Arquivo do mês: março 2009

Twitter: conversação privada ou pública?

Esta é uma bela discussão: aquilo que você escreve no microblog (seus tweets, portanto) estão protegidos sob a lei do copyright? Trata-se de comunicação pública ou privada?

A pergunta do Mark Cuban é interessante: o cara foi a um jogo de basquete nos EUA e postou mensagens no Twitter. Uma delas foi parar num programa da ESPN sem o consentimento dele. E agora?

Num momento em que o sinônimo de microblog já melou julgamento e provocou punição a dirigente que criticou árbitro (isso sem contar que já rendeu processo por calúnia e difamação), parece mais que evidente que o que é dito ali equivale a uma declaração em praça pública ou publicada num jornal ou exibida na televisão. Falou, assuma.

Mas falta o selo da Justiça para confirmar isso, né?

Por economia, jornal abre mão de agência de notícias

O uso do conteúdo de agência de notícias sempre foi uma forma de jornais pequenos garantirem o fechamento de suas páginas, ainda que com material pasteurizado, não personalizado, produzido em série.

Há milhares de publicações no mundo que simplesmente não ficariam prontas diariamente não fossem os despachos de Associated Press, Reuters, France Presse e EFE, apenas para citar as quatro mais importantes.

Agora, estes mesmos jornais estão simplesmente cancelando seus contratos com as agências. É um novo sintoma da crise no jornalismo impresso nos Estados Unidos.

Foi o caso do gratuito Metro, que nos EUA publica edições em Nova York, Boston e Filadélfia e abriu mão do acordo com AP, que manda neste mercado no país. Na lógica da operação, o futuro da publicação está diretamente ligado a sua capacidade de produzir conteúdo original _ainda que a redação, minúscula (no ano passado, com queda de 30% no faturamento publicitário, 27 pessoas foram demitidas).

O Metro americano seguirá utilizando matérias de mais de 100 edições da empresa pelo mundo (inclusive o Brasil), além de conteúdo de Reuters e Bloomberg.

O poder material de um jornal impresso

O papel é mais importante do que o que está escrito nele? Há quem acredite piamente nisso, como se das páginas de um veículo impresso emanasse uma espécie de autoridade moral e social que, por si só, tornasse melhor e mais combativas as informações expostas ali.

Há tempos a Ana Estela, do Novo em Folha, ensaia falar sobre o tema. Enfim saiu.

“Os impressos, por vários motivos _materialidade física, permanência, edição gráfica, circulação geográfica e demograficamente conhecida_, têm um papel de espaço público e de agente político que os on-line não têm (ainda, pelo menos)”, diz a Ana, que é editora de Treinamento da Folha de S.Paulo (registre-se: que dá bastante ênfase ao jornalismo multimídia).

Daí eu fico pensando se aspectos sociológicos e antropológicos podem se sobrepor a questões práticas como o cardápio de um veículo, seja ele uma rádio, uma TV, um site na internet ou mesmo um jornal ou revista, que andam tão em baixa (sempre importante repetir, muito mais no Hemisfério Norte do que aqui).

É fato que o jornal em papel é uma instituição até mesmo da democracia. Mas essa condição, como estamos assistindo, não é suficiente para evitar sua extinção. É por isso que zelar pelo jornalismo, independentemente da plataforma, é uma tarefa mais importante agora do que contemplar o poder que se esconde por trás de linhas e imagens impressas.

Os projetos são na web, mas começaram todos no papel

Alguns dos projetos mais importantes da web começaram no papel. Sim, no bloquinho, e a lápis e caneta.

É o que mostra Luciana Moherdaui, do ótimo Contra a Clicagem Burra, numa bem sacada galeria via Flickr.

O esboço original de Jack Dorsey para o Stat.us, que depois viria a ser o Twitter

O esboço original de Jack Dorsey para o Stat.us, que depois viria a ser o Twitter

Twitter em 1.822 caracteres

Uma prova de que as coisas caminham muito rápido na web é que, enquanto eu escrevia o pequeno texto que acompanha reportagem de Mariana Bastos (só para assinantes) no Esporte da Folha de S.Paulo neste sábado, o Twitter finalizava um de seus primeiros contratos de publicidade.

E todo mundo sabe que não fazer dinheiro é, de longe, a principal crítica ao sinônimo de microblog.

Eu acrescentaria outra: a falta de transparência com relação a seus números de tráfego e usuários (entre outros dados menos importantes). Já há quem suspeite, como @leogodoy , que o hype nem é tão grande assim e uma revelação nua e crua das entranhas do site provocaria decepção coletiva _algo como Vale ou Petrobras anunciarem, de sopetão, um prejuízo milionário.

Enfim, em 1.822 caracteres, eu abordei o Twitter assim desta vez.

Passaralho no NYT traz de volta previsão de falência do jornal

O passaralho no New York Times (5% do staff do jornal, ou 100 profissionais serão despedidos nos próximos dias, além de a empresa ter anunciado uma redução de 5% nos salários da redação pelos próximos nove meses) trouxe de novo à tona artigo de janeiro escrito por Michael Hirschorn. Nele, a previsão sombria: o NYT irá a falência em maio deste ano.

A profecia, é claro, foi ironizada. Mesmo depois que a empresa vendeu sua sede novinha em folha e voltou ao aluguel (de um edifício bem mais modesto) e recorreu ao milionário mexicano Carlos Slim _conseguindo um aporte de US$ 250 milhões_, os argumentos de Hirschorn foram lembrados.

Agora, é Mark Potts, no combativo Recovering Journalist, quem junta os pontos e pergunta: e se Hirschorn tiver razão?

Você publicaria esta charge?

Mais uma charge polêmica do septagenário cartunista Pat Oliphant

Mais uma charge polêmica do septagenário cartunista Pat Oliphant

Você publicaria a charge acima? Ela é de autoria de Pat Oliphant, 74 anos, considerado o cartunista mais influente em atividade no mundo _e com um belíssimo histórico de obras polêmicas.

Centenas de jornais dos Estados Unidos a publicaram, gerando a ira, por exemplo, do Centro Simon Wiesenthal de Los Angeles, que soltou uma nota condenando a obra.

Diz que ela “mimetiza a propaganda antissemita” que esteve como pano de fundo da ascensão do nazismo alemão. E vai além, afirmando que foram charges como essas que prepararam o terreno para o Holocausto.

Exagero?

Como é difícil trabalhar em jornalismo. Há diversos temas que exigem ene dedos e, mesmo assim, muitas vezes terminam em revolta, protestos, mal-entendidos.

O desenho é tolo, óbvio, previsível e um retrato da realidade (o mais importante). A questão, como sempre, são as pessoas que veem golpe em tudo.

Essas, definitivamente, precisam ter um jornal só delas e parar de ler os nossos jornais.

Coletiva on-line de Obama reúne 64 mil internautas

Cerca de 64 mil pessoas participaram ao vivo da primeira entrevista coletiva de um presidente dos Estados Unidos na internet, hoje. A ênfase foi em economia, mas houve perguntas também sobre educação e saúde.

As perguntas foram feitas por 92.932 cidadãos, e as 104.096 questões formuladas, votadas e hierarquizadas por 3.606.272 internautas. O presidente respondeu apenas às indagações mais escolhidas pelo público.

O formato adotado só é novo no uso da web: o “town hall”, que originalmente é o encontro do governante com o governado, é até uma tradição nos EUA.

Eu, que tanto critiquei o começo da gestão eletrônica de Obama, não posso deixar de registrar esse exemplo de conversação com o público que deveria ser repetido e adotado pelos demais governantes.

“Eu prometi abrir a Casa Branca a vocês e é isso que estou fazendo hoje”, disse Obama antes da sabatina.

Resgate público dos jornais americanos é atraso, diz Jeff Jarvis

Jeff Jarvis oferece um ponto de vista bem interessante sobre o projeto de lei que em tese daria fôlego aos jornais americanos ao permitir que eles se transformem em entidades sem fins lucrativos _livrando-os de diversos impostos e os credenciando a receber verbas governamentais e repasses via programas públicos e/ou particulares.

Para Jarvis, o Newspaper Revitalization Act, apresentado pelo senador democrata Benjamin Cardin, apenas adiará o inevitável: a necessidade de os jornais se confrontarem com a ruína de seu modelo de negócios, destruído pela internet e o valor-notícia próximo do zero decorrente da penetração dela.

Outra preocupação do professor de jornalismo da Universidade de Nova York é bem pertinente: quem pode se candidatar a tornar-se “entidade sem fim lucrativo”? Um blog, por exemplo?

As últimas da mídia na nossa língua

Eu já falei sobre o projeto As Últimas? Não, né. As últimas são praticamente as primeiras. É esse o sentido do termo no jornalismo.

Idealizado pelo combativo Pedro Doria, é um feed de vários assuntos debatidos na blogosfera em português. Inclusive mídia, tema-mãe deste Webmanário.

Mais uma página pra gente monitorar…