Praticamente seis meses depois que constatamos o despreparo (e o desinteresse) dos sites jornalísticos brasileiros em abrigar a opinião de seus usuários, a discussão sobre os comentários segue viva no jornalismo on-line.
Desta vez foi o jornal argentino La Capital, de Rosario, que decidiu suprimir a caixa de comentários que tinha sido disponibilizada em todas as notícias. O motivo, segundo nota publicada no próprio site, é que “amparados no anonimato, [usuários] utilizaram esta valiosa ferramenta de participação para a ofensa gratuita, o insulto e a falta de respeito”.
Ou seja, o jornal jogou o sofá fora.
No Brasil, vimos que não há a opção de comentar toda e qualquer matéria porque os portais simplesmente não têm gente suficiente para moderar as opiniões de seu público e excluir os insultos que tanto incomodaram o periódico argentino. Neste caso, optaram por interditar o sofá: ele está lá, mas nunca 100% disponível.
Não precisamos ir muito longe para decretar que, pelo que se vê nos sites de todo o mundo, a palavra do leitor está longe de ser uma “valiosa ferramenta de participação”. Sheila McClear chegou a defender abertamente, no Gawker, que os jornais não devem permitir interferência dos leitores. “Jornal não é blog”, decreta ela, para quem o produto não é lugar de conversação.
Polêmico, para não dizer anacrônico.
A argumentação gira em torno de bobagens que leitores perpetraram jornais afora e toca num ponto em que é difícil discordar: em sua maioria, as pessoas simplesmente não têm o que dizer (isso vai ao encontro do que prega o enfant terrible Andrew Keen em seu Cult of the Amateur).
“Moderar comentários não é uma solução, é perda de tempo”, afirma Sheila.
Minimalista, Mike Masnich dá aquela que eu considero a palavra definitiva sobre o tema num brevíssimo post do Techdirt: “Não existe nenhum indicativo de que alguém, nor jornais, lê os comentários. Os próprios autores dos textos raramente, se o fazem, respondem aos leitores. Não há engajamento algum nas discussões”.
Talvez o ponto seguinte, diante desse impasse, é pensar a figura do moderador no jornalismo on-line não apenas como um filtro para deletar imbecilidades, mas como um gerenciador de discussão, mobilizando a conversa para um, para outro ou para todos os lados.
A função eliminaria essa incômoda sensação de que a opinião do público não é levada em consideração, além de, efetivamente, estabelecer o diálogo tão necessário entre veículo e seu leitor.