Por que ano após ano aguardamos um momento específico para diagnosticar e propor mudanças que muitas vezes terão forte impacto em nossa vida pessoal e profissional? Por que não mudar constantemente em vez de esperar o estourar de champanhes – será que é porque ele parece nos fazer acordar de nossa letargia?
Do alto de 49 anos novos bem vividos posso lhe garantir que amanhã será exatamente igual a hoje se você não tomar providências. A troca do calendário, portanto, não pode fazer nem fará nada por você. Tudo continuará como sempre foi depois de você vestir branco, pular sete ondas e beber como se não houvesse amanhã.
Simbolismos são importantes, mas não promovem transformações. Pelo contrário, muitas vezes se constituem em amarras porque adoramos símbolos – e anunciar mudanças em meio a eles ajuda a conferir credibilidade às decisões. Está aí um dos grandes problemas desse modelo: as mudanças são para nós mesmos, não para os outros. Não precisam de discurso ou anúncio oficial, mas de ação.
Uma boa resolução de Ano Novo para 2019 é não ter mais resoluções de Ano Novo, mas resoluções contínuas para a vida cotidiana. Se um processo não está legal no trabalho, porque não meter o dedo na ferida e tentar resolvê-lo? Se um hábito pessoal te incomoda, que mal há em se mobilizar o quanto antes para mitigá-lo?
Cheguei até aqui também graças a uma série de reinvenções – por sinal, 2018 assistiu a mais um par delas sem que pra isso precisasse tocar a musiquinha de “hoje é um novo tempo” na TV.
Mas não, adoramos símbolos, e o da mudança de calendário tem um força tá grande que é capaz de adiar transformações importantes até a Corrida de São Silvestre e a contagem regressiva. Pior, transmite a sensação de mudança ainda que nada mude.
Você não precisa de um Réveillon para tomar decisões, e isso é um alívio: temos todo o ano para rever caminhos e propor novas abordagens. Mas se a gente não mudar, de pouco importa o calendário fazê-lo.