Arquivo do mês: julho 2009

NYT produz vídeo-obituário de ex-presidente

Não, um jornalista não torce para ninguém morrer (quer dizer… depende, vai). Mas ele tem de estar preparado para a hora da morte de uma pessoa relevante.

É o caso do New York Times. Além, é claro, de manter atualizadas bases de dados que precisarão apenas de pequenos retoques quando a celebridade se for, o jornal está investindo fortemente em vídeo-obituários _o formato estreou há dois anos, com o comediante Art Buchwald.

 “Olá, eu sou Art Buchwald e acabo de morrer”, diz, o morto brincalhão logo no início do vídeo que inaugurou a sessão, sugestivamente batizada de Last Word, ou última palavra.

A ideia é excelente e funciona assim: primeiro, é claro, o jornal identifica personalidades que estejam, digamos, pela bola sete. É evidente que se trata de uma negociação complicada. Há pessoas, como Buchwald, que entram completamente no espírito do documentário (neste caso, basicamente uma entrevista relembrando passagens da vida do personagem).

Outras, como o comentarista e escritor William F. Buckley, preferem declinar o convite do NYT _a propósito, Buckley morreria meses depois de ter se recusado a falar sobre sua vida e obra.

Segundo David Rummel, produtor-chefe de notícias e documentários do NYT, já há 30 vídeo-obituários prontos e mais dez em produção.

O assunto voltou à tona esta semana porque o jornal revelou, sem divulgar o nome, que já entrevistou um ex-presidente para a seção.

Os Bush (pai e filho) informaram que não deram qualquer tipo de entrevista ao NYT.

Sobraram Carter e Clinton.

Façam suas apostas.

Como convencer seu leitor a pagar por notícias? Pergunte a um psicólogo

Como convencer as pessoas a pagar por conteúdo que há anos está disponível de graça na internet, caso de notícias? Pergunte a um psicológo.

Steve Outing fez exatamente isso: perguntou a B.J. Fogg, professor de Stanford especializado em tecnologia persuasiva (também conhecida como captologia), que técnicas os donos de jornais deveriam utilizar para ter êxito nessa difícil tarefa.

Fogg é, provavelmente, o único profissional que oferece respostas para o hercúleo propósito de mudança do comportamento humano _que é, basicamente, o que pretendem os jornalões com sua risível e impraticável proposta de cobrar pelo que é de graça, e continuará sendo (mesmo construído um muro pago, o conteúdo seguirá sendo distribuído livremente pela rede).

Por que Coca-Cola vende mais que Pepsi?

ATUALIZAÇÃO: Infográfico imperdível sobre história e evolução das marcas, com muitos dados, vídeos históricos etc.

Não tem exatamente a ver com jornalismo, mas sim tudo a ver com construção e manutenção de marca _uma necessidade dos tempos da conversação proporcionada pela internet.

Repare na evolução das logomarcas de Coca-Cola e Pepsi desde 1885.

Marca não é só um logotipo. Representa coerência e unidade.

Trocar de identificação visual como quem troca de roupa não é, positivamente, a melhor estratégia para quem tenta posicionar o seu produto num ambiente altamente competitivo (como o mercado de refrigerantes, por exemplo).

Passa a impressão também de que se está mudando o conceito. E, à exceção das vezes em que isso é absolutamente necessário por imposição comercial, transmite uma sensação de desorientação.

Trazendo a discussão para o nosso meio: mudanças são sempre bem-vindas, mas elas precisam acontecer de forma consoante às necessidades e à solicitação do público (no nosso caso, a ex-plateia, a audiência). Às vezes, como no caso da Cola mais famosa, não foi necessário nem mudar (fórmula secreta incluída).

Percebe-se, especialmente na web, onde as coisas são bem mais dinâmicas, uma sanha de redesenhos de páginas que muitas vezes não levam em consideração a opinião dos usuários e, mais grave, a adequação das reformas à usabilidade (aquele bem que fazemos a quem deseja acessar o nosso conteúdo).

Na Índia, por exemplo, nada menos do que quatro veículos on-line mudaram aparência e apresentação de seus sites nas últimas três semanas. Nos EUA, a NPR (conglomerado público de comunicação) também se repaginou. Resolve?

Não sei. No mundo ideal, a disposição dos conteúdos informativos são personalizados pelo usuário. Ou seja: nestes casos, pouco importa a vontade de mudar apenas por mudar que, muitas vezes, norteia redesenhos de sites. Os conteúdos que serão expostos, na ordem e tempo que serão expostos,  dependem em boa medida de quem os consome.

No final das contas, o cliente sempre tem razão: é ele quem decide se toma Pepsi ou Coca.

 

Um golpe no jornalismo cidadão?

Essa é muito boa para a pequena coleção de argumentos dos que costumam desvalorizar o jornalismo cidadão por uma suposta falta de credibilidade: no domingo, o iReport, espaço colaborativo da CNN, deixou passar uma história sobre Randall Stephenson, CEO da AT&T, que teria sido encontrado morto em sua “mansão multimilionária”.

Era mentira, um trote, mas o mais curioso é que a AT&T (provedor de acesso à web mais utilizado nos Estados Unidos) tomou suas próprias providências e bloqueou um dos fóruns mais movimentados da web americana na qual a informação já bombava e era debatida com fervor (do iReport a “notícia” foi excluída rapidamente).

Não foi a primeira vez que o iReport foi ludibriado por, digamos, engraçadinhos.

Evidente que a possibilidade de trotes não é uma exclusividade da era da conversação e altíssima tecnologia _eu vou voltar no tempo só até 1983, quando internet era um termo usado apenas por militares e alguns acadêmicos, para citar o caso Boimate, no qual a revista Veja foi enganada por uma brincadeira de 1º de abril.

São inúmeros esses “descuidos” editorais que remontam, certamente, à própria época de Gutemberg.

Não têm a ver, portanto, com a produção colaborativa de notícias. Mas é sempre bom repetir e reforçar, porque senão vai aparecer gente dizendo “tá vendo? eu sabia!”.

Isso não exclui a possibilidade de se fazer uma reflexão sobre qual o melhor processo de inserção do público dentro do noticiário.

O iReport, como se sabe, não possui moderação nem edição posterior, ou seja, as notícias ali publicadas (salvo se são mentirosas _mas de fácil checagem, convenhamos, senão jamais serão descobertas) não passam por qualquer jornalista profissional antes de ir ao ar.

Algumas, de tão boas, vão parar no site da CNN em pessoa (a empresa afirma que, até hoje, de quase 321 mil textos postados, 699 chegaram ao mainstream).

Pessoalmente, eu prefiro a mediação e a convivência pro-am, quer dizer, entre profissionais e amadores, o que dá origem ao jornalismo que conceituo como participativo _ou seja, o público efetivamente está participando de um processo. Falamos mais disso em breve.

A jurássica Associated Press

Volta e meia eu falo deste tema, mas a reação de algumas empresas jurássicas como a Associated Press (uma cooperativa de produção de notícias mantida há 163 anos por tradicionais jornais, rádios e emissoras de tv dos Estados Unidos) me impede de esquecê-lo.

A AP voltou à carga agora contra a própria essência da web: está perseguindo sites que simplesmente linkam para suas matérias. Tenebroso, anacrônico e ignorante.

O Columbia Journalism Review reúne opiniões sensatas sobre mais essa ofensiva desprovida de inteligência.

Sensacionalismo nosso de cada dia

Admito que se trata de uma situação atípica (ainda em férias, acompanhei bem por alto o noticiário).

Mas começou com Galvão Bueno, profissional que considero o mais competente da crônica esportiva televisiva nacional. Ao ver Felipe Massa ser embarcado num helicóptero rumo ao hospital após o insólito incidente em Hungaroring, disparou “vai, Felipe. Que deus te leve e que deus te traga com saúde” _a transcrição não é literal.

Leia mais notícias sobre Felipe Massa

Agora há pouco ouvia Milton Neves, na rádio Bandeirantes, dizer que lembrou-se imediatamente de Ayrton Senna ao ver “um lençol” ser estendido durante o atendimento ao piloto brasileiro.

Para quem estava bem longe da notícia, meu caso, soou demais a sensacionalismo.

O receituário do jornalista do presente

Novas habilidades, combinadas com as antigas e que já estamos carecas de saber; espírito empreendedor (eu vivo falando aqui sobre criar as próprias oportunidades, e o ambiente on-line é extremamente propício a esse tipo de coisa); buscar novas formas de colaboração com a audiência e com outros jornalistas.

Bem em resumo (leia o texto completo) é o que receita Adam Westbrook para quem deseja se mobilizar com alguma condição de obter sucesso na profissão neste e nos próximos anos.

Um aspecto que ele aborda bem é a necessidade (ou a conveniência, melhor dizendo) de o jornalista conhecer aspectos técnicos que possam ajudar na construção do diálogo com o público e, também na própria concepção de reportagens.

Lembram? Quando nerd e jornalista são a mesma pessoa, estamos bem arranjados. Senão, é bom tratar de fazê-los conviver harmoniosamente e trocar informações.

Um produto jornalístico que não se preocupa com quem lê

“Blockbuster mentality” ou relevância jornalística? Que caminho seguir quando se faz jornalismo na internet?

Eu costumo dizer que não pode ser o objetivo de ninguém manter um site que não seja acessado. Seria frustrante profissionalmente e uma catástrofe em termos de negócio.

Ao mesmo tempo, abandonar os preceitos do bom jornalismo apenas em troca de cliques a mais, convenhamos, é desabonador.

Temos observado, na web, os dois lados da moeda.

Não vejo absolutamente nenhum problema em se pensar o conteúdo a partir do interesse do leitor. É assim que se começa a desenhar um veículo sintonizado com sua audiência.

Agora, fazer como diz que faz o NYT (segundo o editor de área Jim Roberts, nenhuma decisão tomada leva em consideração o comportamento do usuário) é ridículo ou mentira.

Não é possível editar um site noticioso sem a participação dos leitores. Senhores, isso se chama jornal impresso, produto bem por isso em desuso.

Discussões sobre inovação e edição em jornais impressos

O J&Cia (o informativo da classe) traz nesta semana uma boa dica: os pensamentos compartilhados, sob a capa de blog, de Eduardo Tessler, ponta de lança no Brasil da Innovation _empresa que vive de vender soluções pré-fabricadas para jornais desesperados e/ou desorientados.

Mas Tessler entende das coisas.

Não é sua culpa, portanto, o caráter evangelista, repetitivo e marketeiro das supostas soluções da Innovation.

Retifico: não deve ser toda a culpa.

O blog é bom. Quando cita um exemplo espanhol e lembra que jornais, sim, podem e devem tomar partido, é ótimo. Produtos jornalísticos não são para todos os leitores, mas para um grupo deles, que tem um pensamento comum e se identificam. Jornal não é mais produto de massa, ao contrário, é produto premium, para um público selecionado.

Tessler também pratica comunicação comparada, outro aspecto árduo de se fazer (como criticismo diário) mas que tem um caráter pedagógico notável. Funciona bem nesse caso.

Minha dúvida é se os comentários abarcam preferencialmente  jornais redesenhados pela Innovation.

Não sei a resposta.

O verdadeiro papel do editor de mídias sociais

Apesar de os jornais brasileiros nem saberem do que se trata, já virou consenso planetário, entre quem estuda e analisa a influência das novas tecnologias, a necessidade de um editor de mídia social nas redações.

É o responsável pelo gerenciamento de comunidades do veículo na web (notadamente em sites de relacionamento como Facebook e Twitter, ou redes construídas em páginas como Flickr e Youtube), desenvolvendo técnicas de perseguir a audiência (como bem defende o amigo Sérgio Lüdtke), atender às necessidades do público e, claro, potencializar o interesse por seu conteúdo.

Greg Linch falou um pouco mais sobre o papel do editor de mídia social, esse desconhecido para uma grande maioria retrógrada de jornalistões. Inclusive contando, para isso, com opiniões bem pertinentes de Jennifer Preston, que exerce o cargo no New York Times.

A ideia de o editor ser um moderador, um facilitador, um incentivador e um educador também está perfeitamente em sintonia com o que o trabalho jornalístico hoje, em plena era da conversação, exige dos profissionais que estão na linha de frente do diálogo e compartilhamento de informações com o público.