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E o jornalismo, heim?

Polêmica à vista: o crítico de mídia Jack Shafer afirmou, numa entrevista recente, que o jornalismo nunca foi tão acurado. Seu ponto: nunca foi tão fácil checar uma informação em tempos de bancos de dados fartos e acessíveis a um clique.

A sensação, porém, é que há mais erros. Mas isso, convenhamos, acontece porque confirmar as notícias também se tornou uma tarefa quase universal.

É o cão correndo atrás do rabo?

Leituras de FHC

Em seu artigo dominical quinzenal para O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resenhou dois livros que abordam as relações cidadão-instituições (em especial as que exercem o poder) na era da informação.

Trata-se de “Redes de Indignación y Esperanza”, de Manuel Castells (um velho frequentador e amigo desta página), e “The End of Power”, de Moisés Naim – que no Brasil escreve para a Folha de S.Paulo.

“Assim como Castells, Naim reconhece a importância dos movimentos contestatórios contemporâneos e sabe que a perda de legitimidade dos que mandam está na origem das revoltas contra as democracias representativas. Com uma diferença: Naim aposta no reencontro entre o protesto explosivo — “apolítico”, no sentido de ser indiferente à reconstrução do Estado e das instituições — com a renovação dos partidos e das instituições. Não perdeu a esperança no restabelecimento de elos entre a autonomia do indivíduo e a representação política nas instituições, inclusive nos partidos.”

Ambos os livros são ótimos. Excelente dica do ex-presidente.

Como os grandes ficaram pequenos

“The End of Big – How the internet makes David the new Goliath” é mais um livro que analisa a mudança tecnológica que está transformando indústrias como a do jornalismo.

Seu autor, Nico Melle, trabalhou na campanha do democrata Howard Dean à presidência dos EUA em 2004 – essa sim, revolucionária e pioneira no que diz respeito ao uso da internet.

Obama é quem ganhou a fama, mas muito antes dele cara como Melle e Joe Trippi já davam o tom.

O rádio e a transformação

O rádio também está reconfigurando seus padrões em virtude do avanço tecnológico.

O colega Alvaro Liuzzi nos coloca a par de uma interessante conversação sobre o meio, o segundo mais antigo (após o jornal). Haja transformação.

Vaga para estagiário na Economist. Estagiário cientista, por favor.

Essa vai direto para aqueles que defendem com unhas e dentes o diploma de jornalismo e ficam fulos da vida quando veem um ex-atleta comentando jogos na TV: a The Economist, muito provavelmente a melhor revista do mundo, abriu mais vez o processo seletivo para um estágio de três meses em sua editoria de tecnologia.

Pois bem, o edital é claro: a revista não quer um estudante de jornalismo com interesse em ciência, mas sim um futuro cientista que goste de jornalismo.

Não é por acaso que o conteúdo produzido pela publicação está em outro patamar.

Quem sabe, sabe.

Os blogs que nunca foram blogs

Jornais recorreram a blogs porque, institucionalmente, entenderam que só a adoção dessa linguagem já garantia a aparência de vanguarda tecnológica necessária para a sobrevivência na selva da informação. Agora, estão sofrendo com um monstro que eles próprios criaram.

É o que nos conta Carlos Castilho, que refletiu acerca de um muxoxo do ombdusman do Washington Post sobre o tema.

Preocupa-me menos a indisponibilidade para atualizações e relacionamento com o leitorado por parte dos autores dos blogs do que a não-compreensão sobre o escopo da plataforma.

A verdade é que, desde sempre,  boa parte dos blogs jornalísticos jamais foram blogs – a não ser no nome. Por mais que a definição operacional seja delicada, só a ausência de hiperlinks, frequente na imprensa nacional, entre outras omissões, basta para desmascarar a farsa.

A verdade é que blog passou a ser o atalho fácil para a estrada do futuro, ainda que não saibamos como chegar até ela.

A impressão em 3D e a revolução

Tudo começou (como quase tudo em tecnologia) com um artigo na Wired que, depois, viraria um livro (como quase tudo que preconiza Chris Anderson, editor da publicação norte-americana).

Agora, nesta semana a The Economist volta a abordar o assunto. A popularização da impressão em 3D significará, realmente, uma nova revolução industrial?

Calma lá, falar em revolução (como tudo num tempo em que as coisas acontecem depressa demais) parece ser prematuro se levarmos em consideração – e precisamos levar – que uma coisa é a possibilidade de se construir coisas ao apertar de um botão na sala de casa, e outra, muito mais complexa, é ter essa compreensão e o cabedal de conhecimento acumulado necessário para colocá-la em prática.

Mais uma vez, o autor da teoria da cauda longa e do preço zero parece ter pensado longe demais…

Lembranças da tecnologia

Para o Gizmodo, Joe Brown faz uma deliciosa volta no tempo vasculhando a memória em busca de suas lembranças tecnológicas mais longínquas.

Eu, que só tive um computador em casa a partir de 1997 (quando também passei a acessar a internet com mais regularidade), fiquei aqui pensando como foi, nos primórdios, meu contato com a tecnologia.

Lembrei de cara dos gravadores de fita cassete e dos microfones que comprava para narrar jogos de futebol (de verdade e imaginários) , hábito que rapidamente evoluiu para programas de rádio inteiros.

Depois disso, só mesmo o videocassete, que fazia a mesma coisa, mas com imagens. Era 1986 e já existia o computador pessoal popular, o TK85, mas ainda muito longe das minhas mãos…

A era do eu sozinho

Vice-presidente sênior da CNN mundial, Parisa Khosravi é uma testemunha viva de como a tecnologia permitiu que se fizesse – em vários casos – mais com muito menos.

Explico: formada em 1987 (cinco anos de mim, portanto!), ela começou a carreira numa época em que coberturas exigiam muitos equipamentos e, principalmente, equipes numerosas.

“Hoje, em muitos casos, uma ou poucas pessoas conseguem fazer o mesmo trabalho.”

No caso da TV, é uma referência clara ao entorno que acompanhava o repórter, hoje solitário com seu dispositivo móvel com câmera full HD.

Para outras mídias, porém, esse relato é mais do que um alerta: é real, o que tem feito os profissionais, cada vez mais, se desdobrarem.

Vida que segue.

Só bom conteúdo salva


Você conhece o projeto Beyond the Fold, desenvolvido pelo pesquisador português Sebastian Rodriguez Kennedy Bettencourt?

Bem, se trata de mais uma tentativa de mostrar como será o jornal num futuro sem o uso de papel (por questões econômicas sim, mas também ambientais).

Baseado numa navegação sem ícones e botões, o suporte imaginado por Bettencourt poderá mostrar infográficos em 3D e já é capaz de transmitir a sensação de tinta nos dedos – alguém sentiria saudade disso?

Em 2008, ridicularizei uma aproximação menos ousada e mais marqueteira do “futuro do jornal” e ganhei um inimigo para todo o sempre – o excelente profissional que representa no Brasil a consultoria por trás daquela mirabolância – aliás devidamente depositada na lata de lixo da história.

Já naquele texto, e como corroborou agora Bernardo Gutiérrez, eu dizia que a tecnologia não iria salvar o jornalismo. Só bom conteúdo é capaz disso.

Ainda assim, pesquisar e testar novos formatos sempre terá alguma serventia (ainda que sejam apenas boas risadas).