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Leituras de FHC

Em seu artigo dominical quinzenal para O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resenhou dois livros que abordam as relações cidadão-instituições (em especial as que exercem o poder) na era da informação.

Trata-se de “Redes de Indignación y Esperanza”, de Manuel Castells (um velho frequentador e amigo desta página), e “The End of Power”, de Moisés Naim – que no Brasil escreve para a Folha de S.Paulo.

“Assim como Castells, Naim reconhece a importância dos movimentos contestatórios contemporâneos e sabe que a perda de legitimidade dos que mandam está na origem das revoltas contra as democracias representativas. Com uma diferença: Naim aposta no reencontro entre o protesto explosivo — “apolítico”, no sentido de ser indiferente à reconstrução do Estado e das instituições — com a renovação dos partidos e das instituições. Não perdeu a esperança no restabelecimento de elos entre a autonomia do indivíduo e a representação política nas instituições, inclusive nos partidos.”

Ambos os livros são ótimos. Excelente dica do ex-presidente.

Na reta decisiva, internet parece ter produzido ruído eleitoral

Se não foi capaz de amenizar totalmente a sensação de irrelevância da internet no processo eleitoral brasileiro, a última semana de campanha exibiu ao mesmo tempo o lado bom e o mais baixo da rede que conecta pessoas.

Ainda que restrito a redes sociais específicas (como Twitter e Facebook), é impossível não notar que o movimento a favor de Marina Silva (a “onda verde”) se acentuou na web precisamente no momento em que a candidatura da verde, enfim, decolou e saiu da estabilidade.

Simultaneamente, ressurgia a velha tática terrorista-cristã, agora espalhada via e-mail e Orkut, principalmente, associando a candidata petista Dilma Rousseff a uma suposta disposição de relaxar os dispositivos legais que coibem o aborto no país, assunto que provoca urticária no eleitorado religioso.

Nos dois casos, os movimentos nascidos na internet parecem ter promovido algum resultado concreto nas urnas _só um levantamento entre os dois grupos de eleitores (os de Marina e os religiosos) é capaz de assegurar o que os indícios mostram.

Ações do gênero, que mudam o rumo de eleições, sempre houve, e isso muito antes da internet. Lembro de 1985, quando FHC titubeou ao responder num debate na TV se acreditava em Deus.

Dias depois, São Paulo amanheceu forrada de cartazetes com os dizeres “Cristão vota em Jânio”, que acabou sendo eleito prefeito, virando uma eleição quase perdida.

A diferença daquela época para hoje é que as campanhas não tinham as mesmas armas de contrainformação que dispõem hoje, quando a facilidade de publicação na rede praticamente deu uma imprensa para cada cidadão.

Marcelo Branco e sua “guerrilha virtual”, contratados pela campanha petista para fazer esse trabalho na internet, nem se deram conta.

(versão revisada de texto meu publicado na edição de ontem da Folha de S.Paulo)

Nós, os leitores e o filho secreto de FHC

A minha ficha só caiu depois de ler, na seção de cartas de um jornal, um leitor intitulando-se “otário” por só agora ter ficado sabendo que o ex-presidente FHC teve um filho fora do casamento, ainda antes de ser presidente, com a jornalista Miriam Dutra, da Rede Globo.

Claro, o Brasil não é a França, onde casos extraconjugais de políticos são certos, sabidos _e não noticiados. E muito menos os Estados Unidos, onde por muito menos que um filho um presidente quase perdeu o cargo (é verdade que por mentir acerca de seu relacionamento com uma estagiária da Casa Branca, não pelo affair em si).

Será que de fato tratamos como idiotas os nossos leitores durante esse tempo todo? A informação sobre o filho secreto de FHC era, afinal, de interesse público?

Não importa, o fato é que nas redações o assunto era corrente há muitos anos, como uma busca despretensiosa no Google confirma (role a página e leia a nota ‘Conivência: não é bem assim’). Antes do Plano Real eu já sabia disso, pra você ter uma ideia. Estou falando de 1993…

E, mesmo assim, negligenciamos, deliberada ou inadvertidamente, uma informação que, anos depois, fez pelo menos um leitor se sentir um otário.

Eu não sei você, mas eu sinto que fracassei.