Arquivo da tag: ditadura militar

A mídia e o regime militar no Brasil

livro_midia_regimeNo momento em que se coloca, entre repulsa e saudosismo, a discussão sobre regimes militares no Brasil, chega às livrarias “A Mídia e o Regime Militar”, que ajuda a jogar um pouco mais de luz nessa época sombria para vários segmentos da sociedade brasileira – em especial a imprensa.

O autor, Álvaro Nunes Larangeira, é professor do Mestrado e Doutorado em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), mestre e doutor em Comunicação pela PUCRS e pós-doutor em Jornalismo pela Universidade de Coimbra.

“Explicações pífias, justificativas ambíguas e mea-culpas pinoquianos maquiam há décadas as prestações de conta da participação e postura midiática na ditadura militar”, recita a apresentação da obra.

Indispensável.

Jornal do Brasil, um veículo colaboracionista?

Colunista da Folha de S.Paulo, Janio de Freitas trouxe há alguns dias um tema (para mim) inédito: o Jornal do Brasil, que ele ajudou a revolucionar anos antes, teria se beneficiado – e muito – do período conhecido como ditadura militar, entre 1964 e 1985.

“Durante os 21 anos sem nem sequer os seus mínimos componentes da democracia, a imprensa brasileira (vamos englobar assim jornais, TV, revistas e rádio) teve lucros e outros enriquecimentos maiores, muito maiores, do que em qualquer fase anterior na sua história”, começa o jornalista.

Mais: “Mais importante jornal em todos aqueles anos, o “Jornal do Brasil”, como principal órgão criador de opinião pró iniciativas do regime (“milagre brasileiro”, “Brasil grande”, a designação de “terroristas” para os oposicionistas, nem todos armados, e muito mais) proporcionou o exemplo definitivo da ligação ideológica-econômica dos meios de comunicação com a antidemocracia.”

Estranho em se tratando do veículo que tratou o AI-5 com chacota jamais vista e que, anos depois, ameaçaria a censura com a primeira página sem manchete dando conta da queda de Allende no Chile.

Para a academia se debruçar.

Nas asas da Panair

Clique e veja mais fotos do Museu da Aviação, mantido pela TAM em São Carlos (SP)

Quem conhece bem o Webmanario (daqui a pouco vamos para quatro anos no ar, acredita?) sabe que aviação é o único off-topic tolerado aqui. Nem Corinthians eu consegui transformar num tema eventual de meu próprio site.

Aviões apareceram certo dia nesta página por causa da Vasp e de suas agruras _e aqui permaneceram, para sempre, porque uma legião de fãs e ex-colaboradores da companhia de alguma forma transformou essa esquina onde se discute jornalismo num ponto de encontro para falar da empresa, de memórias, de bons tempos.

Esta semana tirei mais poeira da minha memória da aviação brasileira: fiz uma visita ao espetacular museu mantido pela TAM em São Carlos (a 250 km de São Paulo), onde um Lockheed L-049 Constellation domina o cenário.

Fabricada em 1946, a aeronave estava há mais de 30 anos “congelada” no Paraguai por conta de um imbróglio tributário.

Nas mãos da TAM, foi meticulosamente restaurada e, como homenagem, ganhou as cores da Panair, primeira grande companhia aérea do Brasil, que operou entre 1929 e 1965 e introduziu o maravilhoso Constellation no país _teve 14 equipamentos do tipo na frota.

A Panair é do tempo em que voar significava ser servido com copos de cristal, talheres de prata e pratos de porcelana (o museu tem tímido acervo disso, exibido aos pés do Constellation _não é o caso de se juntar mais coisa para um digno registro de um marco do aviação nacional?).

A trajetória da empresa também foi muito mal contada pelo jornalismo. O episódio da abrupta interrupção de seus serviços, há 46 anos, jamais foi explorado como deveria (ATUALIZAÇÃO: o livro “Pouso Forçado”, de Daniel Leb Sasaki, foi lançado em 2005 e reconstitui os fatos).

A falência da companhia foi decretada pelo governo Castelo Branco sem sustentação judicial que justificasse a extrema medida. Forjada nos Anos JK, perseguido pelo regime militar, a Panair pagou uma conta pesada demais.

Só o documentário “Panair do Brasil” (2008), de Marco Altberg, tentou pôr os pingos nos iis.

E, num trabalho arqueológico de pesquisa, resgatou imagens sensacionais de, por exemplo, os Lockheed L-049 Constellation da aérea em pleno voo – o avião foi idealizado pelo visionário Howard Hughes, que o grande público conhece pela atuação de Leonardo DiCaprio em “O Aviador“.

A Panair merece um museu só pra ela.

Um passeio pelo acervo do JB


Já foram digitalizadas pelo Google (e há algum tempo) quase todas as edições do saudoso Jornal do Brasil.

Entre elas uma das mais célebres, a de 14 de dezembro de 1968, que anunciava o AI-5, decreto que endureceu a ditadura militar e, consequentemente, diminuiu as liberdades civis (fora o “recesso” forçado do Congresso).

A previsão do tempo (que você vê acima) é talvez a peça mais clássica da capa da edição, que tem ainda uma série de fotos non-sense com legendas sensacionais (como a de Garrincha na semifinal da Copa de 1962 sob o título “A hora dramática”.

A não perder.

(a dica é de outra viúva do Jota, o repórter Bernardo Mello Franco).

Vamos resgatar a história do jornal Movimento?

Um grupo de jornalistas e historiadores está empenhado em resgatar a trajetória do jornal Movimento, que entre 1975 e 1981 desafiou a ditadura militar investindo em reportagens investigativas principalmente no campo dos direitos humanos e da consciência política. Foi, é claro, censurado (e muito), mas acabou eterno enquanto durou.

Outro aspecto valioso da experiência foi o sistema de autogestão. O Movimento, que acabaria conhecido como o “jornal dos jornalistas”, foi iniciativa de profissionais da área, sem patrão, sem capital pesado por trás de seu funcionamento _cerca de 300 colaboradores (ou “acionistas”) ajudavam a mantê-lo vivo.

A história do jornal, via Editora Manifesto, vai virar livro, mas para isso os autores estão procurando gente que colaborou com a publicação (dos repórteres aos acionistas, passando por vendedores de rua ou pessoas que tenham tido qualquer tipo de ligação com o veículo).

Gente capaz de dar depoimentos como o que reproduzo abaixo, que dão exatamente o tom do que se tratava trabalhar, ainda que indiretamente, numa publicação assumidamente de esquerda no Brasil dos anos 70.

“Foi com o jornal Movimento debaixo do braço que eu saí da casa dos meus pais e de São Paulo. Conhecer o jornal foi um salto de consciência do que estava acontecendo no país e no mundo. Virei vendedora porque sentia que estava fazendo algo importante, eu era parte da resistência à ditadura. Uma bela noite cheguei em casa, estavam no quintal queimando uma pilha de exemplares… Estavam minha mãe, meu pai, minhas irmãs, queimando tudo. Meu pai disse: ‘prefiro ver você morta a comunista’”.

Jornais sem primeira página vão para a banca

Os principais jornais da Eslováquia foram para a rua hoje sem notícias na capa, com a primeira página praticamente em branco, com um pequeno editorial acompanhado de uma moldura preta.

Capa do SME, de Bratislava

Foi um protesto contra lei aprovada na quarta-feira pelo parlamento do país que, entre outras coisas, tornou o direito de resposta generalizado e sumário, o que vai encher os jornais de lamentáveis desmentidos.

Daí eu me lembrei de Alberto Dines e seu “Jornal do Brasil” sem manchete.

Edição II – Quinta aula

Nesta sexta (4/4) vamos conversar mais um pouco sobre os exemplos que nosso amigo Charles Foster Kane nos deixou para o exercício do jornalismo.E, para não ficar só com o lado B, vamos relembrar um pouco mais a heróica resistência de editores brasileiros à ditadura militar contando, entre outras coisas, sobre as receitas de bolo e poemas que ocupavam as matérias censuradas pelo regime em “O Estado de S.Paulo”.

Depois falaremos sobre essa obsessão minha em tentar nos livrar da monocultura do Google (a conclusão vocês já sabem, é quase impossível), sobre como foi, no mundo, o “Dia sem Google” e porque, afinal, uma máquina de busca tem tanto a ver com jornalismo _até já comentei aqui: além da óbvia ferramenta de pesquisa para os jornalistas, estudos apontam que a cada dia que passa são os serviços de busca que levam os usuários às nossas matérias, não uma home page bonita e empolada.

Aproveitando que o papo foi para a web, conversaremos também sobre Jakob Nielsen, o papa da usabilidade (mas há bispos e cardeais bons também). Nielsen defende que nosso texto siga as regras da pirâmide invertida (mas ressalta a importância dos hiperlinks).

Não vejo choque, portanto, com o conceito da pirâmide deitada (proposta por Ramón Salaverría em 1999 e consolidada por João Canavilhas no texto que, enfim, discutiremos em sala de aula).

E as tarefas do segundo tempo, não rolam? Rolam sim:

1) Pesquise sobre o uso do Twitter, especialmente no jornalismo. Cadastre-se no site e tente enviar uma seqüência de três mensagens.
2) Já escreveu textos no Wikinotícias? Corra, senão a surpresa na prova no dia 18/4 será bem chatinha…
3) E os canais de jornalismo participativo nos sites brasileiros? Vimos, testamos, nos cadastramos? Não? Então vamos lá?