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A internet sitiada

O fim do serviço Google News é apenas o primeiro efeito colateral da legislação que a partir de 1º de janeiro muda muita coisa na internet da Espanha.

A Lei de Propriedade Intelectual estabelece, além da obrigatoriedade de agregadores remunerarem produtores de conteúdo (o motivo da saída de cena do serviço noticioso do Google), a criação de uma superpoderosa comissão que deliberará sobre o fechamento de sites e retirada do ar de links.

Medieval – e aparentemente até o patronato dos jornais achou exagerado.

Brasil Post, link externo e os jornalões

Já era de se esperar: por coerência (para ficarmos só nisso e sermos elegantes), os jornalões “homenageados” pelo Brasil Post com links externos estão exigindo explicações da Editora Abril, que pilota o projeto Huffington no país.

No entendimento deles, o uso do link externo equivale a uma apropriação indevida de conteúdo. Foi exatamente por isso que, capitaneados pela ANJ (a associação patronal), dezenas de jornais do país deixaram o serviço Google News. Posteriormente, numa espécie de termo de ajustamento de conduta, as partes concordaram em testar o protocolo “Uma linha no Google News“, cujo objetivo é precisamente direcionar o internauta as sites dos veículos (ué, o Google News faz o que mesmo?).

A chantagem dos jornais foi vista na época com desconfiança (de novo, estamos sendo benevolentes). Afinal, quem em sã consciência abriria mão do potencial drive de audiência de um produto Google? A ANJ disse que a queda de tráfego beirou 5% e que a medida valeu a pena.

Na França, por exemplo, a polêmica foi resolvida após o Google aceitar desembolsar 60 milhões de euros numa espécie de fundo para o jornalismo impresso, além de se comprometer a ajudar os jornais a incrementar sua receita com publicidade on-line. Na Alemanha, os jornais precisam autorizar o uso de seus títulos pelo agregador.

De toda forma, o episódio Brasil Post é revelador. E, de novo, no ano em que caminhamos para 19 primaveras da operação comercial da internet no país, parece que ainda estamos engatinhando.

Salvem os impressos

Pronto: um editorial na Folha de S.Paulo e uma reportagem na Veja saúdam o acordo do Google com a imprensa francesa, que aceitou ser indexada pelo mecanismo de busca em troca de 60 milhões de euros num tal  “fundo de auxílio a jornais e revistas da França”, o país mais paternalista com relação à sua produção em papel.

Trata-se de uma esmola e de um vexame. Nunca é demais lembrar que o antecessor de François Hollande, Nicolas Sarkozy, torrou dez vezes mais num pacote de resgate que incluiu, entre outras coisas, uma assinatura anual para jovens a partir dos 18 anos – tudo bancado com dinheiro público.

O aplauso ao privilégio e o paternalismo, vá lá, ainda dá para entender. A frase “o Google depende, enfim, da imprensa para existir e vender publicidade”, cometida por Mario Sabino no texto de Veja, porém, é de um ridículo voraz. Totalmente fora de órbita.

Vamos conhecer o problema antes de abordá-lo?

Até os robôs podem ser parciais

Os algoritmos do Google fazem milhares de decisões diárias para ordenar os resultados de uma busca específica ou sua página inicial do Google News, por exemplo. Mas a ausência de humanos no processo não significa que estamos livres da parcialidade.

É o que nos conta Nick Diakopoulos num texto bastante interessante, ilustrado com exemplos de como, quando menos esperamos, esse trabalho dos robôs também é influenciado por hábitos pra lá de humanos.

Finalmente um golpe de mestre dos jornais

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) anunciou sexta-feira no Rio, no encerramento de seu congresso anual, que está negociando com agregadores estímulos para que os internautas busquem notícias diretamente nos sites que os hospedam.

“Nossa meta é buscar formas adequadas de remuneração de nossos conteúdos, para que o jornalismo de qualidade continue a desempenhar o papel que tem e sempre teve em sociedades democráticas”, disse Judith Brito, presidente da entidade.

Como seriam essas “formas adequadas”? Ainda não sabemos ao certo, mas discute-se a redução dos textos exibidos em agregadores (como o Google News) e critérios de indexação que consigam distinguir entre o que pode ou não ser exibido por meio do Protocolo de Acesso Automático a Conteúdo.

Toda essa discussão, direitos autorais à frente, sempre teve como pano de fundo a sobrevivência dos jornais. A novidade, agora, é que os agregadores aceitaram negociar.

Se os jornais conseguirem ganhar dinheiro com algo que claramente ajuda a promover seu conteúdo, terá sido um golpe de mestre.

Nenhum estímulo para alcançar a fonte original de uma notícia pode ser maior do que o agregador (que, com frequência, possui audiência várias vezes superior aos veículos que se incomodam em aparecer neles).

As seis dicas do Google para quem faz jornalismo usando vídeo

Dono do YouTube, o Google tem incentivado produtores de notícias (isso engloba do cidadão a organizações jornalísticas) a disponibilizar vídeos não apenas na rede social, mas também em seu serviço News, que já conta com a adesão das grandes agências de notícias.

É um tabu no Brasil. Via de regra, os donos do conteúdo pensam mil vezes antes de oferecê-lo a um servidor externo. Não se reconhece o caráter agregador de audiência destes produtos, apenas a suposta usurpação que fazem do material alheio.

Bem, o Google dá seis dicas para quem faz jornalismo usando vídeo. Na verdade, uma aula de indexação _afinal de contas, a maneira mais rápida de sermos encontrados na rede.

A lição serve também para uso interno, ou seja, na organização do nosso acervo. Classificar e etiquetar adequadamente conteúdo virou um trabalho precioso na era da publicação pessoal.

Agregadores na berlinda: de novo, o medo dos grupos de mídia

Afinal de contas, o que é um agregador de notícias senão uma forma de promover e facilitar o acesso a conteúdo jornalístico?

As empresas de comunicação, sempre atrasadas, insistem na tese que de ferramentas como o Google News estão usurpando seus produtos _quando a verdade é que a excelência de um buscador como o desenvolvido pelo Google está justamente criando mais oportunidades para que esse mesmo conteúdo seja visto em sua fonte original.

Não que o Google seja um santo, claro. O simplismo de um diretor da empresa ao comentar a polêmica é reveladora. Afinal, a companhia também se beneficia _no mínimo com pageviews_ da função de agregar conteúdo alheio.

“O Google News não é uma fonte de negócios e, portanto, não há faturamento para dividir com os meios de comunicação. O grande benefício não é apenas para os usuários, mas também para a mídia, que consegue muito mais audiência graças ao trabalho de nosso buscador”, diz Luis Collado, big head do Google na Espanha (onde a companhia realiza 90% das operações de busca _no mundo, essa taxa cai para 66%).

É discussão pra mais de metro, mas nessa, com todos poréns, novamente estou contra os grupos de mídia, que se desesperam ao ver oportunidades criadas totalmente a sua revelia. E, pior, combatem ideias que podem ajudar seus negócios.

O erro dos jornais que investem contra o Google News

Folha e O Globo aderiram, na semana passada, à Declaração de Hamburgo, um documento da indústria dos jornais que clama pelo “respeito às leis de propriedade intelectual para textos jornalísticos reproduzidos na internet”.

O problema é que a carta (PDF), como quase sempre acontece quando neófitos tentam falar ou legislar sobre a web, imagina ser capaz de definir limites absolutamente incontroláveis porque a internet, e quem não sabe disso parou no tempo, é dominada pelo usuário, não por grandes corporações.

Primeiro que os publishers deixam claro que a cobrança por conteúdo é uma prioridade _quase uma panaceia que estabelecerá paredões pagos cujo único efeito prático será o desaparecimento das marcas (e de seu conteúdo) da internet “legal”.

Claro, se você se fecha totalmente a assinantes, se esconde do resto do mundo que usa as ferramentas de busca para encontrar o que deseja. Sem contar que nem isso garante a proteção ao seu rebanho _seu conteúdo será distribuído de um jeito ou de outro, e na maioria das vezes por pessoas que amam você.

Outro erro da indústria jornalística é investir contra agregadores como o Google News. Pode ter certeza de que eles não estão usurpando seu conteúdo, mas o divulgando e levando a lugares que você jamais esperava alcançar.

E não me venham falar no exemplo do The Wall Street Journal, que a cada dia amplia sua carteira de assinantes on-line (eles já são bem mais de um milhão). Informação econômica (e que se reverte em dinheiro) é precisamente a única que o ser humano não está disposto a compartilhar.

Bem por isso Rupert Murdoch adiou recentemente seu plano de cobrar pelo acesso aos sites jornalísticos sob o seu comando. É que é preciso uma justificativa muito forte para fazer as pessoas pagarem pelo que é de graça há tempos na internet.

Trabalho para um psicólogo mesmo.

O Google News e os jornais

Essa era boa, mas eu deixei passar: na terça, Eric Schmidt, executivo do Google, falou num evento da Newspaper Association of America _a mesma cujo presidente, despreparado, foi ridicularizado num humorístico da tv americana.

Claro que Schmidt teve de falar sobre serviços como o Google News, que agrega material noticioso e, portanto, aponta com frequência para sites de jornais. Alguns veem isso como roubo de conteúdo (vários solicitaram até judicialmente a exclusão das menções). Um disparate.

Esses jornais se esquecem que o Google tem muito mais audiência do que todos eles somados. E que a máquina de busca é a grande porta de entrada, hoje, de qualquer conteúdo na web. Se você não aparece numa busca, seja em que ferramenta for, está morto.

Talvez seja isso.

Automações que envergonham o jornalismo

A automação de vários procedimentos, mesmo no jornalismo, é muitíssimo bem-vinda no ambiente on-line. Agora, a edição de notícias e produtos jornalísticos precisa, necessariamente, de seres humanos para não se transformar numa catástrofe.

Vejamos o caso do canal de notícias da American Family Association, uma espécie de TFP deles. Cheio de filtros que substituem automaticamente palavras, trocou o nome do velocista norte-americano Tyson Gay para Tyson “Homossexual”.

O atleta está provocando furor nas seletivas dos EUA para a Olimpíada de Pequim ao correr os 100 m em 9s68, melhor marca de todos os tempos, não homologada depois que se constatou que a velocidade do vento era superior à permitida.

Por aqui, basta olharmos a capa do Google Notícias, onde gente não mete a mão, para capturar vários absurdos de edição _como a presença em destaque, na home page, de um texto sobre a política externa da China absolutamente inchamável em quaisquer circunstâncias.

O jornalismo exige tutano. Mecanismos que funcionam em outras áreas, certamente, não funcionam com a gente, não. E, pior, nos expõem ao ridículo.