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Um panorama devastador para a mídia impressa

Os números mais recentes do IVC, o instituto que audita a circulação dos jornais brasileiros, são devastadores para essa mídia. Está tudo vermelho na passada de régua do primeiro semestre.

Líder no segmento com 320.428 exemplares diários de média (182.046 impressos), a Folha de S.Paulo experimentou uma queda de 12,2% – 14% na operação digital.

O Globo, agora, com 312.683, figura na segunda posição, seguido do popular mineiro Supernotícia (299.415). Só então aparece o quatrocentão O Estado de S.Paulo (229.180, destes 152.787 em papel).

Todos os jornalões perderam leitores nas versões digitais – nesse quesito, Supernotícia (17,5%), Zero Hora (33%), Correio Braziliense (110%, mas claramente a base era bem menor), Valor (9%), Gazeta do Povo (230%, idem ao CB) e A Tarde (8%) puseram mais gente pra dentro nos serviços on-line.

E vida (dura) que segue.

Clarín, 70

Com o mote “o jornal não faz o que quer com você, você é que faz o que quer com o jornal”, o Clarín colocou na rua a campanha que celebra seus 70 anos.

A importância dos jornais

Texto de Carlos Alberto di Franco publicado nesta segunda (13/4) e O Estado de S. Paulo.

Os jornais precisam saber disso!

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“Martin Sorrell, fundador e presidente da WPP, a maior empresa de publicidade do mundo, afirmou recentemente que a corrida das agências de publicidade para o meio digital pode ter sido exagerada. Em evento da Broadcasting Press Guild, em Londres, Sorrell frisou que as mensagens de anunciantes veiculadas em jornais e revistas podem ter índice de retenção maior em relação aos apresentados somente em meios digitais.

Segundo o jornal “The Times of London”, os comentários do executivo marcam uma mudança de visão em relação à mídia tradicional. No passado, Sorrell havia declarado que seus clientes gastavam uma parte muito grande do orçamento em mídia impressa, considerando que muitos dos leitores estavam migrando para os meios digitais.

Agora, no entanto, ele salienta que o uso dos veículos de comunicação tradicionais é muito importante, pois a relação do leitor com os conteúdos é diferente. “Há uma discussão neste momento sobre a eficiência dos jornais e revistas e como ambos, mesmo em seu formato tradicional, talvez sejam mais eficientes do que se tem considerado ultimamente”, concluiu o executivo. A autocrítica do fundador da WPP repercutiu no mercado brasileiro.

Nizan Guanaes, experiente publicitário, publicou anúncio de página inteira em jornal sobre a necessidade de os líderes trabalharem duro e inovarem para a superação da crise econômica no país. Sobre a decisão de publicar sua opinião na forma de anúncio, Nizan afirmou: “Anuncio em jornal porque jornal funciona”.

Vale o registro. Jornais e revistas são muito eficazes. O mercado anunciante e a sociedade não podem ficar reféns de certas tendências que ameaçam não apenas um modelo tradicional de comunicação, mas a própria democracia. Alguém consegue imaginar o que seria do Brasil sem a presença de um jornalismo independente? A agenda da luta contra a corrupção não é fruto do acaso. As redes sociais, com grande eficácia, repercutem pautas, denúncias e reportagens que nasceram nas redações dos jornais e revistas. Os jornais têm um papel insubstituível na saga brasileira.

A preservação do jornalismo não depende só do empenho das empresas de comunicação. Depende de todos nós: dos leitores, dos anunciantes, da indústria, do mercado financeiro, do agronegócio, de todos os que, de fato, acreditam no Brasil. Nós, jornalistas, precisamos fazer nossa autocrítica.

É preciso escrever para os leitores, e não para os colegas. Algumas matérias parecem produzidas numa bolha. Falam para si mesmos e para um universo cada vez mais reduzido, pernóstico e rarefeito. A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso seduzir o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório.

A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal. O leitor quer informação clara, corajosa, bem apurada. Os jornais têm futuro. E o Brasil precisa deles.”

Papel eterno

Para alguns, o papel jamais acabará. É o que mostra a série “Reis da Barganha“, exibida no Brasil pelo History Channel, que tem como protagonistas negociantes do Maine que precisam da “Bíblia” – ou melhor, do guia impresso semanal de anúncios Uncle Henry’s – para descolar bons negócios.

Apesar da tradição de passar de mão em mão, o guia está na web faz tempo (e tem até página no Facebook). Mas está longe de se diagladiar imaginando se o seu futuro será ou não em papel. Por enquanto, é também em papel – e por meio de um sofisticado sistema de assinaturas.

Jornais piores

Demissões em massa (os passaralhos) fazem parte do cotidiano jornalístico (principalmente do impresso) há tempos. Eu, que comecei em 1990, ultrapassei alguns – puxando pela memória, mais de dez deles.

O que fica, para o consumidor de notícias, é geralmente um produto pior – digo geralmente porque houve veículos que se comportaram como órgãos públicos, com inchaço do quadro funcional e regalias do tipo carro com motorista para acompanhar a mulher do correspondente ao supermercado e outras benesses injustificáveis na iniciativa privada.

Esses tinham como pressuposto um momento nababesco que não volta mais e quase mereceram o fracasso – ainda que, de roldão, levassem junto milhares de profissionais.

Nos últimos dias, lendo com atenção alguns dos principais jornais brasileiros, a ficha caiu: eles estão piores, bem piores. Uso como critério algo bem objetivo: erros. Hoje, uma única matéria tem de dois a três erros, do irrelevante ao gravíssimo, inclusive nos lugares mais nobres (como a primeira página).

É esse o efeito colateral.

Jornal pede à Redação que ajude a distribuí-lo nas ruas

O Orange County Registrer, um pequeno jornal de Los Angeles, está oferecendo cupons de até US$ 150 para integrantes de sua equipe que ajudem a distribuir (e vender) o jornal de domingo.

Não é algo novo, como recorda Roy Greenslade ao Guardian, mas não deixa de ser outro indicativo de tempos bicudos para o impresso.

Mais um jornal em papel se vai

O fim da edição impressa do Diário do Comércio, mantido desde 1924 pela Associação Comercial de São Paulo, entra de que forma na conta do esgotamento do formato impresso?

O jornal nunca teve relevância e circulava numa região muito restrita da maior cidade brasileira. Existiu, portanto, apenas como uma ribalta para a associação e seus dirigentes.

Depreende-se daí a ideia de que possuir um jornal impresso não incrementa mais o  status de uma instituição. E só.

Fósseis

José Roberto de Toledo aborda, em texto publicado ontem em O Estado de S. Paulo, os resultados de pesquisa de consumo de mídia encomendada pela Presidência da República ao Ibope.

E o que mais lhe chamou a atenção foi o enxugamento do leitor de jornal impresso (só 10% do país fazem isso quatro ou mais dias na semana) e a contradição entre o Facebook deter 31% das menções como “lugar onde você se informa” ao mesmo tempo em que as redes sociais estão na rabeira da credibilidade de informação.

É uma equação que, a médio prazo, parece não ter solução.

A pesquisa completa está disponível para acesso em PDF.

Apenas um jornal ruim

Mario Sergio Conti semana passada, na Folha, acrescenta o ingrediente definitivo para entender a crise do Libération, sobre a qual discorri brevemente outro dia. Em resumo: trata-se de um jornal ruim

“De Mao a Rothschild

A debacle do ‘Libération’ não se deve apenas às forças que assediam os jornais em toda parte
A maior façanha do jornal francês “Libération” é ser publicado. De crise em crise, o noticiário pífio, os tristes títulos com trocadilhos e as batalhas internas geraram um turbilhão perpétuo de asneiras. Ninguém, no gozo de faculdades mentais apenas razoáveis, cogitaria saber pelo “Libé” o que se passa, digamos, na Ucrânia. Ou mesmo em Nice.

Nas últimas semanas, as vendas caíram abaixo de 100 mil exemplares, a trincheira que separa o jornal da catástrofe. A publicidade minguou a microcifras e a macrodívida tornou-se super-hiper. Como um tenentinho em Waterloo, tombou mais um diretor de Redação. Foi preciso reagir rápido à fúria dos credores. Os donos do jornal se juntaram ao Napoleão disponível, o decorador hipster Philippe Starck, e surtaram.

Propuseram transformar a redação do “Libération” num café antenado, o “Flore do século 21”. O espaço cultural multifunções abrigaria palco de televisão, rede social, incubadora de start-ups, estúdio de rádio e “lounge” com computadores. Que tal? “Espaço cultural multifunções” não é uma boa ideia para o Itaquerão depois da Copa?

Numa mistura adúltera de parnasianismo gaulês com MBA ianque, os proprietários disseram que, ou bem se tinha “outra visão”, e se “monetizava a marca”, ou então era a “falência”. A Redação retrucou com um gênero literário fora de moda, o manifesto iracundo, e o fez preceder por uma patética manchete: “Nós somos um jornal”. Dá para jurar: não parece.

Criou-se a editoria Nós Somos um Jornal. Ela publica todos os dias análises sisudas e profusas dos suspeitos de sempre. Os teclados estão de prontidão nas barricadas jornalístico-culturais parisienses. Cogita-se ocupar a Redação. Cantarão “A Marselhesa”? Um rap? É tudo bem engraçado. Sobretudo porque não é o nosso jornal que soçobra: Suave, mari magno…

A debacle do “Libération” não se deve apenas às forças que assediam os jornais em toda parte: a internet, os jornais gratuitos do metrô, o envelhecimento dos leitores fiéis. O jornal é vítima da sua própria história, que parece uma parábola.

Na esteira do Maio de 68, ele foi fundado para, conforme dizia, “dar a palavra ao povo”. Não aceitava publicidade e todos tinham direito de voto na Redação. Ele se definia como “uma emboscada na selva da informação”. Uma frase de Marx lhe servia de mote: “A primeira liberdade para a imprensa consiste em não ser uma indústria”. Sartre foi o seu primeiro diretor de Redação.

A efervescência social –entre 1971 e 1975, houve quatro milhões de dias de greves setoriais na França– manteve o jornal vivo. Com o refluxo, vieram os problemas. Sartre, doente e com divergências, se afastou. Ex-estudantes maoístas se assenhoraram do jornal.

Descobriram, encantados, que a revolução cultural chinesa era um mito. A utopia ao alcance da mão estava na Califórnia. Era lá a terra das bandas de garagem, da ecologia, das drogas, do narcisismo assumido, dos costumes liberados, da informática e do espiritualismo new age. Sindicatos e salários, emprego e condições materiais de vida viraram velharias no “Libé”. O historiador Pierre Rimbert define assim a sua receita editorial: “Conformismo político, ortodoxia econômica e excentricidades culturais”.

O jornal aceita publicidade e subsídios estatais, e uma empresa que se envolve nas tramoias da política institucional. “Libération’ é a destruição positiva do esquerdismo”, explicou, em 1986, Serge July, o seu diretor de Redação. Foi ele quem convenceu Édouard de Rothschild a investir no jornal. Rothschild é herdeiro de uma fortuna bancária, um diletante cujo interesse é a criação de cavalos. Virou o maior acionista, o dono de fato do jornal. O banqueiro demitiu July. Agora, cansou-se do hobby e quer se livrar do “Libération”.”

Um dinossauro contra um tablet

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Uma alegoria sobre um tiranossauro rex feito de papel que, subitamente, agoniza ante um tablet, seu antagonista.

Não precisa falar mais nada para entender que a animação do designer alemão Ken Ottmann fala da imprensa em papel e seus desafios de reinvenção.

Importante dizer que eu, particularmente, não creio na extinção do dinossauro. Mas que ele terá de se adaptar ao novo ecossistema, ô se terá.