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Noções e histórias de um mestre do marketing político

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Meu amigo José Paulo Fernandes-Fafe, com quem tive a sorte de poder trabalhar e aprender, acaba de lançar em Portugal o livro “Marketing político, Noções e outras histórias“, pela Primebooks.

A obra destrincha as aventuras e desventuras do trabalho de comunicação em campanhas eleitorais, muitas vezes demonizado, mas sem o qual seguramente as decisões do eleitorado seriam mais difíceis de serem tomadas. O marketing em si jamais é do mal – mas sim o caminho que alguns profissionais da área preferem percorrer.

Mais do que servir como uma espécie de manual, o livro de Fafe (que, como filho de diplomata, teve o privilégio de conviver com personalidades como Fidel Castro) coloca algumas coisas em seu devido lugar. Por exemplo, a dimensão do profissional de marketing num trabalho como esse – que nada mais do é que conhecer o quanto mais possível as pessoas, seu entorno e contexto e extrair daquilo a linha comunicativa que orientará a campanha.

Para meu orgulho, pude colaborar com um grão de areia falando um pouco sobre o marketing digital e suas aplicações em eleições. Para sorte do marketing político, temos alguém qualificado e ético como Fafe para nos contar sua técnica e histórias impagáveis.

Triunfo de Trump põe em xeque estratégia eleitoral de Hillary

O desfecho da eleição americana colocou em xeque uma estratégia do marketing político tão controversa quanto famosa por ter dado com os burros n’água em outras oportunidades: a campanha democrata torrou US$ 33 milhões (ou 68% de todo o custo da empreitada) em anúncios, na TV e na internet, que tinham como único objetivo desconstruir o republicano Donaldo Trump, enfim vencedor.

Na web, nada menos do que todas as dez peças mais compartilhadas pelos usuários partiram da campanha de Hillary Clinton, mas não falavam dela – ressaltavam desatinos verbais do adversário, convidando o receptor das mensagens a confrontar suas convicções morais (veja outros comerciais da eleição americana).

Os conteúdos (em outra decisão polêmica do ponto de vista comunicacional) muitas vezes foram conduzidos sem porta-voz, ou seja, era da boca da própria Hillary que partiam as críticas ao adversário. Enquanto o tiroteio corria frouxo, a agenda positiva foi deixada de lado – e o país ficou sem saber o que Hillary realmente podia fazer pela América.

Durante muito tempo acreditou-se, no Brasil e no mundo, que o caminho escolhido pela campanha democrata era fadado ao fracasso. Análises mais recentes (inclusive a de um pesquisador brasileiro) mostraram, porém, que quem bate não necessariamente perde. Desta vez, mais uma vez, perdeu.

Impossível não voltar a refletir sobre a eficácia deste surrado método e a conclusão, imediata, de que cada eleição tem uma história.

Mídia para quem precisa

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Insólita para os padrões brasileiros (onde a legislação eleitoral proíbe compra de mídia durante a chamada “campanha oficial”), na Argentina a propaganda eleitoral obedece ao padrão americano – o famoso “pagando tá bom”. Foi assim nesta quarta, durante a decisão da copa nacional entre Boca Juniors (afinal campeão) e Rosario Central.

Em meio a anúncios de doce de leite e serviços, surgiu em meio à partida a mensagem política de Daniel Scioli, candidato do kirchnerismo à eleição presidencial que será realizada no próximo dia 22. Uma mídia e tanto.

Sabe de nada, inocente

Se eu tivesse de apontar uma única novidade em comunicação política na eleição que passou, seria o vídeo acima, apresentado pela campanha do peemedebista Paulo Skaf. Limito-me aqui à essência da inovação na linguagem (apesar de que há muito a melhorar, como limpar o excesso de texto, por exemplo).

Evidente que a mensagem política nesse caso foi desastrosa – e provocou a ira do PMDB contra Skaf, em parte explicando seu naufrágio no pleito. Mas foi um sinalm, em meio a tanta coisa “old school”, de que é possível fazer diferente.

A construção da mensagem política

Um documento indispensável para compreender a relação entre mídia e política – e como a comunicação se tornou um elemento essencial do jogo eleitoral. Falo do documentário “Arquitetos do Poder” (2010), de Vicente Ferraz e Alessandra Aldé. Com direito a raríssimas imagens do primeiro horário eleitoral da história do Brasil, em 1974 (no frame que você vê abaixo, Ulysses Guimarães faz rima com o MDB, clique na imagem para ver) e várias discussões bacanas sobre essa coisa tão legal como votar.

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No

Acabo de ganhar uma ridícula disputa por direitos autorais de um vídeo compartilhado no YouTube.

As imagens acima, que pertencem ao povo chileno e dizem respeito ao plebiscito que enxotou Pinochet, quase foram furtadas pela produtora que agencia globalmente o filme “No”.

Na reta decisiva, internet parece ter produzido ruído eleitoral

Se não foi capaz de amenizar totalmente a sensação de irrelevância da internet no processo eleitoral brasileiro, a última semana de campanha exibiu ao mesmo tempo o lado bom e o mais baixo da rede que conecta pessoas.

Ainda que restrito a redes sociais específicas (como Twitter e Facebook), é impossível não notar que o movimento a favor de Marina Silva (a “onda verde”) se acentuou na web precisamente no momento em que a candidatura da verde, enfim, decolou e saiu da estabilidade.

Simultaneamente, ressurgia a velha tática terrorista-cristã, agora espalhada via e-mail e Orkut, principalmente, associando a candidata petista Dilma Rousseff a uma suposta disposição de relaxar os dispositivos legais que coibem o aborto no país, assunto que provoca urticária no eleitorado religioso.

Nos dois casos, os movimentos nascidos na internet parecem ter promovido algum resultado concreto nas urnas _só um levantamento entre os dois grupos de eleitores (os de Marina e os religiosos) é capaz de assegurar o que os indícios mostram.

Ações do gênero, que mudam o rumo de eleições, sempre houve, e isso muito antes da internet. Lembro de 1985, quando FHC titubeou ao responder num debate na TV se acreditava em Deus.

Dias depois, São Paulo amanheceu forrada de cartazetes com os dizeres “Cristão vota em Jânio”, que acabou sendo eleito prefeito, virando uma eleição quase perdida.

A diferença daquela época para hoje é que as campanhas não tinham as mesmas armas de contrainformação que dispõem hoje, quando a facilidade de publicação na rede praticamente deu uma imprensa para cada cidadão.

Marcelo Branco e sua “guerrilha virtual”, contratados pela campanha petista para fazer esse trabalho na internet, nem se deram conta.

(versão revisada de texto meu publicado na edição de ontem da Folha de S.Paulo)