Arquivo do mês: maio 2009

Uma maneira de empacotar notícias

Jeff Jarvis, em seu Buzzmachine, nos mostra uma nova maneira de empacotar notícias.

Seguimos tentando buscar uma solução para os jornais impressos…

Jornal publica anúncio classificado que sugere o assassinato de Obama

Perdido no meio dos classificados, o insano anúncio que liga Obama aos quatro presidentes norte-americanos assassinados

Perdido no meio dos classificados, o insano anúncio que liga Obama aos quatro presidentes norte-americanos assassinados

Apesar do péssimo gosto da brincadeira, essa vai entrar para a história: o jornal Times-Observer, da cidade de Warren (Pensilvânia), publicou em sua edição de anteontem um anúncio classificado que sugere o assassinato do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

“Obama pode seguir os passos de Lincoln, Garfield, McKinley e Kennedy”, dizia o pequeno tijolinho de uma coluna por três centímetros de altura. Como se sabe, Lincoln, Garfield, McKinley e Kennedy foram mandatários norte-americanos assassinados no exercício do mandato.

John Elchert, editor do jornal, diz que o anúncio foi pago para circular por três dias, mas sua publicação foi suspensa após “descoberto” na quinta-feira. O jornal ainda divulgou uma retratação.

“O leitor que faz isso com a imprensa é um infeliz”, afirmou Elchert, esclarecendo que o funcionário que aceitou o anúncio não foi demitido porque não soube relacionar os sobrenomes aos dos presidentes mortos.

O jornal diz que o anúncio custou cerca de US$ 30 e que não possui nenhuma informação sobre quem o mandou publicar.

O descuido do Times-Observer levou policiais do FBI à pacata Warren (que tem cerca de 12 mil habitantes). Eles estariam investigando o caso.

Opine: um jornal precisa de manchete todos os dias?

Em plena crise, jornais aumentam preço de capa

O New York Times reajustou em 33% seu preço de capa, num movimento que vai ao encontro do que fizeram boa parte dos jornais americanos. São os casos, por exemplo, de Washington Post, Tampa Tribune e Dallas Morning News _todos estes dobraram de preço nos últimos dois anos.

O mesmo aconteceu com a Newsweek, que tomou um banho de loja, reduziu o número de páginas e… ficou mais cara.

Não parece estranho subir o valor de compra de um produto que é cada vez menos cobiçado? Sim, de nada adianta a Associação Mundial de Jornais avisar que, em 2008, houve um acréscimo de 1,3% na circulação global de periódicos (que se deveu, é claro, aos países emergentes).

Já há números parciais que apontam, para 2009, uma redução considerável da venda dos jornais _o primeiro trimestre foi catastrófico, segundo apontam estudiosos e especialistas no assunto nos Estados Unidos.

O blog Newspaper Death Watch enxerga nessa alta de preços uma hipótese interessante: os jornalões estão se agarrando a seus leitores mais fiéis, que também são mais atrativos para os anunciantes, acelerando assim o processo de queda na circulação (amealhando alguns dólares a mais, porém).

Na prática, os jornais estariam desistindo do impresso para centrar esforços em inovação tecnológica que, finalmente, poderá fazê-los deixar a era paleozoica.

A se conferir.

O atestado de óbito da Gazeta Mercantil

O atestado de óbito da Gazeta Mercantil, que encerrou hoje uma trajetória de 89 anos, saiu na página 13 da última edição (e que eu reproduzo, absolutamente ‘sic’, abaixo).

O jornal fecha, ressalte-se, por uma querela jurídica. Nada a ver, portanto, com a crise global do jornalismo impresso _inclusive porque são justamente os países emergentes (pode chamar de Brics) que ainda mantêm os dados de circulação no azul.

Mais notícias sobre o fim da Gazeta Mercantil

Sobre a querela, que envolve a CBM (Companhia Brasileira de Mídia), propriedade do empresário Nelson Tanure, e Luiz Fernando Levy, que o antecedeu na administração do título, há uma coincidência: justamente hoje, em sua coluna na Folha de S.Paulo, Carlos Sarli contribui para a construção colaborativa de uma história.

Ele fala de publicações impressas sobre surf, antigas e novas.

Lá pelas tantas, cita que “Aos 26 anos, a [revista] Fluir sofre as consequências da mudança de comando na editora Peixes e busca sua independência”. Quero crer que é verdade. Tanto que o site da publicação, referência no segmento e entre as segmentadas, está abandonado.

Nota deste site: A editora Peixes também é administrada pela CBM.

Abaixo, o atestado de óbito da Gazeta Mercantil.

“GAZETA MERCANTIL” VOLTA À S.A. DE LUIZ FERNANDO LEVY
São Paulo, 29 de Maio de 2009 – A CBM publicou hoje ”Comunicado” no qual informa que a presente edição do jornal ‘GAZETA MERCANTIL’ é a última publicada sob sua responsabilidade, nos termos do “Contrato de Licenciamento de Uso de Marcas e Usufruto Oneroso” celebrado por escritura pública de 16 de dezembro de 2003 junto à Gazeta Mercantil S.A., empresa de propriedade de Luiz Fernando Levy.

O ‘Comunicado’ salienta que a partir de 1º de junho próximo, a Gazeta Mercantil S.A. é a única e exclusiva responsável pela edição e comercialização do jornal ”GAZETA MERCANTIL” e pela defesa e conservação das marcas, que são de sua propriedade.

A CBM já iniciou o processo de realocação de funcionários dedicados à edição do jornal para outras atividades dentre as publicações impressas e online do grupo. Embora o contrato de licenciamento conferisse a empresa (Editora JB S.A.) da CBM unicamente a edição e comercialização do jornal, durante o período em que esteve em vigor adiantaram-se recursos para saldar inúmeras obrigações de responsabilidade da Gazeta Mercantil S.A e da Gazeta Mercantil Participações Ltda., empresas de Luiz Fernando Levy, em sua maioria decorrentes de processos trabalhistas e dívidas com fornecedores.

Ao longo de 5 anos, a CBM também disponibilizou adiantamentos de recursos financeiros advindos de royalties contratuais, de modo a propiciar às empresas de Luiz Fernando Levy renda para amortização de obrigações pecuniárias anteriores à celebração do contrato de licenciamento. Tais adiantamentos fazem da CBM credora da Gazeta Mercantil S.A.

A Gazeta Mercantil S.A deixou de observar certas cláusulas causando prejuízo e perturbando em grande medida a edição e comercialização do jornal. Verificou-se, igualmente, que dirigentes da Sociedade Anônima da Gazeta Mercantil agiram de forma contrária aos dispositivos do Contrato de Licenciamento. Sobretudo na tentativa de atribuir à CBM a condição de sucessora das obrigações trabalhistas da Gazeta Mercantil S.A. e da Gazeta Mercantil Participações Ltda., uma vez que ambas as sociedades sempre permaneceram proprietárias de todos os seus bens, tangíveis e intangíveis, inclusive a propriedade das marcas, cujo correspondente direto e uso foi cedido à CBM temporariamente.

O adiantamento de recursos por parte da CBM voltava-se a saldar inúmeras obrigações de responsabilidade da Gazeta Mercantil S.A, ou da Gazeta Mercantil Participações Ltda., em sua maioria decorrentes de processos trabalhistas, especialmente os que gravavam bens pessoais de titularidade de Luiz Fernando Levy. O valor de tais obrigações foi certificado pela BDO TREVISAN e supera R$ 100.000.000 (cem milhões de reais) durante os últimos cinco anos.

A CBM conclui o ‘Comunicado’ reafirmando sua disposição em colaborar para que se dê continuidade, sem interrupção, à publicação do jornal a partir de 1º de junho.

Jornalismo on-line forja ‘paquistaneses da web’

Eles ganham pouco, trabalham muito e reclamam de preconceito. A constatação sobre as condições de trabalho no jornalismo on-line é na França, mas bem poderia ser no Brasil.

Texto publicado na segunda-feira pelo Le Monde acendeu uma interessante polêmica no país ao mostrar que as redações francesas na internet esbarram numa série de problemas. O autor da reportagem avança o sinal e chama seus profissionais de “paquistaneses da web” _escravizados e aprisionados horas a fio diante de um computador.

“Fazemos texto, foto, vídeo, enquetes. Daí, quando vamos pedir aumento, a resposta é sempre a mesma: ‘a internet não dá dinheiro'”, fala uma redatora ouvida na matéria.

Longas jornadas de trabalho, soldo insuficiente, tarefas como copiar e colar incessamente notícias, ambiente de trabalho insalubre e ausência de práticas jornalísticas (como apuração e checagem) são apenas alguns dos questionamentos.

Todos estes problemas existem no jornalismo on-line brasileiro. Inclusive o preconceito: nos jornalões, é hábito ouvir gente do impresso desdenhando os colegas da versão on-line, como se o trabalho que fizessem fosse menor.

Além disso, em algumas empresas, a equipe on-line fica confinada em buracos, praticamente esquecida.

Como na França, aqui ganha-se mal e trabalha-se muito. E em péssimas condições, com gente exigindo a publicação imediata de notícias que nem sequer foram checadas.

É uma geração igualmente mal paga e aprisionada ao computador (sabia que via de regra o jornalista de on-line almoça sozinho porque não há como a redação descer junta para comer _quem atualizaria o site?)

É, nós também temos os nossos paquistaneses da web.

Jornalistas são os profissionais que mais consomem álcool

Os jornalistas lideram o ranking dos profissionais mais bebedores na Inglaterra. Na média, eles consomem 19 copos de chope ou quatro garrafas de vinho por semana (sim, há quem beba ambos).

O estudo, conduzido pelo governo britânico, aponta que o povo de mídia no país bebe 44 doses alcoólicas semanais, o dobro do que é tolerado pelo ministério da Saúde local.

A pesquisa é curiosa e revela resultados que, provavelmente, seriam parecidos em qualquer canto da Terra, como aqui entre nós. Já me perguntaram porque jornalistas bebem tanto (e olha que, quando comecei, em 1990, bebiam muito mais).

Nunca encontrei uma explicação plausível. E eu faço parte da trupe: bebo, não nego. Nunca neguei.

Outro aspecto, que também não tenho dados científicos para comprovar, é a quantidade de coleguinhas fumantes. É apenas uma impressão, mas a incidência realmente parece ser bem maior entre os jornalistas. Repare.

Noite passada mesmo, o papo numa mesa de bar era que, a partir de 7 de agosto, quando começa a vigorar a lei antifumo no Estado de São Paulo, teremos de caminhar mais. Ou sentar fora do boteco.

Enfim, vida de jornalista.

(via @agranado)

Opine: um jornal precisa de manchete todos os dias?

O fim da Gazeta Mercantil

Primeiro jornal só de economia do Brasil (foi fundado em 1920), a Gazeta Mercantil já tem data para fechar as portas, após ao menos uma década de turbulência financeira.

Leia também: o atestado de óbito da Gazeta Mercantil

Jornal publica anúncio que sugere o assassinato de Obama

Opine: um jornal precisa de manchete todos os dias?

Concretizada, a descontinuação é a primeira de um jornal tradicional brasileiro em tempos de crise do jornalismo impresso (capitaneada por Estados Unidos e Europa). Diferente, é verdade _aqui não há, como fator preponderante, a quebra do modelo de contrato com o cliente, mas um racha administrativo mais grave). Ainda assim, é uma defecção importante.

O atual controlador da Gazeta, Nelson Tanure, avisou que não se responsabilizará pela massa falida (leia-se: o imenso passivo trabalhista) da empresa e devolveu o título ao ex-controlador, Luiz Fernando Levy.

Em conversa por telefone com a redação, ontem, Levy já avisou que não tem saúde financeira para tocar o negócio. “Nao se iludam, acabou”, disse aos jornalistas da casa. E tome imbróglio jurídico.

Tanure se propõe “apoiar a transição da Gazeta“, cujo contrato de licenciamento da marca diz ter devolvido pela “incessante penhora de receitas financeiras do uso da marca Gazeta Mercantil para garantir o pagamento de obrigações trabalhistas”.

O site Blue Bus acompanha em cima o desdobramento da crise.

Leia também:
. Cenas trágicas da última edição de um jornal

Newsweek abandona o povo e abraça a elite

A Newsweek colocou em prática neste final de semana, conforme anunciara, seu plano de salvamento. A vestusta publicação de 76 anos agora quer um público mais elitizado à procura de análise em profundidade.

No editorial que marcou a primeira edição após a remodelação, Jon Meacham, seu editor, disse que a Newsweek “não pretende ser seu guia através do caos da Era da Informação”.

As repercussões, por ora, são contraditórias.

A morte de Silvio Santos e a vulnerabilidade da web

A notícia bombástica numa sexta à noite: fake

A notícia bombástica numa sexta à noite: fake

Não há meio mais eficiente para se espalhar um rumor, hoje, do que a internet. Ainda que tenha menos usuários do que a televisão, possui uma capacidade _a do compartilhamento_ que seu decano e passivo concorrente ainda está a anos-luz de oferecer.

Quem fica sabendo pela TV repercute, a priori, com o povo da casa, no máximo com o vizinho. Se der uns telefonemas, amplia esse leque, mas limitadamente. Se for à web, porém, suas chances de atingir mais gente aumentam exponencialmente.

Uma vez já foi o rádio, quando a encenação não anunciada de “A Guerra dos Mundos”, sob a batuta de Orson Welles, causou pânico e sandice numa cidade dos Estados Unidos em 1948.

Nem o jornal está livre, que o diga o 1,5 milhão de falsos exemplares do The New York Times mandados fazer por um ONG e distribuídos gratuitamente no metrô de Nova York no ano passado. Apesar de todas as pistas (a principal, “o NYT de graça?”), houve quem acreditasse que era verdade.

Sexta-feira foi uma noite agitada nas redações. Naturalmente agitada, ao menos nos jornais, quando um exército de abnegados vira a noite escrevinhando a edição de domingo _sim, é por isso que você consegue comprar, na tarde de sábado, o seu jornal do dia seguinte. Por causa de idiotas como eu.

Anteontem um site que cobre celebridades, o Fuxico, anunciou a morte de Silvio Santos. É a reprodução que você no começo deste post. O texto da notícia era o que vai abaixo.

O texto criado pelo hacker: esquisito, mas erros de português redações cometem o tempo todo

O texto criado pelo hacker: esquisito, mas erros de português redações cometem o tempo todo

Não era o Fuxico, mas uma invasão hacker. Gravíssimo, porque penetrou-se num dos servidores supostamente mais protegidos do país, o do portal Terra. E evidenciou-se que há manipulações possíveis nos ambientes menos esperados.

A clonagem de notícias é corriqueira, mas geralmente adota outro modus operandi: o programador copia uma página interna de um site e monta sua história, usando o e-mail (e, portanto, spam) para espalhar a palavra.

Nestes casos também é bem frequente a inclusão de links que conduzem a scripts maliciosos, vírus e spywares.

Não foi o que ocorreu no caso Silvio Santos: a notícia foi realmente publicada na web, e em seu endereço verídico. Durante o ataque, só a home page de O Fuxico ficou fora do ar _todos os menus e demais links funcionavam normalmente, e a notícia da morte do apresentador figurava na lista de últimas do site.

Como sempre, havia pistas para detectar a fraude (não, o português ruim não vale, até mesmo o “falece” costuma ser perpetrado redações afora). O fato de a home page estar fora do ar era o mais palpável. E só ele, para dizer a verdade.

O bom jornalismo fez o que devia, procurou a assessoria do apresentador, soube que ele estava nos Estados Unidos _e bem. Daí, justificadamente, a matéria passou a ser a falsa notícia sobre seu passamento.

Até o próximo ruído.

Pagar por informação exclusiva é falta de ética?

Pagar para conseguir informação privilegiada é falta de ética?

É exatamente essa a discussão que está acontecendo agora na Grã-Bretanha, à raiz do escândalo dos gastos dos deputados da Câmara dos Comuns (como num determinado país que a gente conhece, eles tinham despesas pessoais cobertas pelo erário).

Ocorre que existe a certeza de que o Telegraph, jornalão conservador de Londres, pagou para conseguir os CDs que continham os dados comprometedores. Mais: o veículo sabia, ainda, que a informação havia sido surrupiada por um funcionário do Parlamento, ou seja, era produto de roubo.

A Scotland Yard, polícia inglesa, se recusou a investigar a procedência da informação usando a mesma justificativa dada pelo jornal (“trata-se de atuação em prol do interesse público”).

É verdade, mas fazer jornal não corresponde a uma luta de vale-tudo. Pelo contrário: quem cobra ética tem de praticá-la cotidianamente.

Na Espanha, conta o El Pais em extensa reportagem sobre o tema, é comum pagar por fotos de filhos recém-nascidos de estrelas de TV ou cobertura de casamento de celebridades. É exatamente o que ocorre no Brasil, onde revistas como Contigo e Caras enchem os bolsos de suas fontes em busca de “exclusividade”.

Porém (e é assim no Brasil também) a imprensa dita “de credibilidade” evita recorrer ao expediente. Nos EUA também é assim. Tanto que, quando pagam, os meios mais tradicionais fazem o possível para esconder _caso recente da CNN, que após várias negativas admitiu ter desembolsado US$ 22 mil por um vídeo da Al-Qaeda (mas acredita-se que tenha sido muito mais).

 Se uma emissora de TV quer transmitir um evento com exclusividade, ela paga ao detentor dos direitos. É possível estabelecer algum tipo de comparação entre isso e dar dinheiro a pessoas que oferecem furos? Difícil, eu não consigo.

É certo que mais imoral ainda é receber para não publicar uma informação _e isso, infelizmente, também é recorrente no jornalismo mundial.

Contudo, pagar por uma entrevista, dossiê ou seja lá o que for, certamente, está bem distante da transparência e dos princípios éticos que deveriam nortear o jornalismo profissional.