
Um rio separa duas redações em Washington. O inusitado é que falamos de um mesmo jornal: o Washington Post. Para ele, a convergência passou longe. Não está nem sequer nos planos da empresa, ao menos a médio prazo, unificar as equipes impressa e on-line.
Não que a distância física _no caso, são alguns quilômetros, com o rio Potomac como divisor simbólico_ seja impedimento para o trabalho integrado entre as plataformas. Apesar de tendência mundial, não é a regra no Brasil, por exemplo.
Agora, o que está acontecendo no Washington Post, conforme relato imperdível do jornal semanal Washington City Paper, é surreal.
A matéria começa com um exemplo emblemático: em fevereiro, duas repórteres da versão impressa trabalhavam numa história de maus tratos e descalabro administrativo num hospital militar da cidade que tratava de soldados feridos no Iraque e no Afeganistão.
O jornal publicou a primeira reportagem sobre o caso (viraria uma série especial) em 18 de fevereiro. Pois bem: na noite da véspera, um vídeo em que Dana Priest (uma das repórteres) narrava como ratos e baratas tinham feito do hospital seu hábitat foi ao ar na Internet. Não no Post, mas no site da rede de TV NBC, para quem a jornalista também colabora.
O caso revolve um rancor freqüente: muitos jornalistas de papel ainda vêem os sites de seus veículos como concorrentes. Termos como “eles”, para se referir aos profissionais do on-line da mesma casa, são freqüentes, lá e cá.
Para o Post (não só, por sinal), o abismo entre suas equipes significa custos extras que, em tempos de orçamento apertado, são injustificáveis. Traduzindo: é comum o jornal ter dois repórteres numa mesma pauta. Exatamente como ocorre no Brasil.
Casos como o do Post não são uma argumentação definitiva pró unificação _deve haver coisas boas na separação, tanto que o jornal de Washington é um dos mais inovadores e criativos da web.
Mas servem pra fazer a gente pensar.