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Refratários?

lemonde

Editores do jornal francês Le Monde entregaram os cargos conjuntamente e, acredita-se, o movimento diz respeito à reformulação do periódico, que tenta encontrar um lugar no novo mundo da informação.

Uma reação parecida à da Redação do Libération, também às voltas com a crise do impresso.

Seríamos os jornalistas resistentes a mudanças?

O jornalismo debatido e construído com os leitores

“A audiência também produz conteúdo e o distribui de forma muito mais eficaz e influente que qualquer outro jornalista”.

Quem fala isso é um jornalista, Jean-Francois Fogel, pioneiro do jornalão francês Le Monde na internet.

Pra gente parar de achar que é uma “bobagem” o diálogo redação-leitor via redes sociais _principalmente, mas carta e telefone ainda são válidos, apesar de mais demorados.

Felizmente estou na linha de frente de ótimos experimentos práticos neste campo (em breve, notícias aqui). E posso atestar, dia após a dia, a importância dessa relação.

Fogel lembra que o “conteúdo referenciado”, ou seja, o recomendado de amigo para amigo, tem hoje fatia importante como drive de audiência dos sites jornalísticos.

Você não sabe o que está perdendo ao ignorar esse público.

Três boas matérias sobre redes sociais e velha mídia

Excelente o pacote redes sociais/velha mídia que o caderno Mais!, da Folha de S.Paulo, publicou neste domingo.

Ernane Guimarães Neto entrevistou o jornalista David Kirkpatrick, que lança em junho “The Facebook Effect – The Inside Story of the Company That’s Connecting the World”. Na obra, Kirkpatrick vê na rede social mais popular do mundo a ambição de possuir todas as informações pessoais possíveis.

O mesmo Ernane foi a Julia Angwin, editora de tecnologia do “The Wall Street Journal” e que lançou “Stealing MySpace – The Battle to Control the Most Popular Website in America” em março do ano passado. Em abril, o subtítulo já estava desatualizado: o MySpace, que priorizou o conteúdo amador e não gerenciou a presença de seus usuários, foi superado pelo Facebook.

“Eles [O MySpace] foram lentos para reagir tecnologicamente, se atualizar. Não perceberam a tempo que precisavam acrescentar novas atrações, que as outras redes eram ameaças. Sofreram um pouco com a fadiga das pessoas, a tendência para migrar para as novidades, é verdade, mas não fizeram o bastante para mantê-las. Nessa área, se você não inova, fica para trás: as páginas demoram para carregar, o software é velho…”, diz Julia.

Para completar o pacote do Mais!, uma entrevista de Leneide Duarte-Plon com Sylvie Kauffmann, 55 anos, primeira mulher a comandar a redação do Le Monde, ainda hoje um jornal de referência, mas bem menos influente (como de resto todos os outros).

“Vejo a internet como uma oportunidade para a imprensa escrita, e não como uma catástrofe. Ambas são bastante complementares e podem funcionar em relação recíproca”, afirma Sylvie.

Telefonia móvel bomba audiência de jornais franceses

Os aplicativos para iPhone começam a bombar a audiência dos jornais franceses. O assistente de leitura do Le Monde, por exemplo, chega a ter 250 mil consultas diárias _o que representa pouco menos do que a tiragem da edição impressa atualmente.

Le Figaro e Libération, os outros jornais importantes do país, conseguem atrair ainda mais público (respectivamente 600 mil e 400 mil usuários diários).

Vem de dispositivos móveis 15% da audiência na web de uma editora que publica revistas populares e femininas (como Télé 7 Jours, sobre TV, e Elle).

São números eloquentes, mas que escondem um erro: os veículos estão fazendo pouco (ou nenhum) dinheiro com esse hype todo. O problema foi ter adotado o serviço sem previsão de cobrança. Ora, os serviços via telefonia móvel são justamente aqueles que as pessoas sempre estiveram habituadas a pagar.

Lembrando que a França, via Minitel (o bom e velho teletexto), sempre esteve na vanguarda da distribuição de conteúdo por telefone.

Agora, que receberam de graça, o mal já está feito. Será muito difícil monetizar produtos que naturalmente deveriam custar alguma coisa e que, erroneamente, foram cedidos sem ônus à audiência.

Le Monde desvenda o palácio da inovação do NYT

O Le Monde conheceu por dentro o NYT Lab, onde desde 2006 um grupo de jovens testa e desenvolve novidades que possam ser usadas na entrega do produto jornal para um público cada vez mais qualificado e dotado de recursos tecnológicos.

O jornalão francês conta, por exemplo, que são 25 mil os assinantes (por US$ 13,99 mensais) da versão do NYT para o Kindle, o leitor digital criado pela Amazon.

Michael Zimbalist, diretor do NYT Lab, diz que hoje não há um único jornalista do Times que trabalhe apenas para a versão impressa do periódico. É uma informação que eu não posso confirmar, mas que se for verdadeira é fantástica.

Se você quiser conhecer novidades que ainda estão testadas e desenvolvidas pelo laboratório de última geração, fique atento à tag “protótipos” do blog do lab.

(via Ramón Salaverría)

Jornalismo on-line forja ‘paquistaneses da web’

Eles ganham pouco, trabalham muito e reclamam de preconceito. A constatação sobre as condições de trabalho no jornalismo on-line é na França, mas bem poderia ser no Brasil.

Texto publicado na segunda-feira pelo Le Monde acendeu uma interessante polêmica no país ao mostrar que as redações francesas na internet esbarram numa série de problemas. O autor da reportagem avança o sinal e chama seus profissionais de “paquistaneses da web” _escravizados e aprisionados horas a fio diante de um computador.

“Fazemos texto, foto, vídeo, enquetes. Daí, quando vamos pedir aumento, a resposta é sempre a mesma: ‘a internet não dá dinheiro'”, fala uma redatora ouvida na matéria.

Longas jornadas de trabalho, soldo insuficiente, tarefas como copiar e colar incessamente notícias, ambiente de trabalho insalubre e ausência de práticas jornalísticas (como apuração e checagem) são apenas alguns dos questionamentos.

Todos estes problemas existem no jornalismo on-line brasileiro. Inclusive o preconceito: nos jornalões, é hábito ouvir gente do impresso desdenhando os colegas da versão on-line, como se o trabalho que fizessem fosse menor.

Além disso, em algumas empresas, a equipe on-line fica confinada em buracos, praticamente esquecida.

Como na França, aqui ganha-se mal e trabalha-se muito. E em péssimas condições, com gente exigindo a publicação imediata de notícias que nem sequer foram checadas.

É uma geração igualmente mal paga e aprisionada ao computador (sabia que via de regra o jornalista de on-line almoça sozinho porque não há como a redação descer junta para comer _quem atualizaria o site?)

É, nós também temos os nossos paquistaneses da web.

Google é processado por roubar conteúdo

Em bloco, jornais da Bélgica entraram na Justiça contra o que consideram armazenamento ilegal de conteúdo. O réu? Ele, o Google.

A questão já se arrasta desde o ano passado, quando o supermega site de busca (que realiza 98% das operações do gênero na Internet) perdeu ação em primeira instância. Os veículos querem indenização de 49 milhões de euros (mais de R$ 124 milhões). Em setembro, a Corte Suprema da Bélgica julgará a apelação.

O alvo da ação dos jornais belgas é o serviço Google News, objeto de freqüente disputa jurídica. No Brasil, por exemplo, o portal Terra conseguiu, por meio de um acordo, que seu conteúdo não fosse indexado. As empresas jornalísticas entendem que se trata de uso indevido de material protegido por leis de direito autoral.

No entedimento do Google, o serviço é uma espécie de favor, pois “aumenta consideravelmente a audiência dos sites noticiosos”, segundo afirmou um porta-voz da empresa.

Pode ser: The New York Times e Le Monde, só para citar dois casos, estão entre os jornais que saíram do sistema com a mesma argumentação e, meses depois, pediram para voltar.

A foto errada da tragédia idem

A foto acima é de uma tragédia. Mas da tragédia errada.

Explico: no sábado, o jornalão francês Le Monde (aquele afogado em dívidas que recentemente enfrentou uma raríssima greve de jornalistas) publicou reportagem com o sugestivo título de “Hiroshima: o que o mundo nunca disse”, ilustrada com a chocante imagem de corpos inertes, que o prestigioso Hoover Institution, da Universidade de Stanford, possuía em seu acervo.

Pois bem: a foto não retrata o horror pós-bombardeio de Hiroshima, em 1945, mas a devastação de Tóquio no grande terremoto que atingiu o Japão em 1923. O jornal jogou a responsabilidade pelo erro de crédito para o instituto, e lembrou que um livro do historiador Sean Malloy também mostra a imagem como sendo da hecatombe atômica (Malloy, antes tarde do que nunca, agora busca informações sobre o fotógrafo que registrou a cena).

Para nós, fica a lição: confiar na reputação de institutos e historiadores, como se pergunta o Editor’s Weblog, não é suficiente.  O Museu da Paz, em Hiroshima _que é a referência óbvia sobre o assunto_ foi o primeiro a notar o engano. Nem jornal nem historiador nem instituto procuraram o órgão antes de dar a barriga.

Greve inviabiliza edição do Le Monde

Os funcionários do jornalão francês prometeram e cumpriram: não foi para as bancas a edição desta terça do mais prestigioso diário francês, afogado em dívidas e que anunciou um plano de reequilíbrio de suas finanças que envolve a demissão de 130 pessoas.

Rolou piquete na porta da empresa, discursos, cartazes.

É a segunda vez em 64 anos que o jornal não vai para a banca.

Na versão on-line, a manchete de agora (1h36 desta terça) fala de outra manifestação, a de professores descontentes com outro passaralho…

Passaralho!!!!

Nada mais básico na vida de um jornalista do que ser mandado embora.

Afundado em dívidas, o francês Le Monde anunciou um plano para reequilibrar suas finanças que inclui pontapés nos traseiros de 130 coleguinhas.

Deitado na fama, lerdo na Internet e alheio às novas tecnologias, o jornalão francês fechou 2007 com um rombo de 15 milhões de euros.

Aí adivinha, né, vai sobrar pra quem?

Em tempo: como reação, os funcionários do jornal prometem uma paralisação para o dia 14, segunda-feira.