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A construção da mensagem política

Um documento indispensável para compreender a relação entre mídia e política – e como a comunicação se tornou um elemento essencial do jogo eleitoral. Falo do documentário “Arquitetos do Poder” (2010), de Vicente Ferraz e Alessandra Aldé. Com direito a raríssimas imagens do primeiro horário eleitoral da história do Brasil, em 1974 (no frame que você vê abaixo, Ulysses Guimarães faz rima com o MDB, clique na imagem para ver) e várias discussões bacanas sobre essa coisa tão legal como votar.

ulysses_1974

Panair do Brasil

A mais importante companhia aérea brasileira voou de 1930 a 1965, quando foi abatida por uma canetada do regime militar que decretou sua falência – e abriu as portas para Varig, gaúcha como vários dos generais que davam as cartas.

O documentário Pan Air do Brasil, de Marco Altman, é outra referência de sobre como funcionavam as coisas nos tempos dos milicos – nessa época de tanto (e injustificado) saudosismo.

Para pesquisar sobre política externa brasileira

O Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais está de site novo e, com ele, uma plataforma bastante organizada de teses e dissertações sobre a política externa brasileira. Um manancial de informações e pautas para os interessados.

A mídia e o regime militar no Brasil

livro_midia_regimeNo momento em que se coloca, entre repulsa e saudosismo, a discussão sobre regimes militares no Brasil, chega às livrarias “A Mídia e o Regime Militar”, que ajuda a jogar um pouco mais de luz nessa época sombria para vários segmentos da sociedade brasileira – em especial a imprensa.

O autor, Álvaro Nunes Larangeira, é professor do Mestrado e Doutorado em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), mestre e doutor em Comunicação pela PUCRS e pós-doutor em Jornalismo pela Universidade de Coimbra.

“Explicações pífias, justificativas ambíguas e mea-culpas pinoquianos maquiam há décadas as prestações de conta da participação e postura midiática na ditadura militar”, recita a apresentação da obra.

Indispensável.

Vida de estagiário

Jogaram o sofá fora: a editora Condé Nast, que publica revistas de altíssimo nível como Wired e The New Yorker, encerrou seu programa de estágios nos EUA depois de ser processada por um aspirante a jornalista que trabalhava até 12 horas por dia por menos de US$ 12 diários.

No Brasil, apesar de comuns nas redações, o estágio em jornalismo não é regulamentado. Mesmo assim, costuma ser uma vida boa: a garotada via de regra não passa de seis horas de jornada, com feriados e final de semana livre e alguns direitos como vale-refeição. Em muitos casos, ganha-se mais do que jornalistas formados. Errado também.

 

 

 

 

O mea-culpa de O Globo

Muito importante o editorial do jornal O Globo no qual o veículo admite que ter apoiado o golpe militar de 1964 foi “um erro”.

“Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura”, começa o texto, um produto da era da transparência total – imposta pelo avanço tecnológico.

Mais. “À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”.

Palmas.

Cobertura de megaeventos

Se a Copa das Confederações foi um aperitivo, vêm aí Copa do Mundo, no ano que vem, e Jogos Olímpicos, em 2016.

Pensando nos desafios jornalísticos em tempos de massa de meios e sociedade da informação, ministro nesta terça-feira, das 19h às 22h, um curso on-line para debater e analisar a cobertura para muito além das competições esportivas – estas, herméticas, não têm muita margem de manobra.

As inscrições estão abertas.

Protestos, mobilização e mídia social

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As manifestações de rua, essas grandes novidades que têm sacudido 2013 no Brasil (e levado o país à primeira página de todos os jornais do mundo, como do NYT, que você vê acima), vêm acompanhadas de uma discussão tão surrada quanto equivocada: o papel da mídia social nesse tipo de mobilização.

Evidente que, como ferramentas de comunicação, as redes sociais servem precisamente para isso – comunicar e estabelecer nós. Nesse aspecto, me lembro de Clay Shirky e seu mantra sobre o potencial da web e seus derivados na conexão entre seres humanos a um custo quase igual a zero.

Há, ainda, o papel de ajudar a informar, na medida em que produções feitas pela própria comunidade, dissociada da mídia formal, acabam exibindo facetas não necessariamente no palco principal, mas importantes para a narrativa do todo – sim, falo dos vídeos e relatos cidadãos.

Posto isso, recorro a outro mestre, o sociólogo espanhol Manuel Castells, sempre preciso na análise política de nosso cotidiano. Seja no caso brasileiro, nos indignados da Espanha, no movimento Occuppy ou na Primavera Árabe, não se trata aqui de estabelecer uma linha divisória entre a vida virtual e a vida real. Simplesmente porque estamos falando do mesmo espaço de convivência.

Nesse sentido, e mais uma vez evocando Castells, não haveria protesto (ou mudanças) se efetivamente não houvesse um desejo de ruptura na sociedade. A mudança não está no Twitter ou no Facebook, mas em quem os opera.

Desgraçadamente, como bem lembrou o amigo Pedro Doria, Castells está meio esquecido justamente no momento em que boa parte de seus escritos fazem todo o sentido.

De resto a capacidade de mobilizar, a mídia social serve também para a vocalização. E aqui precisamos de mais cuidado ainda se lembrarmos uma regrinha clássica da participação em comunidades conectadas, a do 90-9-1.

P0r ela, só 1% dos indivíduos criam conteúdo, enquanto 9% trata de editar e compartilhar a informação disponibilizada pelo grupo de elite. Aos outros 90%, os lurkers, resta o silêncio.

As ruas, porém, andam bem barulhentas. Ainda bem.

A pior censura de todas: a nossa

Apresentado pela revista Veja como modelo a ser seguido em reportagem que mencionava o termo “narcotráfico” uma única vez, e “liberdade de expressão”, nenhuma, o México já tem pelo menos uma triste mazela reproduzida aqui – a autocensura jornalística.

O assassinato de dois jornalistas que cobriam as ações de um grupo de extermínio em Ipatinga (MG) obrigou jornais da região a deixar a pauta de lado – exatamente como acontece no México com quem ousa reportar as atividades do tráfico de drogas.

O país da América do Norte, ressalte-se, é o mais perigoso para o desempenho de funções ligadas ao jornalismo, segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas. De 1992 para cá, foram 28 mortes.

Pouco adianta, no meu entender, o registro de marcas econômicas de alguma expressão, como realçou Veja, se não existe liberdade de expressão, caso do México.

Temos, todos, muito a aprender.

A pátria dos portais

Muita gente chega a este Webmanario por meio da busca “maiores portais de notícias de mundo”. Curioso, porque não há mais portais de notícias no mundo – esse é um modelo que permaneceu, com sucesso comercial, apenas no nosso país.

No início da internet comercial (para nós, isso significa 1996), o portal era como um porto seguro para todos nós, marinheiros de primeira viagem na rede.

Servia pra reunir todos os serviços que, fora dele, pelejaríamos para descobrir num tempo sem Google e com busca pelos malfadados diretórios (um oferecimento de AltaVista e Yahoo).

Foi nos portais que aprendemos a navegar e, aos poucos, descobrir que havia vida fora deles. No Brasil, porém, o modelo prosseguiu mesmo quando somos capazes de passar diretamente por cima deles, e de nossos dispositivos móveis.

Quem diria: o portal acabaria se transformando numa instituição de web genuinamente brasileira.