A imprensa brasileira completa dois séculos neste domingo. Foi num dia 1º de junho, mas de 1808, que circulou o primeiro jornal do país, o “Correio Braziliense“, editado em Londres por Hipólito da Costa.
“O primeiro dever do homem em sociedade he ser util aos membros della. […] Ninguem mais util pois do que aquelle que se destina a mostrar, com evidencia, os accontecimentos do presente, e desenvolver as sombras do fucturo. Tal tem sido o trabalho dos redactores das folhas publicas, quando estes, munidos de huma critica saã, e de huma censura adequada, represêntam os factos do momento, as reflexoens sobre o passado, e as solidas conjecturas sobre o futuro”, é o que diz, na grafia original, o editorial publicado na primeira página inaugural do “Correio”, que era mensal e durou até 1822.
A “Folha de S.Paulo” de hoje mostra que historiadores ressaltam dois aspectos deste começo do jornalismo impresso no Brasil _pouco mais de três meses depois do lançamento do jornal de Hipólito, surgia a “Gazeta do Rio de Janeiro”, jornal oficial da corte portuguesa.
O primeiro é que a imprensa chegou muito tarde (o Brasil foi apenas o 12º país da América Latina a instalar uma tipografia, enquanto o México, por exemplo, já tinha o sistema desde 1535). O segundo, que ela nasceu censurada (os impressos, em Portugal, passavam por três instâncias oficiais de vigilância _ao editar desde Londres, Hipólito burlava a norma).
O jornal traz ainda um artigo inédito da historiadora Isabel Lustosa, que se debruça sobre uma exaustiva pesquisa que tentará revelar a relação entre Hipólito e o Brasil. O livro resultante deste trabalho será publicado em 2011.
Escreve a autora: “Aspecto intrigante da biografia de Hipólito da Costa é o pouco tempo que ele viveu no Brasil em contraste com o tanto que ele escreveu sobre e para o Brasil. Hipólito nasceu em 1774, na Colônia de Sacramento que então fazia parte da Cisplatina, aquela parte do Brasil que foi formar o Uruguai, viveu ali
até os três anos; passou a infância e adolescência – cerca de 14 anos – no Rio Grande do Sul e foi para Coimbra, iniciando uma trajetória que o manteria fisicamente afastado do Brasil até sua morte, aos 49 anos, em 1823. Não se tem notícia de que Hipólito da Costa tenha estado alguma vez no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Minas Gerais e, menos provavelmente ainda, na Bahia, em Recife, em São Luís do Maranhão ou em Belém do Pará. Enfim, do Brasil, Hipólito só conheceu o Rio Grande do Sul, região de fronteira, cenário das disputas com as colônias espanholas do Prata, com as quais se confundiam culturalmente.”
Claro que há o que comemorar, mas o “Correio Braziliense” atual, de Brasília, exagerou. Fundado a pedido de JK em 1960, promove festa para marcar a passagem dos 200 anos do título cujo nome emprestou. As coisas de JK são sempre assim: se ele diz ter percorrido 50 anos em 5, o que são 200 em 48…