Arquivo do mês: dezembro 2008

Previsões para 2009

O solerte José Luis Orihuela reuniu, num único post de seu e-cuaderno, material talhado para ser publicado e lido entre hoje e amanhã: previsões para a mídia social, o jornalismo on-line e as novas tecnologias em 2009.

Com elas, me despeço do ano velho torcendo para, no ano que vem (ou seja, a partir de amanhã), você me acompanhe de novo e ajude a construir a discussão em torno desta profissão que tanto amamos.

Feliz 2009!

A imagem de Bush

Um Bush estudioso e intelectual? Milagres da lente de Eric Draper

Um Bush estudioso e intelectual? Milagres da lente de Eric Draper

Como transmitir ao mundo uma imagem positiva de George W. Bush, 43º presidente dos Estados Unidos e que, em 20 de janeiro, deixa o cargo pela porta dos fundos após oito anos no poder?

Ninguém melhor do que Eric Draper para contar. Fotógrafo oficial da Casa Branca desde 2000, ele foi entrevistado pela Fox News sobre sua proximidade com o detentor do cargo mais importante do planeta _o episódio de sua contratação, por sinal, é sensacional: ele afirma que simplesmente pediu o emprego ao próprio Bush durante uma cobertura para a agência Associated Press.

Draper se despede do gabinete e quer voltar a fazer jornalismo de verdade (como funcionário de jornais ou agências, já cobriu guerras, uma Olimpíada e uma Copa do Mundo).

El Pais dá olé em greve da redação

Jornal com apenas 32 anos de vida e prestígio que o coloca entre os maiores do mundo, o espanhol El Pais encarou sem sustos uma greve que teve a adesão de cerca de 80% de sua redação.

A estratégia foi reduzir o número de cadernos da edição nacional, o que, convenhamos, é uma tarefa bastante fácil nesta época de final de ano. Além, é claro, de forçar a utilização das indefectíveis (e modorrentas) matérias de agências de notícias.

Ontem, a publicação bateu bumbo sobre o fato de ter chegado com normalidade aos pontos de venda. A paralisação, portanto, foi um fiasco.

No início da greve, que durou dois dias (sexta e sábado), o jornal chegou a publicar uma matéria onde detalhava o custo total de sua redação.

Mais uma derrota para esta combalida categoria.

A insanidade dos trolls ativistas políticos

A polêmica atuação do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz no Caso Satiagraha deu mais uma demonstração exemplar de que um estudante francês, Nicolas Kayser-Bril, foi muito lúcido ao cunhar o texto “A economia dos comentários“. Neste caso me refiro às reações desproporcionais a postagem de Fernando Rodrigues sobre o tema.

Em resumo, para Kayser-Bril, quanto maior o número de respostas a determinado artigo na Internet, maior a chance de haver ruído, mediocridade e a nefasta aparição de trolls, esse personagem estúpido da Web que veio ao mundo apenas para ofender e desestabilizar qualquer tentativa de conversação.

Neste caso específico, é o ativismo político que está por trás dessa proliferação de trolls. Mesmo ativismo, por sinal, que vitimou outro jornalista, Vinicius Torres Freire, quando ele “ousou” tecer críticas a Lula. Nessa hora, um pelotão de maria-vai-com-as-outras emerge na caixa de comentários com a ofensa como único, digamos, argumento. São eles que dão embasamento a teses como a espiral do silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann, pela qual os detentores de opiniões minoritárias se calam por receio de represálias da horda dominante.

Por isso tenho demonstrado aqui tanta preocupação com a necessidade de um gerenciamento de discussão nos portais noticiosos para, além de encaminhar e manter o debate dentro do limite do racional, poder filtrar e eliminar do convívio on-line os intoleráveis inimigos da liberdade de expressão. Essa gente guia o pensamento de quem vem em seguida, e o resultado é este aí que está posto: estrume em forma de comentário.

Faz muito tempo que a popularidade e relevância de um site (ou blog, ainda que seja blog apenas na nomenclatura _os blogueiros de botique são inúmeros, inclusive o próprio Protógenes) deixaram de ser medidos pelo número de comentários na página. Afinal, como pontuou corretamente nosso estudante francês, tudo o que essa avalanche de palavras produz é ruído e mais ruído, com direito a um lugar automático na lata de lixo do ciberespaço.

A incapacidade dos trolls ativistas de fazer sinapses é latente. Para eles, quando um repórter negocia com suas fontes a publicação de reportagens, é sinal de que ele está comprado (para citar dois exemplos, fiquemos com as repórteres Andréia Michael e Lilian Christofoletti, da Folha de S.Paulo, outras vítimas de toda sorte de insanidade verborrágica dos comentaristas profissionais da Internet).

São esses mesmos trolls políticos (supostamente politizados) que notabilizam outros trolls, estes ainda mais perigosos, pois são os que tomam a iniciativa de tornar públicas suas opiniões destrutivas e via de regra forjadas apenas para fomentar mais ódio e debate vazio.

O jornal sem manchete

A primeira página do jornal Folha de S.Paulo em 26.12.2008

A primeira página do jornal Folha de S.Paulo em 26.12.2008

A diagramação de um jornal diário tem alguns segredos que muitas vezes passam despercebidos. Por exemplo: uma matéria que tenha um título em seis colunas abrindo uma página significa que ela tem importância não apenas para ocupar o alto de uma página, mas também toda a colunagem padrão do jornal.

Ou seja: um abre em seis colunas não é a mesma coisa que um abre em duas, ou três, ou ainda quatro. Esse é um dos erros mais flagrantes no que diz respeito ao design de notícias nas publicações brasileiras. Em geral, desenha-se a esmo, sem levar em consideração a relevância do assunto publicado.

O que dizer de uma primeira página sem manchete? A Folha de S.Paulo repetiu a fórmula (já usada no Carnaval) nesta sexta-feira (capa acima). Repare: cadê o titulão forte? A grande foto está, nada espetacular, mas está. E a manchete?

É uma boa demonstração de uso adequado do design de notícias. Leitor, é dia 26 de dezembro e não temos, nesta edição, nada que justifique um desenho que apresente uma notícia em formato de manchete. Elas (as notícias) aparecem apenas lateralmente, numa mísera coluna _é possível dizer que, dentro dessa hierarquia, a chamada “Teles planejam investir R$ 19 bi em celulares no próximo ano” foi a escolhida pelos editores da capa do jornal como a mais importante do dia.

Por sinal, a matéria é uma conseqüência (ainda com trema, até o dia 31) daquele nosso papo sobre as facilidades que as operadoras de telefonia móvel oferecem pra gente.

Voltando à vaca fria: a diagramação de um jornal tem de refletir seu conteúdo. Não há fôrma nem fórmula pronta. A opção pela supressão da manchete é, sem dúvida, o movimento mais ousado de todos.

O estranho Papai Noel

É a descoberta e o relato de histórias como essas que fazem do jornalismo essa profissão tão prazerosa (do ponto de vista do inesperado, de rotinas que são eternamente quebradas).

Neste caso aconteceu nos EUA: vestido de Papai Noel, um homem de 45 anos invadiu uma festa natalina, abriu fogo e, aparentemente, ainda incendiou a casa. Pelo menos três pessoas morreram.

Lembro que foi num plantão modorrento de Natal que ocorreu umas das tragédias naturais mais espetaculares de que se tem notícia, o tsunami.

Por ora, Papai Noel assassino não é suficiente para cassar as folgas natalinas…

Mais experiências pro-am

Não é novidade que um portal publique em local nobre de sua home conteúdo (via de regra, fotos ou vídeos) produzidos por seus usuários.

O Clico, Logo Existo conta uma dessas histórias, ocorridas em meio ao caos da enchente em São Paulo _que acompanhei bem de longe, a quase 200 km.

É mais um exemplo bem sucedido de mediação profissional sobre o trabalho amador de documentação. Assim como professor Francisco Madureira (o comandante do Clico), vejo na fórmula pro-am um caminho claramente oxigenador para o fazer jornalístico na Internet.

Há outros: o The New York Times estuda implantar o “comentário-instantâneo“. Funciona assim: especialistas estarão de sobreaviso para comentar as notícias mais importante do dia, e o quanto antes.

E isso, o que tem a ver com o usuário? Esses caras podem ser o que eu chamei de “gerenciador de discussão“, colaborando para elevar enormemente o nível da discussão (na caixa de comentários) hoje existente nos portais noticiosos.

Outra intervenção pro-am que, efetivada, merece acompanhamento.

Parem as máquinas

A informação surgiu num texto sem lide, escrito por um estudante após palestra de Russ Stanton, editor-chefe do Los Angeles Times _um dos principais jornais americanos.

Lá pela tantas (o terceiro parágrafo, para ser mais preciso), Stanton diz que hoje o faturamento publicitário do site do jornal cobre todos os custos da redação.

Diante disso, professor Jeff Jarvis pede uma medida ousada: que o jornal pare as máquinas de uma vez por todas e estabeleça um novo modelo de negócios.

Bom debate sobre a transição do mainstream para a completa vida digital.

Notícias do litoral

É toda uma tradição quando saio de casa: ao chegar ao destino, vou a uma banca comprar o jornal mais local possível. Hoje, aqui em Juquehy (bairro de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo), só achei o Valeparaibano. Por sinal, ele tem boa aparência na Web _em papel falo depois, quero ver primeiro a edição de domingo (para quem nem imagina, é no domingo que os jornais impressos fazem suas mais altas apostas).

Na rede, o que parece pegar por aqui é o Imprensa Livre, jornal que também circula (impresso) nas três principais
cidades da região (além de São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba).

Considerado combativo (várias de suas chamadas no produto on-line demonstram inquietação), o veículo já teria sido palco de atentado político _sua sede foi alvejada várias vezes a tiros em 2006.

Porém o tempo aqui está mal humorado. Choveu, agora parou. Vejamos quem será mais útil para o leitor temporão, que necessariamente deve ser o alvo nessa temporada de verão recém-aberta.

Volto a qualquer momento em edição extraordinária.

Um gigante dentro do outro

Veja que loucura isso: 25% de todas as buscas realizadas pelo Google, esse colosso da Web, são por arquivos do You Tube, principal site de compartilhamento de vídeos da Internet.

Fosse uma máquina de busca, o site fundado em 2005 _e depois comprado pelo próprio Google_ seria o segundo maior do ciberespaço.