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O ataque, pero no mucho

O documentário “O Ataque à Liberdade de Imprensa”, realizado por Andrey Moral e Marina Maimone, estudantes da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), tangencia talvez aquela que seja hoje a maior ameaça ao exercício profissional do jornalismo.

A violência policial, uma excrescência em si, não é inesperada. A questão, e já não é de hoje, é a agressividade que parte das pessoas que estão nas ruas se manifestando. Há várias histórias de jornalistas agredidos não pelo estado, mas por protagonistas de distúrbios e/ou mobilizações.

Não é só a polícia que, hoje, percebe a imprensa como inimiga. Outro dia mesmo a vítima foi a fotógrafa Marlene Bergamo.

Isso sim é a notícia.

A pior censura de todas: a nossa

Apresentado pela revista Veja como modelo a ser seguido em reportagem que mencionava o termo “narcotráfico” uma única vez, e “liberdade de expressão”, nenhuma, o México já tem pelo menos uma triste mazela reproduzida aqui – a autocensura jornalística.

O assassinato de dois jornalistas que cobriam as ações de um grupo de extermínio em Ipatinga (MG) obrigou jornais da região a deixar a pauta de lado – exatamente como acontece no México com quem ousa reportar as atividades do tráfico de drogas.

O país da América do Norte, ressalte-se, é o mais perigoso para o desempenho de funções ligadas ao jornalismo, segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas. De 1992 para cá, foram 28 mortes.

Pouco adianta, no meu entender, o registro de marcas econômicas de alguma expressão, como realçou Veja, se não existe liberdade de expressão, caso do México.

Temos, todos, muito a aprender.

‘Jornalistas postergam a felicidade’

O Unidade, jornal interno distribuído aos sócios do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, entrevista nesta semana o professor Roberto Heloani, que já esteve no Webmanario por ser o responsável pelo mais completo estudo sobre a saúde física e mental dos coleguinhas.

“O jornalista perdeu o prazer da profissão?”, pergunta o periódico. “A questão é de  identidade”, responde Heloani.

“Continua sendo uma profissão glamourizada. E isso cria uma relação ambígua de amor e ódio. Ao mesmo tempo em que se veem como Dom Quixotes, se veem lá embaixo. Isso é muito esquizofrênico e produz um sofrimento muito grande. Jornalistas postergam a felicidade.”

É isso, não?

Ah, o Unidade é editado pelo meu grande amigo Simão Zygband.

Mais jornalistas condenados à prisão

Não é só na China e no Oriente Médio: na Etiópia, vários jornalistas foram condenados à prisão por suposto delito de “incitação ao terrorismo”.

Evidente, eram críticos do governo.

O jornalismo, positivamente, faz muito mal à saúde.

Jornalista faz greve?

É bissexto e se contam nos dedos as greves que paralisaram o trabalho de jornalistas no Brasil.

A mais célebre foi a de 1979, capitaneada pelo sindicato de São Paulo.

Numa rápida busca encontrei o que poderia ser taxado de protesto em A Tarde, em 2001 – o cruzamento temporário de braços também ocorreu em 1992, no Diário do Grande ABC. Ambos os movimentos, porém, não impediram os jornais de irem às bancas.

A imagem abaixo está circulando em redes sociais com o objetivo claro que alertar o consumidor de notícias sobre as condições em que vários colegas desempenham a profissão. Há a pretensão de se organizar um “dia nacional sem notícias”.

Costuma-se dizer que jornalista não faz greve porque, afinal de contas, quem iria noticiar o movimento?

De toda forma, passou da hora de a categoria refletir mais seriamente sobre a condição de capacho de empresários, muitos deles aventureiros.

Do tempo da oposição a tudo

Mais um processo eleitoral está chegando e, com ele, o irritante Fla-Flu ideológico entre coleguinhas – a soldo ou de consciência – recrudesce.

Sinceramente? Sinto saudade do tempo em que nós jornalistas nos orgulhávamos de fazer oposição – a tudo e a todos. Hoje, parece que quem pensa assim vai direto para o inferno.

Tenho visto coisas que me fazem sentir pena e vergonha alheia, mas o problema é de vocês que não percebem como é ridículo um jornalista adotar essa postura infantil e sectária. Isso sem contar a postura servil de venerar autoridades (e ex-autoridades) que deveriam, isso sim, serem chamadas e cobradas por suas responsabilidades.

Como bom anarquista que sou, vou continuar irritando todos os lados. Quem for jornalista que me siga. Quem não for, siga louvando seus ídolos, mas mantendo distância segura de mim.

Brasil vota contra plano da ONU para proteger jornalistas

Países como o nosso, Índia e Paquistão (onde é alto o índice de crimes contra jornalistas) embarreiraram na ONU a aprovação de uma iniciativa da Unesco que, em linhas gerais, pretende ampliar as instâncias de discussão da importância da liberdade de expressão, além de mecanismo de proteção aos profissionais de imprensa.

O Comitê de Proteção aos Jornalistas da ONU estima em 900 colegas mortos apenas nas últimas duas décadas.

ATUALIZAÇÃO: De acordo com a assessoria de comunicação do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil é a favor do plano de ação, mas contrário ao procedimento para aprová-lo e também a alguns trechos do texto. O país diz não ter dito voz na formatação do plano e questiona, por exemplo, a definição do que seriam “situações de conflito e não conflito” enfrentadas por jornalistas.

 

Jornalista que não gosta de notícia

Pesquisa do grupo norte-americano Arketi sobre os hábitos on-line de jornalistas aponta que 98% dos coleguinhas usam a rede para ler notícias. Até aí, óbvio.

O que eu queria saber de verdade é se os 2% que não fazem isso se consideram mesmo jornalistas.

Infelizmente, a profissão anda muito ruim porque bastante gente recém ingressada na profissão simplesmente não gosta de jornalismo, mas de um assunto específico tratado por ele.

No esporte, isso é bem frequente: a turma gosta de futebol, não de notícia.

Aí não dá, né galera?

As contradições do jornalismo on-line

Pesquisa telefônica feita recentemente com editores de jornal nos EUA mostra uma contradição: eles dizem estar estudando meios de tornar o noticíário mais interativo e com participação do público mas, ao mesmo tempo, 45% admitem que não interagem com os usuários nas caixas de comentários dos sites.

Mais: os jornalistas admitem que a maior parte das decisões editorais são tomadas com base na resposta da audiência, o que significa que, de uma vez por todas, o jornalimo-on-lime assumiu o conceito de televisão para estrututar seu conteúdo.

Google patrocina memorial jornalístico no YouTube

A internet abriga, desde ontem, um memorial de jornalistas que morreram “perseguindo a notícia”, como o Google descreve no canal no Youtube criado em parceria com o Newseum, o museu americano da imprensa.

O projeto já nasce consistente, com várias histórias bacanas de serem lembradas.

Jornalista bom é jornalista vivo _nessas sempre me lembro de Assis Chateaubriand brifando Joel Silveira antes da partida deste para a cobertura da Segunda Guerra (“Não me morra, seu Joel, não me morra. Repórter não é pra morrer, é pra mandar notícia”).

Hoje a guerra é aqui: o maior número de baixas na profissão ocorre fora de zonas de conflito internacional, a mando de poderosos/criminosos.

As coisas mudam.