Arquivo do mês: novembro 2008

A ética no tratamento de imagens

O que é certo ou errado no tratamento de imagens jornalísticas? É essa a pergunta que se faz o livro “Photojournalism, technology and ethics – what’s right and wrong today”, disponibilizado na íntegra para download.

Numa época em que os softwares de manipulação de imagens estão evoluidíssimos, a discussão sobre os limites da fotografia tem tudo a ver.

Excelente dica do Blog do Gjol.

Jornalista é preso por comentário de leitor

Vittorio de Filippis, que dirigiu o jornal francês Libération entre junho e dezembro de 2006, foi detido por causa de um comentário de um leitor, postado no site do veículo, considerado ofensivo à honra de um empresário do ramo de provimento de Internet.

A detenção ocorreu com base numa lei, que versa sobre difamação, de 1881. Por ela, o diretor de uma publicação é o responsável por qualquer delito dessa natureza que conste nas páginas de seu produto.

Mas inclusive quando escritas por um leitor na caixa de comentários (figura que evidentemente não existia há 127 anos)?

Filippis diz ter sido tratado com brutalidade pelos policiais, que o acordaram e o levaram para a delegacia diante dos filhos adolescentes. Ele foi liberado após prestar depoimento por cinco horas.

No Brasil, já houve uma decisão semelhante: comentário concebido por um usuário provocou a condenação, em primeira instância, do blog Imprensa Marrom (a pena, indenização de R$ 3,5 mil). Para se proteger, o site aboliu a caixa de comentários na época da condenação, em 2006 _agora, voltou a oferecê-la sob a justificativa da moderação, antes “impossível”.

Mesmo que juristas divirjam sobre o tema, aqui ou na França _é polêmica a responsabilização do dono de um site por um comentário que ele não fez_, há risco de novas decisões judiciais deste tipo afetarem a liberdade de expressão na Internet.

Saturado de notícias, povo precisa de bons jornalistas

As pessoas estão saturadas de notícias. A psicologia explica esse distúrbio como uma ramificação do déficit de atenção. Com tanta oferta, o que comprar? É neste cenário que o trabalho do jornalista profissional, e sua tarefa de editar e filtrar o noticiário, ganhou ainda mais importância com o avanço tecnológico na era da publicação pessoal.

É mais ou menos isso que Bree Nordenson defende num artigo para a Columbia Journalism Review. Nordenson usou como ponto de partida estudo encomendado pela Associated Press (sobre o qual falei aqui em julho) que analisou o comportamento do consumidor de informação.

O ponto importante da análise é que hoje, mesmo diante de tantas opções informativas, o público não está mais por dentro do noticiário como há dez anos _um levantamento do Pew Research Center for the People & the Press dá um indício disso ao constatar que hoje 69% dos norte-americanos sabem quem é o vice-presidente do país, contra 74% que sabiam isso em 1989.

A conclusão é que falta uma “orientação” para o consumidor de notícias. Em resumo, hierarquização e contextualização do noticiário. Ou seja: o trabalho do bom e velho jornalista.

Esse ponto de vista, numa época em que o trabalho jornalístico é contestado e relativizado pode lançar uma nova luz no debate sobre o futuro da profissão. Fazer as pessoas assimilarem e entenderem o noticiário, defende Nordenson, é o papel a adotar.

Papel que, segundo ele, a revista norte-americana The Week já assumiu há tempos, optando por priorizar a análise e a síntese da informação.

Enfim, são observações auspiciosas para o jornalismo. Vamos acompanhar.

Jornalismo vira game

Um game no qual o jogador assume o papel de um jornalista freelancer e ganha se conseguir publicar sua matéria num jornal relevante. Ainda estava faltando essa para o hall de bizarrices da profissão. Estava.

Global Conflicts, o jogo, glamouriza o trabalho de reportagem usando como cenário algumas regiões “problemáticas” do planeta, como a Palestina ou a América do Sul.

No nosso continente, o game é um festival de clichês e preconceitos. Diz o release de lançamento que “o repórter terá de denunciar fraudes nas eleições, comércio de drogas e tráfico de órgãos”, conforme o release. A cara do filme Turistas, né?

No Oriente Médio, o coleguinha chega a Jerusalém “armado apenas com uma caneta, um bloco de anotações e sua própria esperteza para conseguir transpor os obstáculos no seu caminho”, informa o fabricante do jogo.

No decorrer da “apuração”, o jogador precisa tomar nota dos diálogos para que sua reportagem reproduza fielmente as declarações. Além disso, tem de evitar ser influenciado pelas fontes e favorecer um dos lados em sua matéria. Um jornalista que tome partido pela causa palestina, por exemplo, corre o risco de amanhecer com a boca cheia de formigas se tiver de passar por Israel.

Tirando pieguices do tipo “em quem você vai acreditar?” (quando o frila se depara com versões diferentes para um mesmo fato), o produto tem até alguns aspectos “pedagógicos”, como obrigar o jogador a escolher fotos e participar da diagramação do jornal.

Game over.

Saudades do português…

Nesta quarta participei de um curso rápido (bem rápido!) sobre a nova reforma ortográfica, que a partir de 1º de janeiro será adotada por vários órgãos de imprensa do Brasil _pelo menos os maiores jornais do país, como Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo, já anunciaram a adesão.

Ou seja: será deste jeito que você vai ler e escrever a partir de então.

Dá um pouco de saudade da ortografia antiga, é claro, especialmente porque era algo que você dominava. Você sente que uma das poucas coisas que sabia com segurança acaba de ruir por terra.

Mas enfim, não sou resistente a mudanças e tão pouco refratário. A reforma, além de minúscula (atingirá no máximo 2% de nosso vocabulário, incluida aí uma dose de palavras, como sotopor, que espero nunca usar), corrige algumas distorções e facilita o uso do hífen, por exemplo.

Não há que ser contra, não há que praguejar: é fato. O português não será mais como o conhecemos…

Enxurrada de redes sociais

A Telefónica inaugurou, na Espanha (ainda sem previsão de chegada ao Brasil), a era das redes sociais corporativas. Com o Keteke, a empresa pretende reunir usuários do sistema de telefonia celular que estejam dispostos a se juntar em comunidades e trocar fotos, vídeos e informações.

Isso vai além do conceito de oferecer serviços e cobrar por eles, como já abordamos aqui. E tem bastante a ver com jornalismo, se pensarmos em antecipar tendências.

Veja, 70% dos espanhóis acessa ou já acessou uma rede social. É a quinta nação com mais usuários deste tipo de plataforma. O Brasil é o segundo, quase empatado com o líder, Canadá.

Isso significa que deveremos assistir, nos próximos meses, a uma enxurrada de novas redes sociais, várias delas postas no ar por grandes grupos de comunicação e tecnologia.

Reunir pessoas em torno de interesses comuns (e eles podem, por que não, ser notícias) é mais do que um negócio para vender acesso móvel ou na Web. É o caminho mais rápido para comunicar e mobilizar. Quem já percebeu isso, caso de Barack Obama, sabe muito bem do que estamos falando.

Aleluia: ainda há jornalismo na blogosfera

Ainda bem: não esquecemos que a blogosfera também serve para se fazer jornalismo e prestar serviço _egolatria à parte.

Em meio à tragédia e ao caos da cheia em Santa Catarina, alguns blogs estão prestando serviço, distribuindo informações (oficiais e de jornalistas cidadãos) bastante úteis para a comunidade do Vale do Itajaí. Além disso, há imagens disponíveis na rede.

Aliás, nessas horas o cidadão sempre está à frente do jornalista profissional que, mais um vez, demora a recorrer à população conectada para conhecer a extensão dos problemas e ajudar as autoridades a oferecer soluções.

Neste aspecto, o blog _até mesmo como um diário pessoal_ tem muito a contribuir, ainda, com a profissão.

Um pouco de design não faz mal a ninguém

Uma filipeta chique de Barack Obama ainda candidato à presidência

Uma filipeta chique de Barack Obama ainda candidato à presidência

Este site tem um montão de referências que podem ser úteis um dia para quem tem o desafio de criar um projeto gráfico diferente, moderno, ousado e inteligente (hehehe, tudo isso?).

Basicamente, é uma coleção de imagens, mas que dão idéias fantásticas para vinhetas, seções, páginas inteiras etc.

A dica é da Dani Arrais.

O dia em que Bush morreu

Só agora consegui ver o filme britânico “Death of a President“, forrado de imagens reais, citações e linguagem jornalística. Para quem não sabe do que se trata: Chicago, 19 de outubro de 2007. Após discurso em evento do Clube Econômico de Chicago, o 43º presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, é alvejado mortalmente na frente do luxuoso Sheraton da cidade. A película é dirigida por Gabriel Range.

Construído em linguagem de documentário (ou seja, baseado em “entrevistas” dos principais personagens), o filme me fez lembrar um antigo chefe que (erradamente, claro) se deliciava ao fechar uma reportagem com um (para o repórter) aterrorizador “Mas este cara não fala nada? Fala sim!” dito enquanto “esquentava” as aspas dos entrevistados.

“Death of a President” tem, em vários momentos, as declarações que nós, como jornalistas, pedimos a Deus. Só mesmo numa produção roteirizada para elas serem tão perfeitas. As pessoas não são espirituosas a ponto de conceber frases tão boas. Pelo menos, não durante todo o tempo.

O grande detalhe é que Range, antes de cineasta, é jornalista. Ele se formou na Universidad de Cardiff, no País de Gales, e chegou a trabalhar regularmente na profissão.

Só isso explica o uso, na média, tão adequado da linguagem jornalística no filme (lembra quando eu falei que publicitário, ao imitar a gente, é um desastre?).

Pois é, não são só os publicitários. Em geral, o cinema é um péssimo lugar para se ver nossa profissão reproduzida. A experiência de Range salvou essa.

Quando somos personagens dignos de nota

Quem não conhece o feed Periodistas, no Twitter, está perdendo. Basicamente, ele rastreia a rede procurando referências, em espanhol, a “jornalismo” e suas derivações.

É, muitas vezes, inútil. Pelo menos, nessas ocasiões costuma ser divertido.

A lista de “notícias” do feed não deixa de ser um retrato do que jornalistas (profissionais e amadores) falam e publicam sobre si. E morte é uma coisa que faz o maior sucesso, rapaz.

Foi constatando isso que decidi escrever sobre: há muito mais (o dobro) incidências no Google para a combinação “morre o jornalista” comparada a “morre o músico“. Pensei aleatoriamente em músico imaginando ser uma profissão que implica algum tipo de exposição pública.

Tentei “morre a atriz”. Nova vitória dos cadáveres da notícia. Finalmente, “morre o ator” resgatou minha dignidade e colocou os jornalistas em seu devido lugar.

Não é difícil entender porque isso acontece. Corporativismo puro, claro. Há séculos colegas noticiam a morte de colegas até que chegue o dia de também figurar no obituário. Muitas vezes, apenas por ter pertencido à mesma profissão, um jornalista é alçado automaticamente à condição de personagem digno de nota.

Não, não é.

momentos (raros, insisto) em que, sim, nós protagonizamos um fato e merecemos “cobertura”. Que seja especialmente na hora da morte, porém, tenho lá minhas dúvidas.

Ou será que morre mais jornalista do que servente de pedreiro?