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A mídia e o regime militar no Brasil

livro_midia_regimeNo momento em que se coloca, entre repulsa e saudosismo, a discussão sobre regimes militares no Brasil, chega às livrarias “A Mídia e o Regime Militar”, que ajuda a jogar um pouco mais de luz nessa época sombria para vários segmentos da sociedade brasileira – em especial a imprensa.

O autor, Álvaro Nunes Larangeira, é professor do Mestrado e Doutorado em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), mestre e doutor em Comunicação pela PUCRS e pós-doutor em Jornalismo pela Universidade de Coimbra.

“Explicações pífias, justificativas ambíguas e mea-culpas pinoquianos maquiam há décadas as prestações de conta da participação e postura midiática na ditadura militar”, recita a apresentação da obra.

Indispensável.

Caiu a ficha?

Demorou, mas a ficha do jornalismo profissional começa a cair: o avanço tecnológico tirou da imprensa a condição de filtro universal e único mediador. Isso é ótimo, mas tem gente que acha muito ruim.

O exemplo é o da administração Obama, que usa as ferramentas da web para falar diretamente aos cidadãos, sem a necessidade de contar, para isso, com a mediação da imprensa.

Daí que exista quem veja manipulação, como mostrou artigo do brilhante site Politico. Abaixo, reproduzo um parágrafo.

“President Barack Obama is a master at limiting, shaping and manipulating media coverage of himself and his White House. Not for the reason that conservatives suspect: namely, that a liberal press willingly and eagerly allows itself to get manipulated. Instead, the mastery mostly flows from a White House that has taken old tricks for shaping coverage (staged leaks, friendly interviews) and put them on steroids using new ones (social media, content creation, precision targeting). And it’s an equal opportunity strategy: Media across the ideological spectrum are left scrambling for access.”

Bom ou ruim, é inexorável.

O cerco à mídia na Argentina

A discussão sobre a Ley de Medios e o cerco à imprensa “independente” na Argentina está pegando fogo.

Para quem trabalha com jornalismo, é impossível achar normal o que está acontecendo no vizinho. Amanhã, e nesse aspecto ainda bem que temos Dilma na presidência, pode ser a gente…

 

 

Jornal do Brasil, um veículo colaboracionista?

Colunista da Folha de S.Paulo, Janio de Freitas trouxe há alguns dias um tema (para mim) inédito: o Jornal do Brasil, que ele ajudou a revolucionar anos antes, teria se beneficiado – e muito – do período conhecido como ditadura militar, entre 1964 e 1985.

“Durante os 21 anos sem nem sequer os seus mínimos componentes da democracia, a imprensa brasileira (vamos englobar assim jornais, TV, revistas e rádio) teve lucros e outros enriquecimentos maiores, muito maiores, do que em qualquer fase anterior na sua história”, começa o jornalista.

Mais: “Mais importante jornal em todos aqueles anos, o “Jornal do Brasil”, como principal órgão criador de opinião pró iniciativas do regime (“milagre brasileiro”, “Brasil grande”, a designação de “terroristas” para os oposicionistas, nem todos armados, e muito mais) proporcionou o exemplo definitivo da ligação ideológica-econômica dos meios de comunicação com a antidemocracia.”

Estranho em se tratando do veículo que tratou o AI-5 com chacota jamais vista e que, anos depois, ameaçaria a censura com a primeira página sem manchete dando conta da queda de Allende no Chile.

Para a academia se debruçar.

O trabalho mais auditado do mundo

É mesmo surpreendente e curiosa a visão que as torcidas têm do trabalho jornalístico formal _ao mesmo tempo em que martelam na tecla de sua gradual irrelevância, o que, sob a luz da era da publicação pessoal, caminha para uma definição conceitual.

Carlos Fernández Liria, escritor e professor de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid, mostra-se totalmente descido do muro ao comentar como a imprensa espanhola se comporta ao cobrir o movimento bolivariano, comandado por Hugo Chávez nas Américas.

“Na Europa há muita censura, a mídia só contrata jornalistas que digam o que lhes interessa”, afirma Fernández.

Claro exagero, mas que passa aquele recado: a internet ampliou a vigilância do público, e o trabalho jornalístico, provavelmente, é o mais auditado do mundo.

Merece até uma quantificação.

‘Não quero uma nação de blogueiros’, diz Steve Jobs

Do evento de terça-feira promovido pelo The Wall Street Journal com Steve Jobs, ficou quase lateral a opinião do messias das novas mídias sobre critério editorial e fontes confiáveis na Internet.

“Não quero uma nação de blogueiros”, disse Jobs, ressaltando a importância de uma imprensa formal possante e democrática.

São palavras com evidente tino comercial: o criador da Apple colocou sua empresa à disposição do mainstream para pensar formas de cobrar por conteúdo na web.

Chineses chutam Gutemberg do pódio

Aqui na minha Pequim, onde inclusive há pouco mataram um pobre-diabo ladrãozinho de motos num estacionamento fétido, a discussão é outra. Os chineses aproveitaram a Olimpíada para revelar ao mundo que foram eles, não Gutemberg, os inventores da imprensa _lembram das alegorias na impressionante (e fake) cerimônia de abertura dos Jogos?
 
“Sem dúvida, fomos os chineses quem inventamos a imprensa. Os europeus dizem que foram eles porque só estudam sua própria história, não a da Ásia”, disse Shi Jinbo, membro da Academia de Ciências Sociais da China, à agência espanhola EFE.

É grande o rol de invenções que os chinses se atribuem. Além da “máquina de imprimir”, entram nessa lista a pólvora, o macarrão, a pizza e até o futebol.

De acordo com a versão chinesa, o precursor da impressão é Bi Sheng (990-1050), que já usava tipos móveis no século 11. O historiador Shi conta que há inúmeros livros e mesmo peças metálicas (os tipos) como prova. “Todos são anteriores ao século 13”, diz.

A teoria de que o processo que originaria o jornal nasceu na China ganha respaldo do acadêmico britânico Timothy Barret, mas não pelas mãos de Sheng. Barret acaba de lançar um livro no qual aponta a imperatriz Wu (625-705) como a real descobridora da imprensa. “Seu feito foi sufocado por puro machismo”, diz o autor de “The Woman Who Discovered Print“.

No Ocidente, a invenção segue creditada a Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (1400-1468).

Enquanto a paternidade volta a ser discutida, já estamos pensando na herança: afinal, a imprensa ainda será útil para as gerações que estão chegando?