Arquivo do mês: abril 2010

A arte de publicar um palavrão na manchete com elegância

Chamou a atenção, nesta semana, a manchete de anteontem do New York Post, tabloide nova-iorquino normalmente desprezado.

A novidade era escrever shit (merda, em inglês) recorrendo a símbolos como $, # e !. Graficamente, funcionou bem.

A matéria a que se refere o título é essa aqui (tudo a ver, portanto).

Produto genuíno da web ameaça hegemonia do NYTimes

Em seu quinto aniversário, o Huffington Post _produto genuinamente da web_ pode conseguir uma proeza: ultrapassar o NYTimes.com em unique visitors. É a projeção que já se faz para este ano.

Com 13 milhões de usuários únicos em março (contra 16,6 milhões do jornalão), a ultrapassagem é iminente.

Basta dizer que, hoje, o tráfego do HuffPo é 94% maior do que ano passado. Nesse ritmo, o site/blog de 70 editores/repórteres contratados (e 6 mil colaboradores gratuitos) tem tudo para virar, definitivamente, um case.

As regras na web, positivamente, são bem diferentes das que estavam acostumadas a ditar as grandes empresas de mídia.

A redação mais cara do mundo

Um vídeo que só pode ser publicitário mostra aparentemente dois editores comandando uma rede de correspondentes conectados e até uma editoria “sem fio” (para assuntos mobile) numa cobertura sobre caos aéreo global.

Difícil fazer uma estimativa, ainda que grosseira, de quanto custaria uma redação tão diligente e com tanto apoio alhures.

Fato é que essa redação ficcional certamente seria a mais cara do mundo. Mas que eles trabalham bem, não há dúvida.

ATUALIZAÇÃO: o Gilson Pôrto Jr. avisa nos comentários que já expandiu a informação sobre o vídeo, o que ele representa e mais: que talvez uma redação assim não seja tão cara, ou melhor, que seu trabalho seja vendido a um preço bastante alto, bancando sua onipresença.

Tribunal dita regras de jornalismo

A Suprema Corte de Justicia, o STF mexicano, acaba de aprovar um pacote de seis resoluções definindo o que é uma reportagem neutra e esclarecendo os limites do direito à privacidade e da liberdade de expressão.

A motivação foi a demanda judicial que a mulher do presidente Vicente Fox, Marta Sahagún, apresentou (e perdeu) contra um revista de celebridades que revelou detalhes de sua vida pessoal.

Para o tribunal, numa reportagem neutra, vale tudo. É o que se depreende do trecho “(…) quando os comunicadores se limitam a divulgar informação de autoria de terceiros, não têm o dever de verificar ou classificar se a intromissão na intimidade (…) tem relevância pública ou não”.

Portanto, basta atribuir a informação, fechar e ir pra casa.

Uma das decisões aprovadas define o que é pessoa pública (em resumo, conhecidas por circunstâncias sociais, familiares, artísticas ou esportivas) e insta os juízes de primeira instância a avaliar, mediante essa régua, se a informação publicada é de interesse público _ressaltando que essa condição “será atualizada em cada caso concreto” por conta da volatilidade das situações “históricas, políticas, econômicas e sociais”.

O pitaco da corte mexicana na nossa profissão alivia as coisas para os jornalistas de lá. Demais, até.

Muito moderno e absolutamente antigo

Coisas modernas também podem ser antigas. Como o programa Ensaio, da TV Cultura, transmitido na década de 70/80 e que voltou nos 90, para jamais se firmar. Depois, sumiu.

A ideia era sabatinar um ídolo da MPB, mas sem que o entrevistador aparecesse. Nem sua voz vazava (ocorria de quando em quando, momento em que nós, os telespectadores, vibrávamos).

Achei um trechinho de Adoniran Barbosa em meados da década de 70 (deve ter sido um dos programas de maior audiência da rede “educativa” de São Paulo).

As perguntas eram feitas, os pedidos de música, enfim, tudo sem o que era demandado. Só o microfone do entrevistado estava “aberto”. Era o tempo todo ele falando, à vezes dizendo ‘heim?’, pedindo a repetição da questão.

Muito moderno, e absolutamente antigo.

Mais ideias pra gente refletir…

O prazer de fotografar numa Polaroid

Outro dia a Polaroid fez anos, e achei um projeto bem interessante na web que usa esse formato (quem está na casa dos 40, como eu, sabe bem o quão sensacional era tirar uma foto e ver a imagem se formar, em poucos minutos, diante de seus olhos).

Pois bem, American Tourist traz de volta um pouco dessa sensação ao registrar turistas em viagens pelos Estados Unidos.

Bom domingo.

O manual de redação do Estadão para seus leitores-comentaristas

No instante em que o jornalismo on-line rediscute o que fazer com os comentários dos leitores (e há quem sugira simplesmente limar toda opinião que não seja identificada por nome completo e RG), reparo nas regras do Estadão on-line para admitir a participação dos leitores no noticiário.

Mais que regras rígidas, constituem verdadeiro seguro contra comentaristas aloprados que, por motivos óbvios, sejam moderados ou mesmo excluídos das instâncias de discussão num site _nessas ocasiões, os delinquentes da palavra costumam recorrer a bandeiras como ‘liberdade de expressão’ para denunciar o que consideram ‘censura’.

Com regras claras, essa bobagem não cola.

Os 20 Mandamentos do jornal para seus leitores-articulistas:

Será considerada infração, a publicação de conteúdo:

1. Ilegal

2. Abusivo

3. Ameaçador

4. Nocivo

5. Obsceno

6. Profano

7. Difamatório de qualquer pessoa ou instituição

8. Discriminatório de credo, raça, condição social ou orientação sexual

9. De Incitação a atos ilícitos

10. De Incitação à violência e/ou ao crime contra pessoas, instituições, países ou a patrimônio público e privado

11. Capaz de ferir a reputação de pessoas ou organizações

12. Que configure Plágio

13. Produzido por terceiros, sem a reprodução autorizada

14. Considerado Spam ou correntes de mensagens

15. Transmissão de ou que leve a locais com material de potencial destrutivo como vírus, worms, cavalos de tróia

16. Propaganda de produto ou serviço

17. Campanha política

18. Falso ou fraudulento

19. Violação do direito de propriedade de uma pessoa ou empresa

20. Que fingem ser de autoria de outra pessoa, famosa ou não

‘A invenção da internet é muito mais importante que a da imprensa’

Quando Arcadi Espada e Juan Varela se reúnem, claro que vêm reflexões boas sobre o trabalho jornalístico na internet.

Espada é taxativo: “Antes [do avanço tecnológico] se fazia um jornalismo pior”.

Sou bem partidário dessa tese, mas aplicada a tudo. Hoje é muito melhor do que ontem em qualquer aspecto.

Espada esculacha arroubos de nariz-de-cera em jornais impressos e critica a intenção de vários deles ao abordarem de maneira filosofal os temas do dia a dia. “A invenção da internet é muito mais importante que a da imprensa”, sentencia.

Varela também fez convites à reflexão. Primeiro: o jornalismo cidadão não existe. “Chega de confundir informação e jornalismo. Quem não se dedica profissionalmente ao jornalismo relata fatos na qualidade de fonte ou testemunha. Nunca como jornalista. A mediação jornalística é fundamental para esclarecer os fatos”. Para ele, nunca houve tanta desinformação sem reação do jornalismo formal”.

Leia mais sobre esse encontro que reuniu outros feras.

Futuro do jornalismo investigativo preocupa Bill Gates

Bill Gates, quem diria, está extremamente preocupado com o futuro do jornalismo. Do jornalismo formal, por assim dizer, já que ele apenas recentemente aderiu às redes sociais _e onde também se faz jornalismo, apesar que em boa medida replicando o mainstream.

Numa entrevista ao San Francisco Chronicle, o criador da Microsoft bateu na tecla da preocupante redução de investimento em reportagens investigativas, especialmente de temas “que o público não gosta tanto, como a saúde global”.

Leitor inveterado de jornais, Gates diz que a blogosfera não irá substituir os grandes grupos de mídia, que teriam a obrigação moral de acompanhar de perto temas relevantes para a humanidade.

Na mesma entrevista, Gates fala bastante sobre redes sociais. Vale a pena dar uma olhada.

Folha Dirigida faz 25 anos. Viva o mercado de nicho!

Como hoje é feriado, não vou tomar o tempo de vocês: passo por aqui apenas para registrar os 25 anos da Folha Dirigida, um jornal de concursos que, muito antes da teoria da Cauda Longa de Chris Anderson, apostou num mercado de nicho e, os anos falam por si só, com sucesso.

Aliás, o nicho de concursos tem uma avenida a ser explorada na internet. Já tive a oportunidade de testar o interesse das pessoas pelo assunto. Claro, concurso significa emprego, que significa dinheiro.

Pense nisso (aliás, vale ler também o texto “Como a teoria da cauda longa se aplica ao jornalismo“, de Valdenise Schmitt e Francisco Antonio Pereira Fialho.