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A guerra aos adblockers

A Folha de S.Paulo acaba de anunciar que impedirá o acesso a seu site para usuários que utilizem adblockers, ou seja, os bloqueadores de anúncios que inclusive são ofertados em versão padrão por alguns brownsers.

A medida já vinha sido discutida no âmbito da ANJ (Associação Nacional dos Jornais) e parte da conclusão lógica que, ao não ser exibida, a publicidade não poderá ser cobrada do anunciante.

Quase simultaneamente a Forbes americana divulgou um estudo que estima em US$ 12 bilhões as perdas dos veículos com essa funcionalidade até 2020.

Aqui cabem duas observações: a primeira, mais preocupante, é o fato de a publicidade ainda jogar esse papel tão determinante na sobrevivência de quem vende jornalismo e tem tanta dificuldade em se reinventar e criar novas receitas.

A segunda: o passo é natural e está longe de ser uma medida desesperada. É apenas mais um dos milhares de furos na tubulação em que o conserto, entretanto, é sempre incerto. É óbvio que é possível burlar esse tipo de iniciativa – e os usuários da rede provaram ano após ano que criar embaraços não é suficiente.

O WP sob Bezos

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Marty Baron, diretor do Washington Post, fala sobre os primeiros 18 meses sob a égide de Jeff Bezos, dono da Amazon que comprou o tradicional jornal norte-americano.

“Fazer impresso e digital ao mesmo tempo é um desafio”, diz ele, cuja publicação constatou a “confirmação de clichês” como o baixíssimo índice de leitura integral de “reportagens típicas” (só 1,5% dos leitores) e o fato de não existir “poção mágica” para enfrentar a mudança do ecossistema noticioso.

O algoritmo oculto do jornalismo

Dave Winner (que vem a ser um dos primeiros blogueiros da história) escreve em seu Scripting News (um dos primeiros blogs da história) uma reflexão interessante sobre o duelo cada vez mais intenso entre jornalismo e tecnologia – o que permeia, segundo ele, os 20 anos da história da blogosfera.

E, como o jornalismo aparentemente aponta o Facebook como seu novo inimigo mortal, Winner tem uma tirada sensacional. “O jornalismo também tem um algoritmo pouco transparente: ninguém tem a menor ideia de sobre como se decide entre o que é e o que não é notícia”.

Jornal pede à Redação que ajude a distribuí-lo nas ruas

O Orange County Registrer, um pequeno jornal de Los Angeles, está oferecendo cupons de até US$ 150 para integrantes de sua equipe que ajudem a distribuir (e vender) o jornal de domingo.

Não é algo novo, como recorda Roy Greenslade ao Guardian, mas não deixa de ser outro indicativo de tempos bicudos para o impresso.

Modelo para o jornalismo digital

Indispensável o trabalho de Caio Túlio Costa que radiografa o estado do jornalismo na intenção de propor soluções viáveis para sua existência rentável.

Realizado em Columbia, o estudo coloca claramente a necessidade de à operação jornalística habitual serem acrescentados novos serviços.

A pesquisa analisa bem a influência das redes sociais na distribuição de conteúdo (inclusive a nefasta influência do algoritmo). A conclusão é aquela sobre a qual falamos desde 2007 – não há para onde correr, é preciso conversar e interagir com seu público.

Importante, ainda, a ausência de preconceito com que foi tratada a gama de serviços adicionais passíveis de cobrança – em boa medida uma releitura dos classificados focados em resolver os problemas das pessoas concretamente, não apenas torná-los públicos.

Morrendo de medo das pessoas

folha_newsQuando um veículo da envergadura da Folha de S.Paulo, o maior jornal brasileiro, sai novamente a público com a intenção de demonstrar que no jornalismo o furo “é resultado de técnica e trabalho profissional“, é porque definitivamente a mídia formal continua encarando a mídia das pessoas como um concorrente, não como integrante do ecossistema de notícias.

Chega a ser patético ter de lembrar ao consumidor, periodicamente (a mais recente havia sido o protagonismo do jornalismo tradicional no compartilhamento de notícias durante os protestos de junho), que a mídia está fazendo o seu trabalho.

Na era da conversação, isso não é mais o suficiente. Há, além das notícias em primeira mão produzidas pelo público, uma demanda crescente por parcerias amador-profissional, entes que se complementam, jamais se digladiam. Isso sim é fazer jornalismo do futuro.

Estudantes de jornalismo em Cuba falam de digital e liberdade

Eles são estudantes de jornalismo. Em Cuba, país em que o jornalismo formal é oficial. Interessante como discorrem sobre coisas que ainda não estão totalmente ao alcance de suas mãos, como produtos voltados para o digital (o país tem o menor índice de acesso à internet nas Américas) e – principalmente – liberdade de expressão.

A instrução, nota-se em qualquer esquina, é altíssima em Cuba. E foi-se o tempo em que as pessoas não falavam sobre certas coisas. Há muita pressão, mas perceba nas palavras dos estudantes (como a que define o jornalismo nacional como “justificalista” e “pouco crítico”) que o futuro por aquelas bandas é auspicioso.

Cuba precisa de muitas coisas, inclusive de grandes projetos jornalísticos que ajudem a redescobrir o país.

O jornalismo nunca foi tão importante

A visão do mestre Manuel Castells sobre o jornalismo coincide com as opiniões que tenho compartilhado em aulas e palestras nos últimos anos.

Numa era em que impera o excesso de informação (e emissores de informação), a expertise de um profissional capaz de organizar e hierarquizar esse caos não pode ser desprezada. Não por acaso, o jornalista já é uma peça fundamental em vários outros campos da comunicação, interessadas em entender o que está acontecendo no planeta.

Resta ao jornalismo (o “de redação”, se é que você me entende), agora, compreender a si mesmo e buscar seu novo lugar no mundo. “O jornalismo não morreu, mas está renascendo”, diz Castells.

Jornais cada vez com menos fatias do bolo publicitário

Dados recentes sobre a distribuição do bolo da publicidade do governo federal mostram o tamanho da desidratação do produto jornal. De 2000 para cá, o meio – que detinha 21,1% deste mercado – foi reduzido a meros 8,2% em 2012.

No mesmo período, o investimento público federal na internet partiu do zero para 5,3% – e ainda estamos falando de um meio visto com desconfiança pelo mercado porque simplesmente não se sabe ao certo a sua eficiência.

Estes dados, somados a outros, levantam duas considerações que precisam ser levadas em conta: sem ações integradas e presença em várias plataformas, os jornais, sozinhos, correm sim o risco de naufragar.

A outra, ainda mais importante: num movimento que já começa a aparecer nos Estados Unidos, o jornalismo financiado pelo público (ou seja, pelo cliente) para ser muito mais sustentável do que o velho modelo amparado em publicidade, especialmente a oficial.

Modelo de negócios é o novo ‘furo’ do jornalismo

Criador do Storify, Burt Herman viu de perto a desidratação da mídia (trabalhou durante anos para a agência de notícias AP).

Agora, ele é uma espécie de oásis para quem tem o jornalismo no sangue – e pretende fazer alguma coisa inovadora na profissão.

O essencial, ele diz, é ter um modelo de negócios claro na mente. O mundo mudou: não adianta mais achar que apenas produzir bom conteúdo será suficiente para ser reconhecido e aclamado.

O furo, agora, é saber como fazer seu negócio prosperar.