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AP faz mudanças em manual de redação

A Associated Press (AP) anunciou algumas mudanças sutis em seu Manual de Redação.

Algumas estão relacionadas ao politicamente correto, mas houve reformas polêmicas (como a que trata de suicídio e a que considera o termo ‘Obamacare’ pejorativo).

Ah, os manuais de redação…

Etnias e a Associated Press

O mundo está tão complicado que a maior agência de notícias do planeta, a Associated Press (mantida por um consórcio de jornalões), atualizou recentemente o verbete de seu manual de redação que trata da conveniência de se referir à raça de algum protagonista do noticiário.

Para a AP, a descrição é pertinente em matérias de procurados pela polícia ou pessoas desaparecidas e sugere que a referência racial seja suprimida do conteúdo on-line assim que foram localizados.

Seu negócio vai mal? Contrata uma assessoria!

Quando o seu negócio vai mal, o que você faz? Muda procedimentos, busca ideias novas, troca pessoas?

Não! Você contrata uma empresa de relações públicas (as populares assessorias)!

Foi isso que a Associated Press (AP), a mais antiga agência de notícias em funcionamento, decidiu fazer.

Agora, sua marca será trabalhada pela Speed Communications, que tentará mostrar ao mundo a importância da velha escola de jornalismo.

É a saída fácil para qualquer crise. Resolve? Veremos.

O triunfo das grandes ideias

Principal agência de notícias do mundo (é mantida por uma cooperativa de jornalões, TVs e rádios, por sinal), a Associated Press anunciou que irá ampliar a distribuição, para seus clientes, de conteúdo produzido por entidades sem fins lucrativos que produzem jornalismo, como a ProPublica, que na semana passada ganhou seu segundo prêmio Pulitzer.

Esse modelo de negócios está ganhando o planeta _mostrando mais uma vez que hoje as oportunidades no jornalismo não estão necessariamente nas grandes redações, mas nas grandes ideias.

É como eu sempre digo: pessoas são mais importantes que instituições.

AP estima faturamento de agregadores em US$ 500 milhões

A informação de que os agregadores de notícias movimentam cerca de US$ 500 milhões, estimativa que a agência Associated Press informou em reportagem publicada ontem pela Folha de S.Paulo (só para assinantes), é tão surpreendente quanto difícil de confirmar.

Infelizmente a matéria não esclarece qual o período de apuração desse valor (semanal, mensal, anual?) e, estando a AP na linha de frente do combate aos sites que adicionam (e promovem, diga-se) conteúdo alheio, não dá para acreditar em tudo o que ela diz sobre este tema.

A fonte do texto é Srinandan Kasi, vice-presidente da AP, que está empenhada na criação de um formato parecido ao pagamento de direitos autorais, como ocorre na música, por exemplo, para os criadores de conteúdo linkados por agregadores _a priori, estas páginas não possuem publicidade, daí a dificuldade em entender de onde sairia tanto dinheiro.

Vamos ver onde isso vai dar. A tendência é que em lugar nenhum.

Por que divulgar nomes de envolvidos em crimes?

Qual a utilidade de se divulgar nomes de envolvidos em crimes ou vítimas deles? A não ser que sejam pessoas realmente de interesse público, nenhum _quem guardaria o RG de zé manés, e para que? Crime é crime, importam predicados, mais que sujeitos (com a exceção acima descrita). E aqui vai um comentário que extrapola a idade do infrator.

A Associated Press _agência noticiosa que desde 1848 é bancada por um grupo de jornais e emissoras de rádio e TV dos EUA_ proibiu recentemente, em seus despachos, a divulgação dos nomes de menores de 18 anos “testemunhas ou acusados de crimes”, além de pessoas que digam terem sido vítimas de ataque sexual.

Isso já é lei que fará 20 anos no Brasil em julho (ao menos no que se refere aos menores).

Doug Fisher, num bom post, questiona a funcionalidade e a possibilidade de colocar a medida em prática em escala global, como pretende (corretamente) a AP.

Novas narrativas: a imagem chocante da guerra

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A fotógrafa Julie Jacobson, da Associated Press, se viu diante de um dilema mês passado, quando acompanhava uma incursão do exército americano no Afeganistão e um marine foi atingido por um foguete. Ferido gravemente, não resistiu.

As fotos só foram divulgadas agora.

Julie não interferiu na ação e, à distância, registrou a agonia do soldado e a tentativa, em vão, de salvá-lo. Há quem pergunte como é possível se deparar com situações assim e não correr em socorro da vítima. São os que não conhecem o jornalismo.

Os que conhecem sabem perfeitamente que a melhor maneira de ajudar alguém é registrar fielmente um fato, e contextualizá-lo, para que se entenda por que ele aconteceu.

A história completa de Julie e seu furo de reportagem estão num audio slideshow forrado de imagens bacanas e narração bastante satisfatória do ponto de vista de uma reportagem.

É sobre isso que estamos falando em termos de novas narrativas jornalísticas.

A jurássica Associated Press

Volta e meia eu falo deste tema, mas a reação de algumas empresas jurássicas como a Associated Press (uma cooperativa de produção de notícias mantida há 163 anos por tradicionais jornais, rádios e emissoras de tv dos Estados Unidos) me impede de esquecê-lo.

A AP voltou à carga agora contra a própria essência da web: está perseguindo sites que simplesmente linkam para suas matérias. Tenebroso, anacrônico e ignorante.

O Columbia Journalism Review reúne opiniões sensatas sobre mais essa ofensiva desprovida de inteligência.

Armados com lei de 1918, tubarões caçam amadores

A Associated Press levou, há 91 anos, um concorrente que cozinhava seu conteúdo aos tribunais nos EUA.

Cooperativa mantida por jornais, tvs e rádios do país, a AP se sentiu ameaçada em 1918 pela INS (International News Service), agência de notícias rival de propriedade do magnata William Randolph Hearst _quem inspirou o clássico Cidadão Kane.

A I Guerra Mundial se desenrolava na Europa, e a AP tinha a primazia sobre a informação (não era permitido à INS, que não possuía o carimbo de agência “confiável”, o acesso ao teatro de operações do conflito).

Fato é que a rival da AP conseguia cobrir a guerra por meio de uma sistemática que nunca foi devidamente explicada _aparentemente, emissários de Hearst obtiam simultaneamente, por meio de suborno, as reportagens da AP e, via telégrafo, as transmitiam para seus assinantes, devidamente reescritas.

A estratégia garantiu aos jornais que assinavam os serviços da INS vários furos, notadamente os da costa oeste dos Estados Unidos, quatro horas de fuso atrás de Nova York _e onde a adesão à AP era menor.

A decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos criou a “doutrina da notícia quente”, pela qual grandes grupos, como a AP, detinham o direito de legal de exclusividade sobre as coberturas em que seus concorrentes não conseguissem “apuração independente e checagem”.

Isso em 1918.

Agora, e pelo mesmo motivo, a NBA foi atrás de um site que exibia resultados de jogos da liga de basquete dos EUA em tempo real (sem credencial para acompanhar as partidas in loco), e agências de notícias como a mesma AP caçam agregadores de conteúdos e feeds.

Ainda em há, em alguns Estados americanos (a lei deixou de ser federal), a “doutrina da notícia quente”. É por meio dela que alguns grupos do mainstream têm caçado profissionais e, sobretudo, amadores.

Porém eles não fazem como a INS, que não citava a AP como fonte (despacho do juiz há 91 anos considerava que, houvesse a referência, o delito seria atenuado).

O que é um agregador de feeds senão uma vitrine explícita para o conteúdo ali exibido (uma coleção de links)?

Em tempo: até onde sei, a mais recente demanda judicial de empresonas contra bagrinhos é esta. Patético.

A culpa é das agências de notícias?

Essa é, disparado, a justificativa mais original que já li para a crise dos jornais impressos nos Estados Unidos. Para Paul Farhi (que é repórter do Washington Post), a culpa é da Associated Press, a boa e velha AP, mais antiga agência de notícias do mundo.

O raciocínio, exibido na American Journalism Review, é simples: ao vender seu serviço para portais on-line, a AP matou os impressos. O autor chega a perguntar “porque comprar uma cópia do New York Times se a versão da AP para assuntos nacionais e internacionais já foi distribuída em toda parte” _como se um jornal se resumisse a textos pasteurizados de agências.

A conclusão é que a AP deveria “ter ficado com a família” e se mantido fiel a jornais, tvs e rádios parceiros de longa data.

O texto é longo, mas tem o mérito de analisar o modelo de negócio dos portais e também das agências noticiosas, que hoje distribuem de graça seu conteúdo em sites próprios mas incrivelmente conseguem ser remuneradas pelos veículos que usam seu material.

É um caso raro e que merecerá a nossa atenção em breve.