Arquivo do mês: outubro 2010

41 anos na estrada

Hoje é meu aniversário. E daí, aniversário se faz todo ano, não é notícia.

Não estou aqui porque hoje a gente escolhe um novo presidente da República.

O aniversário é, literalmente, um detalhe.

Fogos e balões coloridos para a morte de Nestor Kirchner

Depois reclamam quando eu falo sobre os contrangimentos que a publicidade provoca ao jornalismo: na Argentina, a morte do ex-presidente Nestor Kirchner foi saudada com balões coloridos e fogos de artifício no maior veículo do país, o Clarín.

Era “apenas” um anúncio intrusivo do Carrefour, que festeja seu aniversário de chegada ao país.

Lamentável. E já tinha acontecido antes, quando do assassinato do militante político Mariano Ferreyra.

Um insight sobre o Wikileaks

Jeff Jarvis, professor da Universidade de Nova York (onde estão boas cabeças a refletir sobre as mudanças introduzidas pela tecnologia no jornalismo, como Jay Rosen e Clay Shirky) tem um insight sobre o fator Wikileaks, o projeto colaborativo na internet que tem como objetivo divulgar documentos confidenciais particulamente constrangedores ao governo americano.

“Quando os governos perceberem que os agora os cidadãos podem vigiá-los melhor do que são vigiados, veremos a transparência dissuadir atores ruins e ações condenáveis”.

Há uma revolução em curso, patrocinada pela tecnologia: o acesso de pessoas comuns às armas antes reservadas aos poderosos.

Difundir informação é uma das mais devastadores para efetivamente “mudar o sistema”, como se dizia no meu tempo.

A saída educacional para o jornalismo impresso nos EUA

No ambiente de crise que cerca a imprensa em papel nos Estados Unidos surgiu, como uma das possíveis saídas, a hipótese de veículos ligados a escolas de jornalismo ganharem mais fôlego para, digamos, perpetuar a profissão.

A conta é simples: se forem convertidas em entidades educacionais (e, portanto, sem fins lucrativos), as empresas jornalísticas passam a poder receber subsídios governamentais, além de doações filantrópicas que fazem parte da cultura americana.

Já existe, inclusive, um belo exemplo: o St.Petersburg Times, que pertence ao Poynter Institute.

O jornal faturou dois prêmios Pulitzer no ano passado _a Flórida inteira, seu Estado natal, havia ganho quatro em toda a história. É do St.Petersburg Times a ideia do mentirômetro que acompanhou as promessas de Barack Obama (e agora já tem “filhotes” em oito Estados americanos).

Para o Brasil, onde não existe a cultura da doação, provavelmente não adiantaria nada vincular veículos jornalísticos a faculdades de comunicação (que possuem produtos restritos e de nicho) _e muito esperar pela adesão a um modelo não lucrativo.

Mas é interessante conhecer as propostas para que superemos o pior momento do jornalismo impresso em todos os tempos.

Livro analisa a qualidade no jornalismo

Sete pesquisadores brasileiros estão no livro “Vitrine e Vidraça: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo”, que pode ser adquirido em papel ou baixado em PDF.

O Rogério Christofoletti dá mais detalhes sobre a obra.

A sinopse, abaixo, é um convite à leitura.

“A qualidade implica a autocrítica, o estabelecimento de metas e objetivos, o seu alcance e a avaliação contínua de práticas e processos. O jornalismo não apenas oferece produtos informativos, mas também se insere nas sociedades como um importante elo entre os públicos, ajudando a formar opinião, estabelecendo consensos, alimentando-se de controvérsias. Portanto, discutir qualidade no jornalismo está intimamente ligado ao exercício da crítica de mídia, à reflexão sobre democracia e responsabilidade social. Está também atrelado ao debate sobre a ética, a formação dos novos jornalistas, a inovação e a busca da excelência técnica. Tratar de qualidade conjuga preocupações de ordem econômica, política e metodológica, aspectos que auxiliam a construir novas bases para o jornalismo.”

De Super-Homem a reles mortal

“Não por acaso Super-Homem, Homem-Aranha e Tintin eram jornalistas. Mas hoje o jornalista já não é um herói. Para a maioria, a situação laboral se degrada, e a internet provocou uma crise de identidade. As redes sociais são os meios dominantes. E ainda há o discurso de dizer que hoje todo mundo é jornalista”.

Com vocês, Ignacio Ramonet, jornalista e de esquerda.

Integrar ou desintegrar?

Há uma pergunta para a qual poucos possuem a reposta: afinal, é melhor juntar ou separar as redações papel e on-line?

Nesta semana, o USA Today, jornal que incutiu o conceito de entretenimento e TV no papel, anunciou a separação de corpos de sua equipe após cinco anos.

Claramente o timing e a sincronização são problemas graves quando se pretende unir plataformas tão distintas.

É possível, mas é necessário entender que só a lógica reversa, ou seja, pensar primeiro o on-line, e depois adaptá-lo ao impresso, é o caminho mais fácil para permitir que ambos caminhem juntos.

A integração é o objetivo final de um processo de convergência.

Explico: preciso de muito mais tempo para fazer virar algum projeto on-line. Logo, se ele capitanear a pauta, a chance de conseguir coisas bacanas juntos passa a ser crível _a adaptação às páginas do jornal é muito mais fácil.

Este vídeo mostra como meios de Argentina e Espanha estão se virando nesse aspecto.

E eu volto ao assunto na semana que vem, para dizer como se dá o processo em Poder, o caderno de política da Folha de S.Paulo.

A prova dos nove

O jornal The New York Times tem cerca de um milhão de assinantes de sua versão diária em papel.

No Twitter, são 2,6 milhões de seguidores, quase três vezes mais.

Esses números significam algo?

Sim, antes de mais nada que a adesão a serviços gratuitos via internet é imensamente superior a modelos que ainda suportam (não sabemos até quando) a imprensa escrita.

Mais: que o alcance da sua produção é muito maior quando estamos justamente nesses canais, que via de regra têm custo zero.

E os jornais ainda se perguntam se devem cobrar por conteúdo on-line…

Volto já


Sim, ferrou de novo.

Mas como já prometi voltar e cumpri, refaço o voto.

Por que o Twitter é tão popular no Brasil?

Por que o Twitter é tão popular no Brasil, pergunta a revista Time, se escorando em dados que mostram que, em agosto, 23% dos internautas brasileiros visitaram o site, contra 11% dos americanos.

É uma questão difícil de responder até para quem viu a plataforma surgir do zero (quando ainda tinha pouquíssimos usuários no país) _desde 2007 utilizo o microblog em sala de aula.

O brasilianista James Green, ouvido pela revista, dá um chute arriscado: diz que “a falta de diversidade na mídia” levou os brasileiros ao Twitter.

Tem duas coisas a se considerar aí: primeiro, que o Twitter verdadeiramente “explodiu” e passou a ser conhecido no país apenas a partir do ano passado. É, ainda, muito pouco tempo de uso para se detectar alguma febre.

Junto disso, verificou-se o fenômeno de adoção da ferramenta por personalidades, o que seguramente ampliou seu leque de utilizadores (aqueles que gostam de dizer “tio” para William Bonner, por exemplo).

Qual o seu palpite?