Arquivo do mês: setembro 2008

A conta do jornalismo não fecha nunca

Muito lúcida a análise publicada pelo Monday Note que aborda as dificuldades da concretização da “redação do futuro”, aquele “escritório” enxuto em que jornalistas de papel e on-line trabalham juntos, felizes e dispostos.

Na verdade, na ponta do lápis, o texto calcula os custos de fazer jornalismo (seja ele impresso ou na Web) e chega a uma conclusão: é um conta que não fecha nunca. Mais: e que precisa de gente e de investimentos. É uma operação cara, enfim.

Interessante exercício de administração jornalística _e lógica nos negócios.

O suposto blog jornalístico

Olha um bom exemplo de suposto blog jornalístico, neste caso em apoio (o que já derruba o jornalístico usado há pouco) à presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

Em alguns momentos (leia-se links enviados por e-mail e, em poucos casos mais graves, referência em sites noticiosos), esta página aparece como referência noticiosa eventual no ciberespaço do país vizinho.

Nem cabe falar sobre as afrontas à plataforma _blog tem de ter textos palatáveis, mostrar coisas bacanas (no conceito de seleção, almanaque), dialogar com a audiência, sugerir lugares para visitar etc.

A ausência de jornalismo é suficiente.

Mas há usos diferenciados para a ferramenta. Por sinal, nos próximos dias veremos mais de perto o jornalismo praticado na Argentina, no Chile e no Uruguai. Eles estão com ainda mais problemas que a gente (e algumas soluções).

O papiro do ensino de jornalismo no Brasil

Outro dia o ensino do jornalismo no mundo fez 100 anos. Agora, no Brasil, recentemente a Universidade de Brasília (UnB) descobriu o projeto original de Pompeu de Sousa, criador do primeiro curso de Comunicação Social do país lá mesmo, na novíssima capital, em 1961.

Na verdade, é um texto de Alberto Dines, escrito em 1965, que detalha alguns conceitos do curso concebido por Pompeu, introdutor do lide no jornalismo brasileiro (no Diário Carioca, em 1950) e também criador do primeiro manual de redação de que se tem notícia nestas paragens.

O propósito do curso, que ora reproduzo, era nobre: “Dedicar-se-á, pois, a Faculdade de Comunicação de Massas ao estudo e ensino das ciências, artes e técnicas concernentes a todos os veículos e instrumentos que, transmitindo informação, opinião, sugestão, recreação e arte, em escala industrial, intra-relacionem e inter-relacionem as massas humanas, recebendo e exercendo influências geradoras ou condicionadoras de estados-de-espírito coletivos das mesmas. Estudará e ensinará, portanto, a melhor utilização de todos estes veículos e instrumentos: jornais, revistas e periódicos de toda natureza, agências noticiosas, agências de publicidade e propaganda, rádio, cinema, televisão, ou, ainda, outros quaisquer que o progresso da tecnologia venha a criar ou desenvolver.”

Há de se perguntar o porquê da presunção do trecho “ensinará (…) a melhor utilização de todos estes veículos”, mas acho que não vem ao caso. Nem hoje, mais de 40 anos depois, haveria resposta.

O mais interessante é notar o óbvio (para a época) ensinamento restrito às ciências, artes e técnicas concernentes a todos os veículos que “transmitem em escala industrial”. Se transposto para os dias de hoje, deixaria de fora precisamente o mais bacana: as coisas escritas de cueca, em casa, e que estão verdadeiramente revolucionando a profissão graças à difusão gratuita e imediata proporcionadas pelas novas tecnologias.

Por sinal, o grosso das faculdades ainda não atentou para isso.

Idéias para um novo jornalismo

Organizar-se em torno de comunidades conectadas em rede, conhecer o interesse do leitor (dialogar com ele), estar disponível e receber com disposição as mudanças impostas pelo avanço tecnológico…

A discussão, que a Ana Brambilla bem colocou ao comentar texto de Juan Varela, está posta aos jornalistas, assim como à sociedade. Não existe outra opção.

É por isso que tenho falado tanto sobre os hábitos deste novo profissional, que está ou não em redações, que é ou não jornalista. A única coincidência certa sobre eles: ambos estão conectados ao mundo por algum (ou vários) aparato tecnológico.

Comentário sobre os comentários

“As pessoas precisam ser detidas”, me disseram certo dia. E eu, conversando informalmente com um amigo que toca blog corporativo, aparentei estupor pelo fato de no site dele os comentários serem publicados sem moderação. Como assim, sem moderação?

As pessoas precisam ser detidas, sim. E o comentário é livre até onde vai a compreensão de liberdade do dono espaço.

Ótimo debate capitaneado por António Granado _lembrando que, como sempre, é na caixa comentários que a discussão ocorre de verdade.

O maldito diploma…

E segue a discussão: um pedaço de papel é suficiente para habilitar alguém a trabalhar numa profissão? Reforço o apego ao pedaço de papel, excluindo as atividades que possam ter sido feitas no ambiente acadêmico…

Não, né?

A infografia como gênero jornalístico

A infografia é um gênero jornalístico? Eu compro essa briga, como comprei ao promover a narração ao vivo (sim, esta coisa tão tipicamente Internet) a gênero em meu primeiro curso sobre o tema.

Se concordamos que um bom infográfico, além de complementar uma reportagem, pode funcionar como uma unidade autônoma de informação, cuja publicação se justifica por si só, qual é a dúvida?

O Blog do Gjol conta que, em Portugal, essa discussão está pegando fogo.

Como voltaremos em breve a ela, deixo duas reflexões: sempre que a iniciativa da tradução ilustrada do noticiário parte do infografista _portanto, não uma reação à demanda de outra editoria_ o trabalho parece se resolver melhor, em conjunto e isoladamente.

Daí me pergunto se não falta uma disciplina nas faculdades de jornalismo, o infografismo. Poderia ser inspirador para a profissão. Passou da hora de levar o tema a sério.

Outra coisa, e já na redação: será que as editorias às quais presta serviço (ou, proativo, sugere pautas gráficas) não são o ambiente de trabalho mais produtivo para um infografista? Até que ponto esse Muro de Berlim que segrega os designers faz sentido?

Esse mundinho babaca dos blogs, parte 2

O Technorati, maior rastreador de blogs da Web, publica nesta semana (pela primeira vez em pílulas) as conclusões de seu “Estado da Blogosfera“, documento que via de regra norteia o estudo sobre a plataforma no planeta.

Do primeiro dia, que deixei passar e prefiro que Tiago Dória comente por mim, só alguns números: o Technorati sabe da existência de 133 milhões de blogs (eram 70 milhões no ano passado). O detalhe sério: desta enxurrada, só pouco mais de 7 milhões foram atualizado nos últimos quatro meses (a revelação cabal, presente em todos os relatórios, de que nada mais efêmero do que um blog).

O dia 2 do Relatório aborda o “por que blogar?“. E o levantamento não mente: 54% dessa manada o faz com o objetivo de mostrar-se ao mundo via um diário pessoal indiscreto e de fácil acesso. É a cara da blogosfera, especialmente a brasileira, que jornalisticamente até hoje jamais se mostrou capaz de complementar o mainstream _a não ser com nomes bancados e/ou advindos do próprio mainstream.

A segunda motivação (46%), tecnologia, é a mola-mestra dessa coisa chamada Internet.

Um número delicioso é a régua que as pessoas que blogam usam para medir o sucesso de suas crias: 75% dizem ser a “satisfação pessoal”. Logo depois vêm os leões, os adeptos da quantidade, que preferem contabilizar posts e comentários (58%) _ainda que suas opiniões ou a comunidade formada em torno delas seja um desastre.

O relatório (concebido pela primeira vez com base em pesquisas globais, não só nos Estados Unidos) aponta que apenas 2% dos blogueiros do mundo tem na atividade o seu ganha-pão. E, provavelmente, diria que vários destes mentiram.

Como espero que tenham mentido um terço dos entrevistados, que disseram ter recebido “produtos gratuitos” (em bom jornalismo, jabá) como DVDs, eletrônicos, computadores e livros.

Ou seja: a plataforma blog acrescentou pouco ou nada (no Brasil, nada) ao jornalismo, mas foi contaminada por uma das facetas mais tristes da profissão.

Amanhã o Technorati solta dados sobre o estilo mundial de blogagem. A ver.

Veja, Carta Capital e o partidarismo

As discussões sobre a linha editorial de Veja e de sua congênere Carta Capital (idênticas, mas com sinais políticos trocados) são inspiradoras para o debate sobre a imparcialidade no jornalismo, que nasceu partidário e nunca livrou-se totalmente dessa tendência _só a academia ainda acredita nisso, em tese.

Não é, claro, um fenômeno brasileiro. O ativismo jornalístico existe onde quer que esta atividade profissional seja desempenhada. Veja o caso da Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, expulsou ongueiros da Human Rights Watch, que diz fiscalizar o cumprimento dos direitos humanos no planeta.

Mesmo distante (no caso, no Chile), o engajado Manuel Cabieses (diretor da irrelevante revista política Punto Final) levantou a voz para comprar a briga. Defendeu Chávez, atacou a ONG. Lado certo ou errado?

No jornalismo, não há lado. Há o todo.

É constrangedor assistir à profissão se partidarizar como em seus primórdios. Qual a credibilidade de um jornalismo sectário, comprometido com convicções de outrem?

Edição e Design

De nossa produtiva conversa de hoje com o editor de arte Mondrian Alvez, que apresentou de maneira didática o passo a passo da construção de um projeto gráfico, ficou uma importante dica: o livro “Edição e Design“, de Jan White.

A obra é um manual sobre o assunto (literalmente: é a recomendada para a padronização de procedimentos na editora Abril, por exemplo) e trata do design com um discurso afinado ao nosso: o de “notícias para ver”, totalmente integrado ao conteúdo jornalístico.

Ainda na linha dicas: o blog “Imagem, Papel e Fúria“, sobre design de notícias, tem a tudo a ver com a disciplina também.

Mais uma dica valiosa que em muito contribuirá para o nosso curso.