Arquivo da tag: convergência

Outra vez, de novo, tudo novamente

Pela segunda vez desde 2008 o diário argentino Clarín reúne seus jornalistas para anunciar a integração das equipes papel e on-line da redação. “Como assim?”. É isso mesmo.

Com o mesmíssimo Ricardo Kirschbaum à frente, a medida “revolucionária” já havia sido tomada há seis anos, fato que na época alçou o jornal à condição de case do livro Periodismo Integrado, de meu mestre Ramón Salaverría.

Pelo jeito, não adiantou.

O receituário é sempre o mesmo: notícias 24 horas por dia, trabalhar para todas as plataformas, os hábitos do leitor mudaram, precisamos dar uma resposta etc, etc, etc.

Fosse fácil, não seria preciso fazer tudo novamente. Onde está erro? Volto ao assunto em breve.

Vida real e o mundo do MEC

O Ministério da Educação acaba de concretizar mais uma trapalhada: a partir de agora, o curso de jornalismo não pode mais ser oferecido como uma habilitação de comunicação, mas apenas como curso independente.

A segregação não tem muito alcance prático além da inevitável detecção de que estamos tratando com gente que não sabe o que acontece na vida real. Pois estamos vivenciando justamente um momento em que todas as disciplinas da comunicação (além do jornalismo, publicidade, marketing e relações públicas) caminham para a convergência e, no mercado, há clara demanda por profissionais habilitados nessas especialidades.

A decisão do MEC de isolar o jornalismo dificulta a tentativa de propor (mais) uma reformulação curricular, em nível de graduação, que possa abranger essa convergência.

Mas abnegados, como eu, seguirão firme nesse caminho e com essa disposição.

Antes tarde do que nunca

Com anos de atraso, a Time (que inventou a revista semanal como a conhecemos hoje) está fazendo uma convergência em sua redação, fazendo com que todos os jornalistas da casa trabalhem para todas as plataformas.

Ainda é a principal dificuldade das fusões de redações: a compreensão, por parte dos jornalistas, que nossa produção independe do suporte.

No caso da Time, que recentemente demitiu 500 pessoas (ou 6% de sua força de trabalho), as mudanças se fazem mais do que necessárias.

El Pais finalmente se rende à convergência

De Juan Luis Cebrián a Javier Moreno (só para citar um ex-diretor celébre e o atual), o jornal espanhol El Pais sempre teve uma certeza: papel e internet não se misturam.

Pois esse paradigma foi quebrado agora que, com direito a uma reformulação do site, o veículo unificou suas redações – e procedimentos.

Vamos esperar mais um pouco para efetivamente sentir as primeiras impressões.

Radiojornalismo hipermidiático

“Radiojornalismo Hipermidiático”, de autoria de Debora Cristina Lopez, está disponível on-line.

No livro a autora, que é da Universidade Federal de Santa Maria (RS), defende que o rádio “já não é mais um meio de comunicação monomídia, mas utiliza linguagem multimídia, dispositivos multiplataforma e novos formatos para o jornalismo.”

Em sua pesquisa, Débora analisou emissoras dedicadas integralmente ao jornalismo, como CBN e BandNews.

Um passo interessante para que repensemos o verdadeiro impacto da conectividade em todas as mídias.

A ideia da convergência de Jenkins transposta para o jornalismo

Mantendo uma tradição recente do Webmanario, hoje é a vez de divulgar mais uma edição da revista Interin, elaborada pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da UTP (Universidade Tuiuti do Paraná).

O dossiê temático sobre “Comunicação e História” é bastante variado e conta com a colaboração de pesquisadores estrangeiros.

Destaco o artigo “Jornalismo Transmidiático ou Multimídia?”, de Carlos Pernisa Júnior, no qual o autor faz uma abordagem interessante sobre as possibilidades multimidiáticas usando como pano de fundo a ideia de convergência colocada por Henry Jenkins, um de meus autores prediletos.

E se o papel abandonasse qualquer tentativa de convergência com o on-line?

O decano Janio de Freitas, em sua coluna nesta semana na Folha de S.Paulo, prossegue a discussão sobre os valores do jornalismo impresso em confrontação com os do on-line usando, para isso, o caso dos vazamentos do WikiLeaks.

Janio lembra que, para ter repercussão, o site de Julian Assange precisou recorrer ao jornalismo tradicional _basicamente o que escrevemos por aqui há algumas semanas.

Só que ele vai além, dando a entender que o papel deveria prescindir de qualquer tentativa de convergência com a plataforma mais rápida e de menor limitação física (caminho cuja trilha, inevitável, já começou).

“Você já reparou em uns pequeninos registros, colocados ao pé de textos, com os dizeres ‘Se quiser ler mais sobre este assunto, veja’ (segue-se o endereço do jornal na internet)? Quase nenhum espaço ocupado com isso. Mas diz muito. É o jornalismo impresso abrindo mão da sua função e transferindo-a à internet que tanto o atemoriza, e que nada lhe pediu. O leitor, que pagou pelo jornal, deve se virar como puder, para ter o complemento de informação pela qual entregou seu dinheirinho. A sonegação de tantas partes em variados assuntos, claro, não terá a correspondência de corte algum no preço do exemplar.”

Isso sim dá pano para uma longa discussão…

A face moderna das notícias

O veterano jornalista inglês Richard Ingrams, 73, fez uma visita à redação do Telegraph registrada pela BBC em áudio.

“Ah, quer dizer que não se fuma mais, mas se bebe?”, pergunta ele, criador de algumas das mais importantes revistas humorísticas do país.

Ingrams notou ainda que o Telegraph tem poucos livros, muitas mulheres trabalhando e bastante silêncio _aliás, presenciei recentemente dois episódios em que pessoas pediam “silêncio” na redação, o que é um absurdo completo (quem quer silêncio em jornalismo tem de trabalhar em assessoria de imprensa de hospital).

A não perder, como diria o António Granado, quem descobriu essa pérola e cujo Ponto Média completou 10 anos. Parabéns.

Diários Secretos: uma saudação ao bom jornalismo convergente

Imperdoável não falar do Grande Prêmio da 55ª edição do Esso, lauréu que os jornalistas mais dão valor, merecidamente conquistado pelos colegas Katia Brembatti, Karlos Kohlbach, James Alberti e Gabriel Tabatcheik, da Gazeta do Povo, de Curitiba.

Por dois anos, e fora da pauta (ou seja, cuidando apenas disso), eles vasculharam o diário oficial da Assembleia do Paraná (um calhamaço de 724 volumes publicados entre 1998 e 2009), até então mantidos em sigilo _ainda há, registre-se, atos secretos que nem a reportagem conseguiu desvendar.

O trabalho, batizado de Diários Secretos, não só revelou um esquema de contratação de funcionários-fantasma e desvio de dinheiro estimado em R$ 100 milhões como foi o estopim de um movimento da sociedade civil, O Paraná que Queremos, que mobilizou milhares de pessoas em junho deste ano em 13 manifestações públicas nas principais cidades do Estado.

Não é só isso: além de o conteúdo dos diários estar disponível para consulta pública, o leitor pôde (ainda pode, na realidade) ajudar os repórteres dando pistas sobre o que sabiam.

Ótima convergência entre jornalismo em papel e a plataforma on-line, com pitada de crowdsourcing. Tudo bem moderno, e ao mesmo tempo, absolutamente antigo: jornalismo, hoje, se faz assim.

Henry Jenkins fala

Uma entrevista do professor Henry Jenkins a Vinicius Navarro (PDF em inglês com versão em português) vale o esforço, aproveitando que vem mais feriado por aí.

Fala-se, claro, de convergência, mas de narrativas transmidiáticas, iniciativas pedagógicas, cinema, direitos autorais, participação e cultura de massa.