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Como usar a bolha do Facebook a seu favor

Muito já se falou (inclusive aqui) sobre a circulação de notícias falsas nas redes sociais e até que ponto elas podem ter beneficiado o republicano Donald Trump, enfim eleito presidente dos Estados Unidos. Agora vale a pena tentar entender um pouco também o lado do bem – que tipo de estratégia digital colaborou para o triunfo de Trump?

A mais importante delas é ultraóbvia: se o Facebook é uma bolha que faz com que seus conteúdos dificilmente atinjam grupos fora da turma de apoiadores, qual a melhor maneira de otimizar essa característica do que pensar na rede quase que exclusivamente como um canal para amealhar doações?

Pois foi isso que Brad Parscale, estrategista digital da campanha, imaginou. Usou os US$ 90 milhões dedicados por Trump para essa rubrica em busca de contribuições – e portanto usando o digital como ferramenta, não apenas como plataforma. Cerca de US$ 250 milhões chegaram à campanha por essa via.

“Ganhamos a eleição por causa do Facebook e do Twitter. O Twitter por Trump e o Facebook pelas doações”, disse Parscale à Wired, mencionando a incontinência verbal que o republicano demonstrou (e ainda demonstra) no microblog.

Além do uso do Facebook como um canal de publicidade, a estratégia explorou como nunca a incrível capacidade de personalização de anúncios dentro do site – algo ainda proibido nas campanhas eleitorais brasileiras.

Em média, relata Parscale, cerca de 50 mil variações diferentes de uma única peça foram testadas por dia – uso ou não de legendas, imagem estática ou vídeo, idade, gênero e localização do receptor, entre outras diferenças sutis. Os números são difíceis de acreditar até ele te contar que no dia do debate presidencial foram 175 mil possibilidades testadas com os mais variados públicos em anúncios dentro do Facebook.

Enquanto Hillary gastava mais de US$ 200 milhões em comerciais de TV na reta final da campanha, o laboratório de Parscale produzia milhares de opções de conteúdos que recebiam investimento variado no Facebook e toda sorte de configuração de entrega.

É uma história para onde devemos olhar se quisermos entender todos os meandros daquele que muitos consideraram como um resultado surpreendente.

A propósito: até mesmo na face visível do trabalho em mídia social, o engajamento, Trump deu de goleada.

Clarín, 70

Com o mote “o jornal não faz o que quer com você, você é que faz o que quer com o jornal”, o Clarín colocou na rua a campanha que celebra seus 70 anos.

A ofensiva do rádio

Um levantamento da Associação Brasileira de Rádio e TV (Abert) aponta que 99% dos smartphones considerados “econômicos” (entre R$ 300 e R$ 700) já saem de fábrica com a função rádio FM acoplada.

Para tentar sensibilizar os fabricantes dos produtos mais caros (os quais, segundo a entidade, só 62% dispõem da opção), a Abert está lançando a campanha “Smart é ter rádio de graça no celular”.

É um passo interessante na direção certa, a da associação entre mídia e plataforma – o famoso “ir onde o povo está”.

A voz do Brasil

Entidades patronais estão aproveitando a proximidade da Copa do Mundo para tentar pressionar o Congresso a votar projeto que flexibiliza a difusão do programa “A Voz do Brasil“, que consiste num resumo chapa-branca das atividades dos três poderes e existe há mais de 70 anos.

A campanha “A voz que eu quero ouvir” usa como chamariz o fato de que um terço dos jogos do Mundial de futebol serão às 19h, horário em que boa parte das emissoras de rádio suspende sua programação normal para entrar em cadeia.

Hoje em dia, só há duas maneiras de não transmitir a “Voz” às 19h: provar que, em vez do programa, a rádio presta serviço de utilidade pública (como informações sobre o trânsito) ou pagar um punição pecuniária e leva-lo ao ar até as 23h59 do mesmo dia.

Tradicionalmente, campanhas de coleta de assinaturas fracassam porque o tempo necessário é sempre subcalculado – mas isso vale para projetos de iniciativa popular. Neste caso, e para valer durante a Copa, ela precisaria ser votado até meados de maio, pois já está no Congresso.

Como os grandes ficaram pequenos

“The End of Big – How the internet makes David the new Goliath” é mais um livro que analisa a mudança tecnológica que está transformando indústrias como a do jornalismo.

Seu autor, Nico Melle, trabalhou na campanha do democrata Howard Dean à presidência dos EUA em 2004 – essa sim, revolucionária e pioneira no que diz respeito ao uso da internet.

Obama é quem ganhou a fama, mas muito antes dele cara como Melle e Joe Trippi já davam o tom.

Não, o e-mail não morreu

Não, o e-mail não morreu. E as eleições americanas deram outra demonstração disso.

Foi desta maneira que a campanha de Barack Obama conseguiu arrecadar a maior parte dos US$ 690 milhões que o atual presidente dos EUA amealhou na internet.

Comandada por Toby Fallsgraf, a campanha tinha 20 redatores debruçados na tarefa de “fisgar” potenciais doadores por meio de textos que, inicialmente, lhe chamassem a atenção.

Antes disso, testavam os subjects com uma amostragem de seu mailing. E, claro, sempre erravam – é assim a vida on-line – sobre quais teriam mais retorno.

A propósito, o subject campeão de reações (leia-se doações) foi “Eles [os republicanos] vão arrecadar mais”.

A venda de um presidente, uma aula de jornalismo

Quer uma aula de jornalismo e marketing políticos? Então leia The Selling of the President 1968, no qual Joe McGinniss discorre sobre o cinismo e a malandragem da campanha de Nixon em 1968 – aquela em que pelo menos sua turma não invadiu a sede do partido adversário em busca de capivaras.

O lado de dentro das campanhas eleitorais tem muito a ensinar a quem se considera, como nós próprios nos julgamos, defensores da transparência.

E os canetinhas, como ficam?

A UPP (União dos Fotógrafos Profissionais da França) encontrou uma imagem forte para sua campanha de respeito aos direitos autorais.

Não podemos nos esquecer que, ainda assim, o fotógrafo é um privilegiado com relação a seus colegas de caneta, que não têm a assinatura de obras como prerrogativa e muito menos são remunerados por eventuais revendas de seu material – ok, esta última é uma prática cada vez mais em desuso, mas a que só fotógrafos têm acesso.

Podíamos, todos os jornalistas de texto, fazer um esforço para adquirir alguns dos (poucos) direitos a que nossos queridos retratistas (o termo é carinhoso, viu?) já foram contemplados.

A internet e seu peso nas eleições 2010

Há autoelogio, incompreensão, incorreção e, pior, indigência científica nas belas palavras de Caio Tulio Costa na newsletter  Jornalistas&Cia sobre a qual falei na semana passada.

Caio Tulio dispensa apresentações: é um dos pioneiros do jornalismo on-line no Brasil e, antes disso, foi um dos pilares do projeto que levou a Folha de S.Paulo ao posto de principal diário impresso brasileiro, tudo nos anos 90.

Em 2010, coordenou a campanha de Marina Silva (PV) à Presidência, da qual ela saiu eliminada no primeiro turno com mais de 19 milhões de votos.

Desde então, Caio preparou uma apresentação em que sustenta que seu trabalho e o de sua equipe levaram o pleito para o segundo turno, num cenário em que Dilma Rousseff, enfim eleita na rodada final, beirou 47% dos sufrágios no momento do primeiro voto.

Nem as pessoas que trabalharam para eleger Barack Obama se sentem à vontade em dizer que “A internet fez Obama ganhar”, embora o sociólogo espanhol Manuel Castells defenda que, sem a rede, o presidente americano não ganharia.

Lembre-se que o SMS, o torpedo que por aqui é caríssimo e foi pouco utilizado por motivos óbvios, jogou um papel importante na disputa nos EUA.

Logo, ao se refletir sobre o caso brasileiro, sugiro considerar vários ingredientes. O prato principal depende da soma deles e da existência de um bom candidato, claro.

Daí a se ter uma percepção alentada do que houve depende de levantamento científico criterioso.

Caio Tulio, por exemplo, ignora o “jornalismo tradicional”, que flagrou a principal assessora de Dilma (furo de Veja, depois complementado pela Folha), matérias que propiciaram a queda de Erenice Guerra e da própria presidente eleita na reta final da campanha, como mostra uma animação bacana que fizemos relacionando pesquisas e notícias.

“Muito pouca coisa vinda da mídia clássica surpreendeu leitores, telespectadores, ouvintes ou internautas, levando-os a ter de fato uma visão mais consistente de tudo o que estava acontecendo no País, nesse campo, no período eleitoral”, escreve ele.

Ainda que “pouca”, a contribuição do jornalismo impresso foi definitiva. Uma ministra caiu, e o jogo eleitoral se modificou.

Não que a internet não tenha tido sua parcela de contribuição para uma votação que parecia decidida: o debate sobre o aborto _o momento mais torpe em anos nos processos eleitorais brasileiros_ revelou o lado B da rede, quando se disseminaram boatos e mentiras (em áudio, comento esta prática existente desde o princípio da humanidade).

“De um modo geral, os principais veículos, mesmo sem ficar necessariamente a favor do candidato José Serra, foram muito críticos em relação à candidata Dilma Roussef. E o resultado foi que Dilma se elegeu, a despeito dessa cobertura crítica”, argumenta Caio.

Claro, mas houve o segundo turno, exatamente o fator creditado à internet por ele. E, como vimos, mídia tradicional e publicação pessoal, mais engajamento na rede, tiveram participação nisso.

Dissociá-los dependeria de uma pesquisa muito bem conduzida, não apenas da opinião de um ou de outro.

O coordenador de Marina diz que se a mídia estivesse “atenta, antenada, teria percebido com nitidez os sinais emanados das redes sociais”, coisa que se sabia desde o princípio, no caso de Marina, e que concretamente tinha provocado um Plinio de Arruda de impacto _o candidato do PSOL causou buzz na web ao aparecer na TV, mas foi apenas isso.

Uma dúvida que não tenho sobre processo é que a internet, aproveitando um slogan eleitoral famoso, pode mais.

PS – Propositadamente dou links a vários textos e áudios de minha autoria durante 2010 para que possamos confrontar, afinal de contas, o que eu opinava na época

A campanha de Marina Silva não fez isso tudo

Caio Túlio Costa pode ter acertado ao dizer que sem a internet não haveria segundo turno na eleição presidencial, mas certamente errou ao creditar essa avaliação à expressiva votação de Marina Silva (PV), que ficou em terceiro na disputa ao Planalto.

A equipe da verde tem participado de alguns encontros para fazer as pessoas crerem que seu trabalho na internet foi determinante para o resultado das urnas. Enganoso.

Além de única campanha com mobilização em rede pré-existente, a candidatura ainda virou natural beneficiária da polêmica religiosa ocorrida entre primeiro e segundo turnos (Marina não apenas parece, ela realmente crê nessa coisa retrógrada que relaciona punição divina a quem pratica o aborto).

Costa, uma referência em gestão editorial, diz orgulhoso que “nem Leonel Brizola teve 20 milhões de votos”.

Claro: a última vez que o caudilho gaúcho-carioca se submeteu ao escrutínio do eleitor foi em 1998, o que elimina qualquer possibilidade de comparação.

A “onda verde” foi uma entrada a preceder o banquete, fomentado pelo jornalismo impresso, que culminou com a queda de Erenice Guerra da Casa Civil.

Ao mesmo tempo a internet estava sendo usada da forma mais baixa, mas como sempre houve na humanidade, para espalhar mentiras e bobagens em correntes de e-mail e sites de redes sociais _tendo como pano de frente o detestável caráter religioso.

O spam do mal teve muito mais reflexo no resultado da urna do que propriamente o propalado sucesso da equipe de Marina na rede.

Aliás, o oposto: quem tuitava pela senadora causou problemas ao repassar mensagem em que a morte do escritor José Saramago foi reduzida ao passamento de alguém “que blasfemou contra deus a vida toda” e por causa disso não deveria ser lamentado.

Nunca antes neste país a expressão “devagar com o andor” fez tanto sentido.