
A notícia bombástica numa sexta à noite: fake
Não há meio mais eficiente para se espalhar um rumor, hoje, do que a internet. Ainda que tenha menos usuários do que a televisão, possui uma capacidade _a do compartilhamento_ que seu decano e passivo concorrente ainda está a anos-luz de oferecer.
Quem fica sabendo pela TV repercute, a priori, com o povo da casa, no máximo com o vizinho. Se der uns telefonemas, amplia esse leque, mas limitadamente. Se for à web, porém, suas chances de atingir mais gente aumentam exponencialmente.
Uma vez já foi o rádio, quando a encenação não anunciada de “A Guerra dos Mundos”, sob a batuta de Orson Welles, causou pânico e sandice numa cidade dos Estados Unidos em 1948.
Nem o jornal está livre, que o diga o 1,5 milhão de falsos exemplares do The New York Times mandados fazer por um ONG e distribuídos gratuitamente no metrô de Nova York no ano passado. Apesar de todas as pistas (a principal, “o NYT de graça?”), houve quem acreditasse que era verdade.
Sexta-feira foi uma noite agitada nas redações. Naturalmente agitada, ao menos nos jornais, quando um exército de abnegados vira a noite escrevinhando a edição de domingo _sim, é por isso que você consegue comprar, na tarde de sábado, o seu jornal do dia seguinte. Por causa de idiotas como eu.
Anteontem um site que cobre celebridades, o Fuxico, anunciou a morte de Silvio Santos. É a reprodução que você no começo deste post. O texto da notícia era o que vai abaixo.

O texto criado pelo hacker: esquisito, mas erros de português redações cometem o tempo todo
Não era o Fuxico, mas uma invasão hacker. Gravíssimo, porque penetrou-se num dos servidores supostamente mais protegidos do país, o do portal Terra. E evidenciou-se que há manipulações possíveis nos ambientes menos esperados.
A clonagem de notícias é corriqueira, mas geralmente adota outro modus operandi: o programador copia uma página interna de um site e monta sua história, usando o e-mail (e, portanto, spam) para espalhar a palavra.
Nestes casos também é bem frequente a inclusão de links que conduzem a scripts maliciosos, vírus e spywares.
Não foi o que ocorreu no caso Silvio Santos: a notícia foi realmente publicada na web, e em seu endereço verídico. Durante o ataque, só a home page de O Fuxico ficou fora do ar _todos os menus e demais links funcionavam normalmente, e a notícia da morte do apresentador figurava na lista de últimas do site.
Como sempre, havia pistas para detectar a fraude (não, o português ruim não vale, até mesmo o “falece” costuma ser perpetrado redações afora). O fato de a home page estar fora do ar era o mais palpável. E só ele, para dizer a verdade.
O bom jornalismo fez o que devia, procurou a assessoria do apresentador, soube que ele estava nos Estados Unidos _e bem. Daí, justificadamente, a matéria passou a ser a falsa notícia sobre seu passamento.
Até o próximo ruído.