Arquivo do mês: maio 2010

A pauta esquecida: cemitério de aviões da Vasp

O 737-300 coberto de fuligem dos carros que passam na avenida Washington Luiz

O 737-300 coberto de fuligem dos carros que passam na avenida Washington Luiz

ATUALIZAÇÃO: Começa o desmonte dos aviões da Vasp em Congonhas

Ninguém ficou sabendo que neste final de semana rolou a 3ª Feira Nacional da Aviação Civil, e num lugar muito legal: o hangar da Vasp ao lado do aeroporto de Congonhas.

Ninguém ficou sabendo mas estava cheio quando dei um pulo lá (por volta de 13h) e não parava de chegar gente quando saí, duas horas depois.

E o jornalismo não deu a mínima bola. Mais um caso de pauta que passou batida _e o interesse do público, que foi em peso a um evento sem qualquer divulgação, prova que essa era das boas.

Não que a feira fosse grande coisa. Longe de Le Bourget, tinha uns poucos aviões jogados, sem informação, brinquedos alusivos ao tema para as crianças, algumas barracas de produtos típicos (camisas da FAB, distintivos de pilotos etc), estandes de órgãos públicos e do setor e um simulador de voo inoperante do 737-200.

A principal atração, a julgar pela fila, era um 737-800 que a Gol mantém em operação, e que ontem foi aberto à visitação.  A gente pensa que as pessoas estão viajando mais de avião no Brasil, mas ao ver uma cena dessa, fica claro que aquela máquina ainda exerce fascínio de estreante para muitos (os que o jornalismo ignorou desta vez).

Pra mim, paulistano adotado, o filé mignon foi o cemitério da Vasp, companhia que parou de voar em janeiro de 2005 e teve a falência decretada três anos depois. Ali, reluzia pura sucata de dois 737-300 cobertos pela fuligem do trânsito frenético da avenida Washington Luiz, com direito a um 727-100 (provavelmente no qual viajei um dia) em pior estado ainda.

Mas ninguém ficou sabendo.

ATUALIZAÇÃO: Tem novidade sobre o assunto: aviões e outras peças da Vasp irão a leilão em 2011.

Também sem turbinas, o 727-100 que jaz no hangar da Vasp em São Paulo

Também sem turbinas, o 727-100 que jaz no hangar da Vasp em São Paulo

As seis dicas do Google para quem faz jornalismo usando vídeo

Dono do YouTube, o Google tem incentivado produtores de notícias (isso engloba do cidadão a organizações jornalísticas) a disponibilizar vídeos não apenas na rede social, mas também em seu serviço News, que já conta com a adesão das grandes agências de notícias.

É um tabu no Brasil. Via de regra, os donos do conteúdo pensam mil vezes antes de oferecê-lo a um servidor externo. Não se reconhece o caráter agregador de audiência destes produtos, apenas a suposta usurpação que fazem do material alheio.

Bem, o Google dá seis dicas para quem faz jornalismo usando vídeo. Na verdade, uma aula de indexação _afinal de contas, a maneira mais rápida de sermos encontrados na rede.

A lição serve também para uso interno, ou seja, na organização do nosso acervo. Classificar e etiquetar adequadamente conteúdo virou um trabalho precioso na era da publicação pessoal.

A web semântica e a privacidade no Facebook

A Daniela Bertocchi (que foi minha professora no Master em Jornalismo Digital Multimídia) aborda uma questão bastante interessante ao lembrar que privacidade e web semântica têm tudo a ver.

No momento em que se discute até onde vai o poder do Facebook em reter ou tornar públicos dados de seus usuários (a ponto de o criador da rede, Mark Zuckerberg, fazer um mea culpa e admitir mudanças), o alerta da Dani é bem importante.

“Não basta abandonar o Facebook. O perigo está exatamente em achar que saindo de uma rede teremos a nossa privacidade preservada. O problema é um pouco mais difícil de resolver: temos que encontrar uma solução para a questão como um todo. Para todas as redes. Para toda a web. Juntos.”

Financial Times prevê crepúsculo do jornal impresso para 2015

Pintou a mais sombria previsão para o futuro do jornal impresso: o Financial Times está intensificando sua presença on-line porque acredita que o papel não irá além de 2015.

O motivo, claro, são altos custos que o processo industrial de um produto jornalístico impresso exige. Em tempos de vacas magras, já há editores considerando um absurdo a quantidade de dinheiro e tempo que se dispende numa operação dessa.

O planejamento do Financial Times encontra eco em outras publicações importantes, como relata o Paid Content (ótimo site que cobre a indústria do conteúdo). O texto lembra um caso emblemático do Guardian, que quando adquiriu uma nova rotativa, em 2005, anunciou que seria a última (ela tem uma vida útil aproximada de 20 anos).

Previsões sobre o futuro do jornal impresso pululam, mas talvez a mais famosa (que nem sequer era uma previsão, mas uma elocubração) é a do mestre Philip Meyer, que em seu livro “Os Jornais podem Desaparecer?” refletiu que, talvez, a última edição impressa de um veículo jornalístico chegaria à soleira da porta da casa do último leitor no primeiro trimestre de 2043.

De minha parte, sigo com a convicção de que o jornal não vai acabar. Ele cada vez mais deixará de ser um produto de massa para atender um público bem específico, que continuará pagando para receber notícias impressas todos os dias.

ATUALIZAÇÃO: Importante, o Thiago Araújo, aí nos comentários, avisa que houve um pronto desmentido sobre a sombria previsão.

A lei está de olho na imprensa que invade casas e identifica meros suspeitos

Um canal de TV dos EUA está sendo processado por violar direitos civis durante a gravação de um reality show que exibia o trabalho de um esquadrão feminino da polícia de Chicago.

A equipe do Biography Channel fez o que a gente está cansado de ver na TV brasileira: cobriu a prisão de pessoas e divulgou suas identidades, num flagrante desrespeito à lei. Acontece aqui e acontece lá, e às vezes alguém põe a mão na consciência e resolve tomar uma atitude.

Ainda nos EUA houve outro caso de processo a uma equipe de reportagem, também de TV, que invadiu uma propriedade privada ao registrar outra batida policial.

Jornais abraçam o 3-D, essa tecnologia do século passado

A moda do 3-D chegou aos jornais. O Philadelphia Inquirer anuncia o formato para sua edição de 13 de junho, um domingo. Cada exemplar virá acompanhado de um óculos especial.

Para mim, que tive gibi do Tio Patinhas em 3-D (com direito a óculos, claro), soa quase ridículo. Estou falando de pelo menos 30 anos atrás.

Trata-se de uma tecnologia muito antiga que, por motivos comerciais, voltou à voga, impulsionada pelo cinema.

Não por isso é menos divertida. Mas, ainda mais em se tratando de jornais, não passa de uma curiosidade.

Jornal americano imita Stálin e modifica fotos

Um jornalzinho americano fez, em pleno 2010, o que Stálin fazia com seus desafetos quando comandava uma potência: simplesmente, apagou os indesejados.

Claro, “apagar”, quando nos referimos a Stálin, pode ter outra conotação. No caso do The Dominion Post, de Morgantown (Virgínia do Oeste), significou simplesmente remover três vereadores de uma foto em que o governador Joe Manchin aparece com parentes da vítima de um acidente que deu nome a uma lei estadual de trânsito mais rígida.

Confrantada com o flagrante delito, a resposta da redação foi seca: tiramos mesmo, os vereadores estão tentando se reeleger e não queremos promover gente que está atrás de votos.

Mas que eu me lembrei de Stálin, lembrei.

Folha cria ‘coluna social’ das redes sociais

A partir desta quarta-feira, passo a colaborar com a edição impressa do caderno Tec (ex-Informática) da Folha de S.Paulo, assinando a coluna Redemoinho.

A ideia é que o espaço _praticamente escrito em notas de pouco mais de 140 caracteres_ seja uma espécie de “coluna social” das redes sociais.

Espero estar à altura da pretensão do projeto (ainda mais num ambiente tão minimalista e que exige bastante concisão).

Esporte ainda é o calcanhar de Aquiles do jornalismo cidadão

Pode perceber: o esporte (digo o de alto nível, ou seja, aquele cujos direitos são loteados pelas emissoras de televisão) ainda é um setor em que o jornalismo cidadão não deu as caras. Em Copas do Mundo e Olimpíadas, por exemplo, é proibido aos espectadores inclusive tirar fotos do eventos ou fazer registros em vídeo.

Bem por isso a pobreza participativa do público em eventos dessa natureza _até grandes portais, quando planejam blogs de pessoas envolvidas na competição, são obrigados a recorrer a fotos frias para não morrer na praia.

Na África do Sul não deverá ser diferente. Participação, mesmo, só bem longe de onde estiverem sendo realizadas as partidas (e, mesmo assim, há vários locais “protegidos”, como hotéis e centros de treinamento).

O Global Voices, o projeto mais sério de jornalismo colaborativo, está tocando uma convocação paralela de cidadãos para o Mundial que começa no dia 11. Mas nada de bola: o que o site quer saber de seus colaboradores é qual o significado da Copa do Mundo para os sul-africanos que vivem em estado de pobreza e também para todo o continente.

O bug do cidadão-jornalista em eventos esportivos tem tudo para continuar intacto.

Profissionais e amadores se juntam e criam novo produto jornalístico

Nasceu, no Canadá, uma nova iniciativa de cooperação jornalística pro-am (ou seja, entre profissionais e amadores). O OpenFile nasce com a proposta de “criar uma conversação vibrante e em constante evolução entre criadores, agregadores e leitores de notícias”.

O projeto bebe um pouco no Spot.us, sobre o qual já falamos longamente aqui. Basicamente, leitores sugerem pautas que, depois, são repassadas a freelancers.

Diferentemente de sua fonte de inspiração, que vive de contribuições do próprio público, o OpenFile será mantido via receita publicitária (aposta arrojada nos dias de hoje, onde nem mesmo veículos de marcas importantes conseguem se sustentar desta forma na web).

A ver.