ficou com 65%, seguida de rádio (7,6%), jornal (7%), revista (6,3%) e web (6%).

Como se trata do quarto maio anunciante do país (atrás de Unilever, Casas Bahia e Laboratório Genomma), o dado é expressivo e pode sginificar uma tendência de a publicidade on-line, enfim, deixar o final da fila.

O mito do comércio on-line

Existem muitos mitos sobre a vida (pessoal e comercial) na web, mas provavelmente o mais forte deles atualmente diz respeito ao comércio on-line, um negócio que não para de crescer no Brasil e que já recebeu, em quatro anos, investimentos de mais de R$ 2 bilhões, quadruplicando de tamanho.

Isso significa que você está marcando touca porque ainda não oferece produtos e serviços na rede? Não necessariamente: o negócio pode ser imenso, mas os prejuízos também.

Nenhum operador brasileiro trabalha no azul, e gigantes da rede como a Dafiti (a Casas Bahia da internet, ou seja, seu maior anunciante) investem rios de dinheiro em marketing para atingir a única condição que pode fazer, um dia, o negócio valer a pena: a escala. Ou seja, é preciso ser muito, mas muito mesmo, grande. Grande, aliás, é pouco.

Histórias bonitas como as da Amazon, que se transformou numa imensa operação de logística à custa de severas restrições a direitos trabalhistas básicos, são construídas literalmente com muito suor e sangue.

Na rede, definitivamente, nem tudo é o que parece.

A inovação feminina

A Columbia Journalism Review colecionou 16 casos interessantes de projetos de comunicação tocados por mulheres e com foco em inovação. Olho nelas!

Nizan: ‘Quem não muda com o tempo são os malucos’

A Meio&Mensagem convocou um time de personalidades para entrevistar Nizan Guanaes, alguém cada vez mais indispensável no cenário de transformação da comunicação. Imperdível.

A hashtagzação de tudo

Há algumas semanas comentei sobre os riscos de uma campanha tentar impor, ainda mais num negócio tão nebuloso e inoperante como a telefonia celular, uma palavra de ordem positiva. Pois bem, esse assunto puxa outro: a “hashtagzação” da comunicação.

Por algum motivo, entendeu-se que o uso de uma hashtag (criação dos usuários do Twitter em 2007, veja bem) é algo moderno. A publicidade está cheia de exemplos. Alguns, como este, com vários tiros pela culatra já que hoje o controle é do público e não somos mais capazes de fazê-lo reproduzir o que desejamos.

Na comunicação política a hashtag também está presente. Que o digam Eduardo Campos e Marina Silvam cuja conversa levada ao ar recentemente foi permeada por expressões começadas pelo “jogo da velha”.

A grande pergunta que fica: qual a eficácia comunicativa disso? Voltarei ao assunto.