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Um panorama devastador para a mídia impressa

Os números mais recentes do IVC, o instituto que audita a circulação dos jornais brasileiros, são devastadores para essa mídia. Está tudo vermelho na passada de régua do primeiro semestre.

Líder no segmento com 320.428 exemplares diários de média (182.046 impressos), a Folha de S.Paulo experimentou uma queda de 12,2% – 14% na operação digital.

O Globo, agora, com 312.683, figura na segunda posição, seguido do popular mineiro Supernotícia (299.415). Só então aparece o quatrocentão O Estado de S.Paulo (229.180, destes 152.787 em papel).

Todos os jornalões perderam leitores nas versões digitais – nesse quesito, Supernotícia (17,5%), Zero Hora (33%), Correio Braziliense (110%, mas claramente a base era bem menor), Valor (9%), Gazeta do Povo (230%, idem ao CB) e A Tarde (8%) puseram mais gente pra dentro nos serviços on-line.

E vida (dura) que segue.

Clarín, 70

Com o mote “o jornal não faz o que quer com você, você é que faz o que quer com o jornal”, o Clarín colocou na rua a campanha que celebra seus 70 anos.

Jornais piores

Demissões em massa (os passaralhos) fazem parte do cotidiano jornalístico (principalmente do impresso) há tempos. Eu, que comecei em 1990, ultrapassei alguns – puxando pela memória, mais de dez deles.

O que fica, para o consumidor de notícias, é geralmente um produto pior – digo geralmente porque houve veículos que se comportaram como órgãos públicos, com inchaço do quadro funcional e regalias do tipo carro com motorista para acompanhar a mulher do correspondente ao supermercado e outras benesses injustificáveis na iniciativa privada.

Esses tinham como pressuposto um momento nababesco que não volta mais e quase mereceram o fracasso – ainda que, de roldão, levassem junto milhares de profissionais.

Nos últimos dias, lendo com atenção alguns dos principais jornais brasileiros, a ficha caiu: eles estão piores, bem piores. Uso como critério algo bem objetivo: erros. Hoje, uma única matéria tem de dois a três erros, do irrelevante ao gravíssimo, inclusive nos lugares mais nobres (como a primeira página).

É esse o efeito colateral.

Jornal pede à Redação que ajude a distribuí-lo nas ruas

O Orange County Registrer, um pequeno jornal de Los Angeles, está oferecendo cupons de até US$ 150 para integrantes de sua equipe que ajudem a distribuir (e vender) o jornal de domingo.

Não é algo novo, como recorda Roy Greenslade ao Guardian, mas não deixa de ser outro indicativo de tempos bicudos para o impresso.

Mais um jornal em papel se vai

O fim da edição impressa do Diário do Comércio, mantido desde 1924 pela Associação Comercial de São Paulo, entra de que forma na conta do esgotamento do formato impresso?

O jornal nunca teve relevância e circulava numa região muito restrita da maior cidade brasileira. Existiu, portanto, apenas como uma ribalta para a associação e seus dirigentes.

Depreende-se daí a ideia de que possuir um jornal impresso não incrementa mais o  status de uma instituição. E só.

Apenas um jornal ruim

Mario Sergio Conti semana passada, na Folha, acrescenta o ingrediente definitivo para entender a crise do Libération, sobre a qual discorri brevemente outro dia. Em resumo: trata-se de um jornal ruim

“De Mao a Rothschild

A debacle do ‘Libération’ não se deve apenas às forças que assediam os jornais em toda parte
A maior façanha do jornal francês “Libération” é ser publicado. De crise em crise, o noticiário pífio, os tristes títulos com trocadilhos e as batalhas internas geraram um turbilhão perpétuo de asneiras. Ninguém, no gozo de faculdades mentais apenas razoáveis, cogitaria saber pelo “Libé” o que se passa, digamos, na Ucrânia. Ou mesmo em Nice.

Nas últimas semanas, as vendas caíram abaixo de 100 mil exemplares, a trincheira que separa o jornal da catástrofe. A publicidade minguou a microcifras e a macrodívida tornou-se super-hiper. Como um tenentinho em Waterloo, tombou mais um diretor de Redação. Foi preciso reagir rápido à fúria dos credores. Os donos do jornal se juntaram ao Napoleão disponível, o decorador hipster Philippe Starck, e surtaram.

Propuseram transformar a redação do “Libération” num café antenado, o “Flore do século 21”. O espaço cultural multifunções abrigaria palco de televisão, rede social, incubadora de start-ups, estúdio de rádio e “lounge” com computadores. Que tal? “Espaço cultural multifunções” não é uma boa ideia para o Itaquerão depois da Copa?

Numa mistura adúltera de parnasianismo gaulês com MBA ianque, os proprietários disseram que, ou bem se tinha “outra visão”, e se “monetizava a marca”, ou então era a “falência”. A Redação retrucou com um gênero literário fora de moda, o manifesto iracundo, e o fez preceder por uma patética manchete: “Nós somos um jornal”. Dá para jurar: não parece.

Criou-se a editoria Nós Somos um Jornal. Ela publica todos os dias análises sisudas e profusas dos suspeitos de sempre. Os teclados estão de prontidão nas barricadas jornalístico-culturais parisienses. Cogita-se ocupar a Redação. Cantarão “A Marselhesa”? Um rap? É tudo bem engraçado. Sobretudo porque não é o nosso jornal que soçobra: Suave, mari magno…

A debacle do “Libération” não se deve apenas às forças que assediam os jornais em toda parte: a internet, os jornais gratuitos do metrô, o envelhecimento dos leitores fiéis. O jornal é vítima da sua própria história, que parece uma parábola.

Na esteira do Maio de 68, ele foi fundado para, conforme dizia, “dar a palavra ao povo”. Não aceitava publicidade e todos tinham direito de voto na Redação. Ele se definia como “uma emboscada na selva da informação”. Uma frase de Marx lhe servia de mote: “A primeira liberdade para a imprensa consiste em não ser uma indústria”. Sartre foi o seu primeiro diretor de Redação.

A efervescência social –entre 1971 e 1975, houve quatro milhões de dias de greves setoriais na França– manteve o jornal vivo. Com o refluxo, vieram os problemas. Sartre, doente e com divergências, se afastou. Ex-estudantes maoístas se assenhoraram do jornal.

Descobriram, encantados, que a revolução cultural chinesa era um mito. A utopia ao alcance da mão estava na Califórnia. Era lá a terra das bandas de garagem, da ecologia, das drogas, do narcisismo assumido, dos costumes liberados, da informática e do espiritualismo new age. Sindicatos e salários, emprego e condições materiais de vida viraram velharias no “Libé”. O historiador Pierre Rimbert define assim a sua receita editorial: “Conformismo político, ortodoxia econômica e excentricidades culturais”.

O jornal aceita publicidade e subsídios estatais, e uma empresa que se envolve nas tramoias da política institucional. “Libération’ é a destruição positiva do esquerdismo”, explicou, em 1986, Serge July, o seu diretor de Redação. Foi ele quem convenceu Édouard de Rothschild a investir no jornal. Rothschild é herdeiro de uma fortuna bancária, um diletante cujo interesse é a criação de cavalos. Virou o maior acionista, o dono de fato do jornal. O banqueiro demitiu July. Agora, cansou-se do hobby e quer se livrar do “Libération”.”

Libération quer virar rede social, mas precisa combinar com a redação

libeAfundado na crise, o jornal francês Libération anunciou nesta semana que vai virar uma rede social, produzindo conteúdo para todo tipo de plataforma.

O problema é que o projeto foi imposto goela abaixo da redação, que se revoltou. “Nós somos um jornal”, informa a manchete de sábado, 8 de fevereiro. Dias antes, os jornalistas da casa haviam participado de uma paralisação.

Voltaremos ao assunto em breve, mas acho que tudo é uma questão de equilíbrio: foi justamente por resistir à mudança dos tempos que o ofício do jornalista impresso foi enxugado inexoravelmente.

Antes tarde do que nunca

Com anos de atraso, a Time (que inventou a revista semanal como a conhecemos hoje) está fazendo uma convergência em sua redação, fazendo com que todos os jornalistas da casa trabalhem para todas as plataformas.

Ainda é a principal dificuldade das fusões de redações: a compreensão, por parte dos jornalistas, que nossa produção independe do suporte.

No caso da Time, que recentemente demitiu 500 pessoas (ou 6% de sua força de trabalho), as mudanças se fazem mais do que necessárias.

Um dos jornais mais antigos do mundo acaba

O Lloyd’s List, publicado desde 1740 originalmente como um relatório da marinha mercante, deixará de ser impresso no final do ano. O jornal se autoproclama o mais antigo do mundo.

Jornalismo: a realidade coletiva

jornalismo_google_autocomplete

Não precisa falar muita coisa: Mario Tascón, em seu 233Grados.com, reparou: vejam como, na Espanha, o Google completa a busca “sou jornalista e…”.

Revelador.