Arquivo do mês: novembro 2009

Fotógrafos escancaram a pobreza nos Estados Unidos

Com o mote “a pobreza não é mais invisível na América”, um coletivo de fotógrafos _auxiliados, diga-se de passagem, por uma belíssima sonorização_ estão usando o jornalismo visual para mostrar como vivem e sofrem os excluídos na nação mais rica do planeta.

Não apenas para a gente lembrar das novas narrativas jornalísticas (até porque essas eu não deixo a gente esquecer nunca, né), mas também da própria função social do jornalismo, esta sim bastante maltratada.

Aliás, será que ainda se discute isso nas redações? Eu, sinceramente, não lembro a última vez que tratei, no dia a dia do jornal, do tema.

A culpa é de todos nós, claro.

A década em sete minutos

A década em sete minutos. Um especialzão bem ao estilo internet preparado pela Newsweek.

De Elián González a Barack Obama numa linguagem rápida, uma resposta que ainda estamos procurando para uma possível linguagem própria de vídeos na web.

Ah, claro: e o beijaço de Madonna e Britney Spears que parou o mundo em 2003 _e que eu paralisei aí em cima para ilustrar este post.

O dia em que o jornalismo derrubou o Orkut

Interpretações equivocadas de dados de pesquisas pululam diariamente na imprensa mundial. Quase nunca, eu diria, se trata de manipulação. É ejaculação precoce mesmo. E é bacana quando não é um jornalista, mas um consumidor de notícias, quem pega a gente no pulo.

Acompanhe como Luiz Yassuda relata, no Brainstorm 9, seu périplo em busca da correção de um post do blog do Portal Exame, que se ancorou num levantamento da E-Life para afirmar que o Orkut não é mais a mídia social mais acessada no Brasil (!).

Além de ter detectado um empate técnico entre a rede social e o Twitter, Yassuda cruzou dados de outras pesquisas e descobriu que a amostra do trabalho da E-Life privilegia eloquentemente as classes A e B.

Diz ele: “Ninguém perguntou ao pessoal da classe C (sendo que 46% deles acessam diariamente a internet e, segundo dados da Telefônica, já formam mais de 30% da base de Speedy e 80% das vendas atuais do serviço de banda larga) qual é o serviço que eles usam mais”.

E, claro, basta dar uma volta por algumas lan houses de bairros periféricos para detectar que a esmagadora maioria está, claro, navegando pelo Orkut _eu me pergunto até quantos deles conhecem, ainda que apenas de nome, o microblog.

Yassuda conclui dizendo que há uma tentativa da imprensa se transformar o Twitter no serviço mais popular do país. Não creio. Acho que o microblog ainda provoca buzz. E que é mais fácil vender uma matéria em cima dele.

Desde que esteja correta, claro. Muitas vezes, nossa própria percepção no dia a dia é a melhor arma contra esse tipo de coisa.

‘As empresas não são o jornalismo’, diz correspondente veterano

Ex-correspondente do espanhol El Pais em Londres, Paris, Nova York, Washington e Roma, Enric González, 50, é um sábio.

Olha só o que ele disse ao receber um importante prêmio jornalístico das mãos do príncipe herdeiro em seu país. “Não dá mais para confiar nas grandes empresas, elas têm outros interesses. Os jornalistas é que deverão se organizar em cooperativas, sociedades, o que for, para continuar fazendo informação. As empresas não são a imprensa”.

Lapidar.

Tudo bem que, na sequência, ele protesta contra as “vozes desconexas” da web, uma insinuação ao suposto “caos informativo” advindo do uso cada vez maior da rede.

Nesse ponto, meu querido González, não vai ter jornalista que segure.

Ele diz ainda que o jornalismo do futuro será aquele que os jornalistas quiserem. Outra bobagem: será o que o público quiser. Já é assim, é inexorável. Ou não haveria editores de mídia social pululando em tantas redações, não é mesmo?

Mas a noção de que pessoas são maiores que as instituições, essa sim está corretíssima.

Uma pequena descrição sobre o papel do curador de conteúdo on-line

Há tempos eu tinha determinado a mim mesmo escrever algumas linhas sobre o trabalho de curadoria de conteúdo na web, um aspecto novo e que me parece altamente relevante com o buzz das mídias sociais e sua integração cada vez maior ao nosso cotidiano.

Vai daí que encontrei uma descrição, feita por Rohit Bhargava, que considerei bem próxima da conceituação que daria ao termo “curador de conteúdo”.

Numa tradução livre, é essa:

“Especialistas preveem que, num futuro bem próximo, o conteúdo na web irá duplicar a cada 72 horas.

A análise pura e simples de um algoritmo não será mais suficiente para encontrar o que estamos procurando.

Para satisfazer a sede das pessoas por bom conteúdo em qualquer assunto que você possa imaginar, precisaremos de uma nova categoria de trabalho individual, de alguém cujo trabalho não seja produzir mais conteúdo, mas contextualizar e dar sentido a todo o conteúdo que os outros estão criando.

Alguém que encontre o conteúdo mais relevante e o passe adiante. Essas pessoas são os curadores de conteúdo, que coletarão e compartilharão coisas, fazendo o papel de “editores cidadãos”, publicando antologias altamente valiosas de material produzido na rede.

Esses curadores trarão mais utilidade e ordem às mídias sociais. Ajudarão, ainda, a estabelecer uma nova sistemática de conversação entre empresas e consumidores baseada em conteúdo de valor, e não mais apenas na criação de mensagens publicitárias.”

Coisas para o presente imediato que são legais para a gente ir pensando seriamente.

Qual o destino dos blogs, simplesmente acabar?

Qual o futuro dos blogs? É uma discussão importante, especialmente num momento em que as redes sociais estão, em boa medida, tomando o lugar dos diários pessoais e inserindo a conversação num aspecto verdadeiramente público e de duas mãos.

A conversa foi um dos temas centrais do World Blogging Forum, encontro realizado na segunda quinzena de novembro em Bucareste (Romênia).

Três conclusões básicas: os blogs, em sua maioria, não serão rentáveis; os governos e o poder político entrarão com força total nessa seara tentando utilizar a plataforma em seu benefício; e as redes sociais, com o Twitter na linha de frente, representarão uma ameaça à relevância da ferramenta.

Esta última, aliás, já se nota: há tempos os comentários se mudaram dos blogs para as redes sociais, O público discute em tempo real as observações/divagações dos blogueiros, sem precisar passar pela moderação no próprio blog gerador do conteúdo.

A blogagem em países não democráticos, porém, tende a manter sua importância especialmente na esfera externa, onde o resto da informação é blindada e nunca chega, ou demora muitíssimo a chegar.

Quem nos conta esse relato é Darío Gallo, editor geral do noticioso argentino Perfil.com.

O Google Wave e as mudanças no jornalismo

Como o Google Wave está contribuindo para o jornalismo?

Leah Betancurt cita, em bom artigo no Mashable, pelo menos quatro grandes áreas onde já é possível perceber interferências do produto, saudado como uma grande plataforma colaborativa _e, de fato, um instrumento interessante para agregar sua audiência num espaço público.

1. Para engajar o público e gerar mais participação;
2. Como “praças públicas”, ou Ágoras modernas;
3. No planejamento de novas ferramentas para as redações;
4. Para incentivar a criação de novas ondas por meio de insights em blogs;

No Brasil, a revista Época foi o primeiro veículo do mainstream a criar um Wave público. A descrição do produto vai bem ao encontro do que citou Betancourt.

ATUALIZAÇÃO: A Dora Matos, nos comentários, mostra que o Guardian também já abriu o olho para a novidade. E Sérgio Lüdtke, o comandante de Época On-line e cabeça por trás do Wave do veículo, responde ao meu chamamento e nos conta a quantas anda a experiência por lá.

A convivência forçada de uma integração de redações

O que acontece quando um grande jornal resolve integrar suas equipes on-line e off-line, e o povo do papel toma conta do produto?

Às vezes, coisas muito ruins, como o choque de culturas que o Washington Post vive exatamente neste momento.

Recentemente, dois dos maiores jornais do Brasil, Folha de S.Paulo e O Globo, decidiram integrar fisicamente suas redações, movimento que já havia sido feito anos antes por O Estado de S.Paulo.

Em todas, porém, aparentemente cada equipe segue trabalhando a sua maneira. Não é o ideal, mas nota-se boa vontade.

No Washington Post, a integração está sendo bem mais traumática. Papel e on-line viviam em mundos totalmente separados (inclusive em prédios distintos separados por um rio) e foram forçados a conviver juntos.

Essa história vai longe.

Vamos melhorar o jornalismo na Wikipedia?

Pede-se melhorar o termo “jornalismo” na Wikipedia.

Várias coisas erradas, clichês, bobagens… e uma bibliografia de meter medo.

Vou começar a meter a mão. Sugiro um mutirão. Vamos ver até onde vai o poder da inteligência coletiva num ambiente tão controlado.

Esso ‘rouba’ nome de jornalista para promover campanha jabazeira

O banner da Esso no Blog de Juca Kfouri foi produzido e inserido sem autorização do jornalista

Que a publicidade é invasiva (e, na web, muito mais do que em qualquer outra mídia), a gente já sabia.

O que dizer quando anunciantes se apropriam de conteúdo jornalístico (ou do nome de um jornalista) para promover sua marca?

Aconteceu com Juca Kfouri nesta semana (como mostra a imagem acima).

Surpreendido pelo golpe baixo, Juca conseguiu que o UOL retirasse o banner da página e promete tomar medidas legais contra a Esso, que avançou todos os sinais possíveis.

A empresa criou, com o sugestivo nome de “Posto de Posts“, uma espécie de fábrica de textos para blogueiros-jabazeiros e sem criatividade ou palavras que, em troca da exibição da marca em suas páginas, recebem “inspirações” para novos posts.

O desastrado banner de divulgação da promoção dizia que, apesar não de serem ácidos, perspicazes e inteligentes como Juca Kfouri, as pessoas poderiam ter um blog “tão bom quanto o dele” simplesmente acessando a tal fábrica de posts.

Uma bobagem sem tamanho.

Uma ideia pífia merecia uma estratégia pífia de divulgação. E terminar nos tribunais por se apropriar do que não devia.

ATUALIZAÇÃO: A Esso pediu desculpas a Juca Kfouri pela trapalhada, e o jornalista desistiu da ação legal.