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Refratários?

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Editores do jornal francês Le Monde entregaram os cargos conjuntamente e, acredita-se, o movimento diz respeito à reformulação do periódico, que tenta encontrar um lugar no novo mundo da informação.

Uma reação parecida à da Redação do Libération, também às voltas com a crise do impresso.

Seríamos os jornalistas resistentes a mudanças?

O bar da Rádio Itatiaia

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Principal rádio de Minas Gerais, a Itatiaia abriu um bar em Belo Horizonte que vai reunir, além do acervo da emissora, um estúdio-palco de onde serão transmitidos seus principais programas. O local ainda abrigará cursos e eventos especiais com capacidade para 250 pessoas.

Um telão de 4 m de largura por 2,5 m de altura receberá os torcedores em dias de transmissões – obviamente com a Itatiaia como “trilha sonora”, um ganho institucional para a emissora e, claro, para os anunciantes.

Ainda no mês passado comentei aqui sobre o Libération, cujos acionistas pretendiam dar mais vida à redação criando um espaço de uso coletivo onde as pessoas pudessem encontrar os jornalistas e, também, trazer mais valor à marca do veículo (a redação rechaçou a proposta categoricamente).

O The Guardian possui um café, e o jornal alemão Taz, pioneiro nesse tipo de iniciativa, também.

A exploração de vínculos sociais pode não ser uma tendência apenas no que se refere à virtualidade. E todo mundo tem a ganhar com ela.

Apenas um jornal ruim

Mario Sergio Conti semana passada, na Folha, acrescenta o ingrediente definitivo para entender a crise do Libération, sobre a qual discorri brevemente outro dia. Em resumo: trata-se de um jornal ruim

“De Mao a Rothschild

A debacle do ‘Libération’ não se deve apenas às forças que assediam os jornais em toda parte
A maior façanha do jornal francês “Libération” é ser publicado. De crise em crise, o noticiário pífio, os tristes títulos com trocadilhos e as batalhas internas geraram um turbilhão perpétuo de asneiras. Ninguém, no gozo de faculdades mentais apenas razoáveis, cogitaria saber pelo “Libé” o que se passa, digamos, na Ucrânia. Ou mesmo em Nice.

Nas últimas semanas, as vendas caíram abaixo de 100 mil exemplares, a trincheira que separa o jornal da catástrofe. A publicidade minguou a microcifras e a macrodívida tornou-se super-hiper. Como um tenentinho em Waterloo, tombou mais um diretor de Redação. Foi preciso reagir rápido à fúria dos credores. Os donos do jornal se juntaram ao Napoleão disponível, o decorador hipster Philippe Starck, e surtaram.

Propuseram transformar a redação do “Libération” num café antenado, o “Flore do século 21”. O espaço cultural multifunções abrigaria palco de televisão, rede social, incubadora de start-ups, estúdio de rádio e “lounge” com computadores. Que tal? “Espaço cultural multifunções” não é uma boa ideia para o Itaquerão depois da Copa?

Numa mistura adúltera de parnasianismo gaulês com MBA ianque, os proprietários disseram que, ou bem se tinha “outra visão”, e se “monetizava a marca”, ou então era a “falência”. A Redação retrucou com um gênero literário fora de moda, o manifesto iracundo, e o fez preceder por uma patética manchete: “Nós somos um jornal”. Dá para jurar: não parece.

Criou-se a editoria Nós Somos um Jornal. Ela publica todos os dias análises sisudas e profusas dos suspeitos de sempre. Os teclados estão de prontidão nas barricadas jornalístico-culturais parisienses. Cogita-se ocupar a Redação. Cantarão “A Marselhesa”? Um rap? É tudo bem engraçado. Sobretudo porque não é o nosso jornal que soçobra: Suave, mari magno…

A debacle do “Libération” não se deve apenas às forças que assediam os jornais em toda parte: a internet, os jornais gratuitos do metrô, o envelhecimento dos leitores fiéis. O jornal é vítima da sua própria história, que parece uma parábola.

Na esteira do Maio de 68, ele foi fundado para, conforme dizia, “dar a palavra ao povo”. Não aceitava publicidade e todos tinham direito de voto na Redação. Ele se definia como “uma emboscada na selva da informação”. Uma frase de Marx lhe servia de mote: “A primeira liberdade para a imprensa consiste em não ser uma indústria”. Sartre foi o seu primeiro diretor de Redação.

A efervescência social –entre 1971 e 1975, houve quatro milhões de dias de greves setoriais na França– manteve o jornal vivo. Com o refluxo, vieram os problemas. Sartre, doente e com divergências, se afastou. Ex-estudantes maoístas se assenhoraram do jornal.

Descobriram, encantados, que a revolução cultural chinesa era um mito. A utopia ao alcance da mão estava na Califórnia. Era lá a terra das bandas de garagem, da ecologia, das drogas, do narcisismo assumido, dos costumes liberados, da informática e do espiritualismo new age. Sindicatos e salários, emprego e condições materiais de vida viraram velharias no “Libé”. O historiador Pierre Rimbert define assim a sua receita editorial: “Conformismo político, ortodoxia econômica e excentricidades culturais”.

O jornal aceita publicidade e subsídios estatais, e uma empresa que se envolve nas tramoias da política institucional. “Libération’ é a destruição positiva do esquerdismo”, explicou, em 1986, Serge July, o seu diretor de Redação. Foi ele quem convenceu Édouard de Rothschild a investir no jornal. Rothschild é herdeiro de uma fortuna bancária, um diletante cujo interesse é a criação de cavalos. Virou o maior acionista, o dono de fato do jornal. O banqueiro demitiu July. Agora, cansou-se do hobby e quer se livrar do “Libération”.”

Jornalismo e vínculos sociais

A ideia dos acionistas do Libération – de explorar os vínculos sociais para salvar seu jornal impresso – não é nova: já em 2009, conforme relatei aqui, o jornal alemão Taz fez funcionar um café público no prédio da redação para aproximar sua equipe do consumidor de notícias.

É algo a que o jornalista médio tem horror. Afinal, o jornalista médio escreve para si próprio.

O povo do Blue Bus está discutindo o assunto também. E quem torce o nariz para a ideia? Sim, justamente o… jornalista médio.

Libération quer virar rede social, mas precisa combinar com a redação

libeAfundado na crise, o jornal francês Libération anunciou nesta semana que vai virar uma rede social, produzindo conteúdo para todo tipo de plataforma.

O problema é que o projeto foi imposto goela abaixo da redação, que se revoltou. “Nós somos um jornal”, informa a manchete de sábado, 8 de fevereiro. Dias antes, os jornalistas da casa haviam participado de uma paralisação.

Voltaremos ao assunto em breve, mas acho que tudo é uma questão de equilíbrio: foi justamente por resistir à mudança dos tempos que o ofício do jornalista impresso foi enxugado inexoravelmente.

Um dia sem fotografia

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Para marcar o dia de abertura do Salão de Fotografia de Paris, o jornal francês Libération ousou de novo: foi às bancas sem nenhuma foto para, em suas palavras, para ressaltar seu “valor e energia“.

É uma velha briga minha: a fotografia, evidente, é gênero autônomo de informação. O problema é que os editores (com as exceções de praxe) a usam meramente como ilustração e tapa-buraco. Aí fica difícil reconhecer sua importância jornalística.

O “Libé”, nunca é demais lembrar, é um jornal pra lá de revolucionário: fundado em 1973 por gente como Jean-Paul Sartre, andou sempre na contramão e na oposição. Nesta segunda, por sinal, um homem entrou na sede do jornal e abriu fogo, deixando um ferido.

Telefonia móvel bomba audiência de jornais franceses

Os aplicativos para iPhone começam a bombar a audiência dos jornais franceses. O assistente de leitura do Le Monde, por exemplo, chega a ter 250 mil consultas diárias _o que representa pouco menos do que a tiragem da edição impressa atualmente.

Le Figaro e Libération, os outros jornais importantes do país, conseguem atrair ainda mais público (respectivamente 600 mil e 400 mil usuários diários).

Vem de dispositivos móveis 15% da audiência na web de uma editora que publica revistas populares e femininas (como Télé 7 Jours, sobre TV, e Elle).

São números eloquentes, mas que escondem um erro: os veículos estão fazendo pouco (ou nenhum) dinheiro com esse hype todo. O problema foi ter adotado o serviço sem previsão de cobrança. Ora, os serviços via telefonia móvel são justamente aqueles que as pessoas sempre estiveram habituadas a pagar.

Lembrando que a França, via Minitel (o bom e velho teletexto), sempre esteve na vanguarda da distribuição de conteúdo por telefone.

Agora, que receberam de graça, o mal já está feito. Será muito difícil monetizar produtos que naturalmente deveriam custar alguma coisa e que, erroneamente, foram cedidos sem ônus à audiência.

Jornalista é preso por comentário de leitor

Vittorio de Filippis, que dirigiu o jornal francês Libération entre junho e dezembro de 2006, foi detido por causa de um comentário de um leitor, postado no site do veículo, considerado ofensivo à honra de um empresário do ramo de provimento de Internet.

A detenção ocorreu com base numa lei, que versa sobre difamação, de 1881. Por ela, o diretor de uma publicação é o responsável por qualquer delito dessa natureza que conste nas páginas de seu produto.

Mas inclusive quando escritas por um leitor na caixa de comentários (figura que evidentemente não existia há 127 anos)?

Filippis diz ter sido tratado com brutalidade pelos policiais, que o acordaram e o levaram para a delegacia diante dos filhos adolescentes. Ele foi liberado após prestar depoimento por cinco horas.

No Brasil, já houve uma decisão semelhante: comentário concebido por um usuário provocou a condenação, em primeira instância, do blog Imprensa Marrom (a pena, indenização de R$ 3,5 mil). Para se proteger, o site aboliu a caixa de comentários na época da condenação, em 2006 _agora, voltou a oferecê-la sob a justificativa da moderação, antes “impossível”.

Mesmo que juristas divirjam sobre o tema, aqui ou na França _é polêmica a responsabilização do dono de um site por um comentário que ele não fez_, há risco de novas decisões judiciais deste tipo afetarem a liberdade de expressão na Internet.