Eventos jornalisticamente relevantes como a eleição norte-americana, cujo ato final acontecerá amanhã, são bons para colocar mais pá de cal no mito da imparcialidade dos jornais _que a academia, especialmente no Brasil, teima em levar adiante.
A Editor and Publisher já havia detectado, em trabalhosa pesquisa, que 240 jornais dos EUA apóiam abertamente o democrata Barack Obama, contra apenas 114 que o fizeram publicamente em favor do republicano John McCain. Em números absolutos, essa vantagem significa 21 milhões de edições diárias em tese pró-Obama, contra 7 milhões em favor do colega de chapa de Sarah Palin (aliás, formada em jornalismo _argumento de per si contra o diploma?).
Agora foi a vez de o analista Roy Greenslade, em seu blog no Guardian, fazer o mesmo (ainda que em forma de amostragem) com as publicações britânicas. E o resultado foi praticamente o mesmo: dos cinco jornais avaliados por ele ontem, quatro se manifestaram claramente a favor de Obama.
As preferências dos jornais se expressam não apenas nos editorais, área reservada exatamente para isso, mas também na escolha de articulistas e colunistas e, em algum casos mais graves, nas próprias reportagens, várias delas escolhidas a dedo para provocar ou instigar contradições numa ou noutra campanha.
No Brasil, as revistas semanais (vide os casos de Veja e Carta Capital) têm muito mais facilidade para assumir suas posições políticas com transparência. Os jornais, via de regra, se escondem sob a frágil capa da imparcialidade, mantida mesmo quando são “descobertos” por leitores mais solertes.
É um tema tabu ainda não resolvido completamente em nossa profissão.