Arquivo do mês: junho 2013

Watergate e agenda setting

Um breve estudo sobre a teoria da agenda setting usando como exemplo o caso Watergate. Mais uma excelente dica de Gerardo Albarrán.

Jornalismo ou defesa de interesses?

Os professores Jay Rosen e Jeff Jarvis (ambos da Universidade de Nova York) estabelecem um interessante diálogo em torno da função e da prática do jornalismo. Jarvis pergunta se, no final das contas, o jornalismo não é uma forma de engajamento ou defesa de interesses – o termo usado em inglês é ‘advocacy’.

Sabemos que o jornalismo nasceu assim, partidário, e depois experimentou a transformação pela objetividade em prol da indústria da mídia. Hoje, com essa indústria em cacos, estaríamos voltando a passos largos para as origens do ofício.

Drones e problemas

Muito interessante o relato sobre o uso jornalístico de drones (pequenos veículos aéreos dotados de uma câmera e controlados remotamente) feito por Taís Gasparian à Folha de S.Paulo.

Essas ferramentas se constituem numa grande novidade do mundo das novas narrativas, proporcionando não apenas imagens bonitas como ainda, conforme conta Taís, mais segurança aos repórteres, por exemplo, num front de batalha.

O que não é seguro (ou pelo menos sabemos pouco sobre isso) são os riscos que corre quem está com as cabeças debaixo de um drone. O próprio texto nos relata, em tom de galhofa, um manejo desastrado de um artefato que cobria uma manifestação em Paris e caiu no rio Sena.

Pessoalmente estive muito perto de testar a nova tecnologia no ano passado, num trabalho publicitário, mas as restrições para seu uso eram tamanhas que tive de desistir.

Tudo por conta da precaução (por exemplo, o aparelho não pode sobrevoar vias onde há carros e humanos, há distâncias mínimas de aproximação e até autorizações aeroportuárias são necessárias, de acordo com a região que se quer filmar).

Durante os protestos de rua em São Paulo, a Folha de S.Paulo ignorou esses obstáculos e foi em frente, produzindo um belíssimo material. Ainda bem que tudo deu certo. A miniaturização desse equipamento, que já está em curso mas ainda a preços pouco acessíveis, vai resolver de uma vez por todas esse delicado problema.

Novas velhas mídias

Os protestos de rua no Brasil não são apenas contra a política. Todas as instituições estão no centro da fúria do cidadão que, agora percebeu, não é mais representado por elas. Isso inclui, é claro, a mídia. É também uma crise de credibilidade, não apenas de representação.

Mas ao mesmo tempo em que clamam pelo fim do jornalismo profissional graças à facilidade da circulação de informação dotada pela tecnologia, é na “velha mídia” que as pessoas vão beber sua indignação contra Felicianos e Calheiros da vida, como bem pontua Marcelo Coelho.

Há anos venho dizendo que uma parcela considerável (para não dizer a totalidade) da blogosfera, digamos, “informativa”, desapareceria no segundo seguinte ao apocalipse da imprensa formal.

Isso é extensivo, é claro, ao ambiente de redes sociais, onde a repercussão do noticiário é frequente – inclusive no modo filosofal com que as pessoas têm usado essas ferramentas, ou seja, meramente com o intuito de manifestar seu brilhante pensamento vivo, via de regra motivado por alguma notícia produzida por um profissional.

Onde quero chegar: não existe nova ou velha mídia. O que existe somos todos nós juntos, ajudando a construir uma narrativa, auxiliando-nos uns aos outros no processo de construção e análise do noticiário.

É isso o que verdadeiramente mudou – para muito melhor – com a tecnologia.

A leitura na web está mudando

O padrão de leitura das pessoas está mudando na web. De escaneadores de palavras, estamos passando a leitores um pouco mais atentos – desde que, claro, a informação principal esteja logo no topo da página, e que seja desenvolvida por ordem de relevância (a boa e velha linguagem jornalística).

Mestre Jakob Nielsen ainda está tentando descobrir o que está acontecendo.

Laranjas podres, fora

Um movimento interessante está acontecendo em grandes corporações de entretenimento/jornalismo: elas estão separando sua parte menos rentável (adivinhe qual?) para agradar aos investidores, que gostam de foco e, principalmente, entender o negócio onde põem dinheiro.

A Newscorp, de Rupert Murdoch, está em vias de fazê-lo – seguindo o exemplo da Time.

A ditadura do texto

Transformar em texto aquilo que pode ser contado de forma gráfica (a ditadura do texto, sobre a qual falo bastante aqui) é um erro bastante antigo do jornalismo. Ainda mais com os recursos que temos à disposição hoje.

Pelo visto, no entanto, ele continua incomodando…

Lá como cá

Nos Estados Unidos, uma coluna de esportes do NYT não se reinventou e sumiu.

Aparentemente, essa editoria tem encontrado mais problemas diante do oceano de informação – a ver, voltarei ao assunto.

As fontes sumiram

Eis um efeito colateral interessante da megavilância a que o governo dos EUA tem submetido o tráfego de dados: o presidente da Associated Press (AP), Gary Pruitt, disse que fontes simplesmente estão deixando de falar com os jornalistas da agência com medo de serem descobertos.

Esse é o ponto crítico quando se estabelece um terror como a inexistência de privacidade: a inexistência de informações circulando.

Ignorando os sinais

Os norte-americanos, em particular, e o mundo não deram bola aos sinais, dados pela mídia há anos, de que a megavigilância da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, em sua sigla em inglês) já tinha ultrapassado todos os sinais e estava fadada a virar escândalo.

Na revista New Yorker desta semana, Hendrik Hertzberg aponta três momentos em que o jornalismo abordou a extensão dessa bisbilhotice, a primeira delas em 2000, portanto ainda na “era da inocência” que antecedeu os atentados de 11 de setembro de 2001. Ouça o podcast do colunista.

Naquele ano, o “60 Minutes”, principal programa jornalístico da TV americana, abriu uma reportagem sobre privacidade dizendo ser enorme a probabilidade de ter uma ligação telefônica ou e-mail interceptado pela agência de inteligência.

Em 2006, o USA Today deu grande espaço a uma reportagem que denunciava a mesma NSA por coletar irregularmente dados de clientes das operadoras de telefonia AT&T, BellSouth e Verizon – e chamava a atenção para o fato de que a maioria não era suspeita de nenhum crime.

Em 2010, portanto já sob Obama, o Washington Post revelou que 1,7 bilhão de e-mails, telefonemas e outros dados eram interceptados diariamente pela agência.

A notícia velha que virou escândalo já tinha passado por alguns dos veículos mais relevantes dos EUA. Como ninguém notou?

A propósito, só agora o grande personagem por trás de tanta bisbilhotice sai da sombra: o todo-poderoso general Keith Alexander, comandante da inteligência e da ciberguerra americanas.