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A importância dos jornais

Texto de Carlos Alberto di Franco publicado nesta segunda (13/4) e O Estado de S. Paulo.

Os jornais precisam saber disso!

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“Martin Sorrell, fundador e presidente da WPP, a maior empresa de publicidade do mundo, afirmou recentemente que a corrida das agências de publicidade para o meio digital pode ter sido exagerada. Em evento da Broadcasting Press Guild, em Londres, Sorrell frisou que as mensagens de anunciantes veiculadas em jornais e revistas podem ter índice de retenção maior em relação aos apresentados somente em meios digitais.

Segundo o jornal “The Times of London”, os comentários do executivo marcam uma mudança de visão em relação à mídia tradicional. No passado, Sorrell havia declarado que seus clientes gastavam uma parte muito grande do orçamento em mídia impressa, considerando que muitos dos leitores estavam migrando para os meios digitais.

Agora, no entanto, ele salienta que o uso dos veículos de comunicação tradicionais é muito importante, pois a relação do leitor com os conteúdos é diferente. “Há uma discussão neste momento sobre a eficiência dos jornais e revistas e como ambos, mesmo em seu formato tradicional, talvez sejam mais eficientes do que se tem considerado ultimamente”, concluiu o executivo. A autocrítica do fundador da WPP repercutiu no mercado brasileiro.

Nizan Guanaes, experiente publicitário, publicou anúncio de página inteira em jornal sobre a necessidade de os líderes trabalharem duro e inovarem para a superação da crise econômica no país. Sobre a decisão de publicar sua opinião na forma de anúncio, Nizan afirmou: “Anuncio em jornal porque jornal funciona”.

Vale o registro. Jornais e revistas são muito eficazes. O mercado anunciante e a sociedade não podem ficar reféns de certas tendências que ameaçam não apenas um modelo tradicional de comunicação, mas a própria democracia. Alguém consegue imaginar o que seria do Brasil sem a presença de um jornalismo independente? A agenda da luta contra a corrupção não é fruto do acaso. As redes sociais, com grande eficácia, repercutem pautas, denúncias e reportagens que nasceram nas redações dos jornais e revistas. Os jornais têm um papel insubstituível na saga brasileira.

A preservação do jornalismo não depende só do empenho das empresas de comunicação. Depende de todos nós: dos leitores, dos anunciantes, da indústria, do mercado financeiro, do agronegócio, de todos os que, de fato, acreditam no Brasil. Nós, jornalistas, precisamos fazer nossa autocrítica.

É preciso escrever para os leitores, e não para os colegas. Algumas matérias parecem produzidas numa bolha. Falam para si mesmos e para um universo cada vez mais reduzido, pernóstico e rarefeito. A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso seduzir o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório.

A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal. O leitor quer informação clara, corajosa, bem apurada. Os jornais têm futuro. E o Brasil precisa deles.”

Para quem ainda não entendeu o que é rede social

É impressionante, mas anos depois – o Twitter, por exemplo, já está no ar há seis anos – ainda não foi compreendido o sentido de prestação de serviço, curadoria e relacionamento que os grupos jornalísticos têm de ter em redes sociais.

Então, pra quem não entendeu (e são tantos…) o exemplo acima funciona melhor do que um desenho: a Reuters retuitou um CONCORRENTE (a France Presse) porque considerou a informação relevante ao seu público.

Isso é saber fazer jornalismo em rede social. O resto é propaganda e masturbação (cujo apogeu é o retuíte de si mesmo).

Aprendendo a jogar

Responsável pelas operações do Facebook na América Latina, Alexandre Hohagen dá um choque de realidade em gente que, a exemplo de Carlos Nascimento, ficou indignada com o buzz provocado por Luíza, a que estava no Canadá.

“A nova mídia na verdade não determina qual a profundidade ou quais temas interessam mais para a sociedade. Novas tecnologias e plataformas digitais permitem, sim, o acesso ubíquo a um número muito maior de assuntos. Se assuntos como o intercâmbio de Luíza se tornaram relevantes, é resultado do que a sociedade se interessa em ler e compartilhar”.

Nascimento (a quem respeito muito), na verdade, está zangado porque não é mais ele quem define o que seu público vai ver, comentar e passar adiante.

Análises sobre 2010

A edição especial da newsletter Jornalistas&Cia, que perscruta todas as semanas as coisas da nossa profissão, traz um balanço do ano que se pretende uma avaliação do desempenho da imprensa brasileira em 2010.

Muito do que deveria ser dito está lá.

É ótimo quando o decano Audálio Dantas, diretor de redação da revista Negócios da Comunicação, joga uma perspectiva diferente a respeito da discussão sobre o novo marco regulatório das comunicações, que Lula deixou claro ser uma missão primordial de Dilma Rousseff e seu partido, o PT, no próximo governo.

“Por que, em vez de tentar abater o projeto antes mesmo que ele possa levantar voo, não propor um amplo debate sobre seu conteúdo?”, convida Dantas, coberto de razão.

Carlos Chaparro, também nosso velho conhecido, destaca uma revolução na prática da profissão que vimos reforçada no ano que está terminando: a das fontes.

Claro, num tempo em que somos furados por nossos entrevistados, que têm acesso a ferramentas instantâneas de difusão de conteúdo (como a gente), naturalmente a atenção do jornalismo se voltou para instâncias pessoais de publicação.

Daí a explosão das redes sociais e de sua influência na pauta jornalística em 2010.

Uma opinião importante vem de Eugenio Bucci, agora claramente falando sobre a cobertura da eleição presidencial. “A sociedade não é, como nunca foi, manipulada pelos humores de editores de dois ou três jornais ou de duas ou três emissoras de tevê”

Acrescento: tem de parar esse patrulhamento insuportável sobre as mídias. Os mesmos que patrulham, aliás, são aqueles que dizem que várias delas perderam a relevância. Perderam, é? Então por que patrulham? Perderam, reitero. E que deixem de patrulhar.

Em breve falo mais sobre o capítulo eleições do último J&Cia.

Jornal impresso: extinção não, perda de relevância

O monótono debate sobre o fim dos jornais impressos parece, enfim, ter chegado ao ataque adequado.

À “linha de extinção” de Ross Dawson, que mostramos aqui há duas semanas destacando que tratava-se de uma análise (ainda que contestável) sobre relevância, não uma previsão sobre sua extinção, acresceu-se agora outra, que pegou dados gerais de circulação na Europa e os dividiu pela população.

Por esse critério, nota-se que os países nórdicos, além de curiosidades como Luxemburgo e Liechtenstein, aparecem no topo da cadeia entre os consumidores de jornais. Logo, é possível dizer que nessas regiões o jornal possui mais importância do que, genericamente, costumamos determinar.

É o que acontece em países ainda em desenvolvimento, como Índia (que possui o maior número de títulos pagos do mundo, 2,5 mil) ou China (que tem mais jornais entre os 100 maiores em circulação no planeta).

Há anos estamos dizendo aqui que o jornal impresso, como o conhecíamos, já experimentou uma mudança importantíssima, deixando de ser um produto de massa. Há outras opções informativas (e mais agradáveis do ponto de vista tecnológico) a dividir atenção com o papel tingido de notícias e serviço.

Além de tudo, esse produto piorou e, em boa medida, passou a repetir as informações que o jornalismo on-line tem horas de vantagem na divulgação _isso também certamente explica essa perda de relevância a qual voltamos a comentar hoje.

Porém é impossível tentar imaginar o simples desaparecimento de algo cultural e enraizado. Insisto na aposta do jornal impresso como produto premium, mas é algo que, no Brasil, por exemplo, ainda está distante de ser debatido. Temos décadas de jornal na banca pela frente ainda.