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O jornalismo nunca foi tão importante

A visão do mestre Manuel Castells sobre o jornalismo coincide com as opiniões que tenho compartilhado em aulas e palestras nos últimos anos.

Numa era em que impera o excesso de informação (e emissores de informação), a expertise de um profissional capaz de organizar e hierarquizar esse caos não pode ser desprezada. Não por acaso, o jornalista já é uma peça fundamental em vários outros campos da comunicação, interessadas em entender o que está acontecendo no planeta.

Resta ao jornalismo (o “de redação”, se é que você me entende), agora, compreender a si mesmo e buscar seu novo lugar no mundo. “O jornalismo não morreu, mas está renascendo”, diz Castells.

Lá como cá

Nos Estados Unidos, uma coluna de esportes do NYT não se reinventou e sumiu.

Aparentemente, essa editoria tem encontrado mais problemas diante do oceano de informação – a ver, voltarei ao assunto.

De novo, a importância da curadoria de conteúdo

De Arianna Huffington, em entrevista ao Globo, sobre a importância do conteúdo jornalístico num mundo cada vez mais voltado para as redes sociais e seus “jornais pessoais”.

“Com o tempo, as pessoas reduzem a quantidade de sites que elas frequentam com alguma regularidade. Nos Estados Unidos, não são mais que 20 sites. Então, as pessoas querem o que eu chamo de curadoria, ou seja, querem um conteúdo editado, selecionado. O aspecto social é tão importante quanto a edição à medida que as pessoas vão se acostumando ao ambiente da internet.”

É isso: a massa de mídias e o overload informativo só aumentarão a importância do trabalho jornalístico profissional.

Sabemos separar pepitas de ouro do cascalho?

Na era da informação massificada, não estamos sabendo interpretar, contextualizar _mas, principalmente, decifrar_ esses códigos.

É o resumo do ótimo artigo de Massimo Pigliucci, filósofo e professor de filosofia da Universidade Municipal de Nova York, numa colaboração para o Project Syndicate.

“Falta-nos a habilidade elementar de interpretar toda essa informação _a capacidade de encontrar as pepitas de ouro em meio ao cascalho”, afirma Pigliucci.

É por isso que o bom jornalismo, aquele que hierarquiza e desvenda, não apenas relata sem reflexão, tem uma longa vida pela frente.

A mobilização pelo slow e o problema que ela causa

O slow journalism, movimento que recomenda menos velocidade (por mais qualidade) no consumo de informações, deve recrudescer em 2010. Ainda mais em ano de Copa do Mundo e eleição (no Brasil), quando as pessoas naturalmente passarão mais tempo na internet.

Mas há um problema grave com a mobilização pelo slow: ela omite que hoje, na era da publicação pessoal, emissor e consumidor de notícias são a mesma pessoa _o produser. A rigor, e sendo bem chato, seria o colapso do on-line.

E há quem não seja e consuma notícias exatamente como fazia em 1970: vendo TV, ouvindo rádio e lendo jornal.

Eu acho essa revolta contra o overload informativo uma grande bobagem. Assim como cada meio, cada pessoa tem seu timing.

Se eu quiser ter um site que não é acessado por ninguém, adoto o slow journalism _por sinal, as revistas semamais fazem isso desde sempre, sem provocar nenhum furor do gênero. Não há novidade nisso. E a vocação do meio revista. Ponto.

Compreenda: a web é O lugar para a atualização rápida. Se você a transforma numa coisa lerda, está dizendo às pessoas “compre o livro”.

Há outras plataformas para burilar a notícia, com a diferença de que elas são todas mais caras. É um argumento que joga a favor da apropriação da web para fins “reflexivos”.

Mas o único.