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A visão do Estadão nos Anos 70

Não deixa de ser uma fina ironia: foi a visão de novos negócios, ainda nos anos 70, do grupo que edita o jornal O Estado de S. Paulo (envolto numa crise insolucionável que parece espreitada por um trágico epílogo) que, com todos os sobressaltos, é responsável pela sobrevivência de seu principal produto, o jornal impresso – ao Jornalistas&Cia, a direção da empresa tentou dar algumas respostas para esse difícil momento.

A conta aqui é simples: pioneira como agência noticiosa e, posteriomente, com base em outros serviços agregados, a Agência Estado, fundada em 1970, responde hoje por quase 80% do faturamento de todo o grupo. É de onde sai o dinheiro que financia os outros departamentos, notadamente jornal e rádio, ambos deficitários.

É uma demonstração de que a ousadia e o passo à frente da concorrência podem ser determinantes para a sobrevivência de um negócio. Ainda que estejamos falando de um modelo que luta a duras penas para seguir existindo, é inegável que aquele passo, há mais de 40 anos, foi crucial.

Em tempo: o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) suspendeu as cerca de 50 demissões ocorridas na semana passada em O Estado de S. Paulo por conta de nova reformulação (ou “redesenho”). Hoje as partes devem se reunir no tribunal numa audiência de conciliação.

O melhor infográfico interativo da história segundo Mindy McAdams


O melhor infográfico interativo de todos os tempos (ou “ever”, uma deixa minha que acabou ficando famosa).

É o que diz minha mestre Mindy McAdams sobre o trabalho brasileiro que conquistou um ouro nos prêmios Malofiej.

Tapuiassauro, o novo dinossauro do Brasil é a obra em questão, da lavra do Estadão.com.

O manual de redação do Estadão para seus leitores-comentaristas

No instante em que o jornalismo on-line rediscute o que fazer com os comentários dos leitores (e há quem sugira simplesmente limar toda opinião que não seja identificada por nome completo e RG), reparo nas regras do Estadão on-line para admitir a participação dos leitores no noticiário.

Mais que regras rígidas, constituem verdadeiro seguro contra comentaristas aloprados que, por motivos óbvios, sejam moderados ou mesmo excluídos das instâncias de discussão num site _nessas ocasiões, os delinquentes da palavra costumam recorrer a bandeiras como ‘liberdade de expressão’ para denunciar o que consideram ‘censura’.

Com regras claras, essa bobagem não cola.

Os 20 Mandamentos do jornal para seus leitores-articulistas:

Será considerada infração, a publicação de conteúdo:

1. Ilegal

2. Abusivo

3. Ameaçador

4. Nocivo

5. Obsceno

6. Profano

7. Difamatório de qualquer pessoa ou instituição

8. Discriminatório de credo, raça, condição social ou orientação sexual

9. De Incitação a atos ilícitos

10. De Incitação à violência e/ou ao crime contra pessoas, instituições, países ou a patrimônio público e privado

11. Capaz de ferir a reputação de pessoas ou organizações

12. Que configure Plágio

13. Produzido por terceiros, sem a reprodução autorizada

14. Considerado Spam ou correntes de mensagens

15. Transmissão de ou que leve a locais com material de potencial destrutivo como vírus, worms, cavalos de tróia

16. Propaganda de produto ou serviço

17. Campanha política

18. Falso ou fraudulento

19. Violação do direito de propriedade de uma pessoa ou empresa

20. Que fingem ser de autoria de outra pessoa, famosa ou não

Os sites estão menos importantes?

À provocação de Sérgio Lüdtke eu respondo de cara: não, os sites não estão menos importantes. Mas o que está ocorrendo nas redes sociais é tão relevante que, merecidamente, invade o espaço onde estávamos habituados a ver meramente chamadas para o próprio umbigo.

A revolução das pessoas, fruto da capacidade de publicar instantaneamente e com as mesmas armas da mídia formal (ou quase, tirando a legitimação), fez voltar definitivamente a atenção do mainstream para a mobilização pública em sites como Facebook e Twitter.

Exatamente como Lüdtke aponta: a Associated Press manda uma notícia do Twitter para o Facebook, sem passar por suas páginas. O Estadão chama da home para o microblog, longe de seus domínios, sem pudores.

Será que começamos a entender para que serve a internet?

O Estadão e sua posição sobre o link externo, esse direito

Aleluia: demorou, mas alguém relevante no ecossistema de notícias tocou na ferida do link externo, esse direito, como bem definiu o professor Jeff Jarvis.

Em entrevista ao Jornalistas & Cia., Pedro Doria, editor-chefe do Estadão.com, foi claro ao falar sobre a missão do site Economia & Negócios, que nasce também com uma interessante integração embutida em papel (terá uma versão semanal na edição impressa de O Estado de S. Paulo).

“Quando elas [as notícias] estiverem em sites de outros veículos, principalmente estrangeiros, nosso leitor será informado do link. Queremos fidelizá-lo não só pela qualidade editorial e credibilidade de nossos veículos, mas também por tratar a informação _quer dizer, a boa informação_, esteja onde ela estiver, como um bem valioso para quem atua ou acompanha a área econômica”, disse Doria à newsletter que perscruta os bastidores jornalísticos brasileiros.

É claro que, se a opinião de Doria vale para um produto econômico, vale para qualquer outro. Mais do que presença no DNA da internet, o link externo é uma prestação de serviço importante na plataforma. É por meio dele que se encurtam distâncias e o usuário pode ir aos finalmentes.

Pedi ao Doria que detalhasse um pouco mais o assunto. E, de fato, a lógica por trás do raciocínio é tão simples que basta um parágrafo para resumi-la.

“Não há leitores exclusivos na web – todos leem o que lhes interessa em todos os sites. Editar a informação é obrigação jornalística. É ajudar o leitor em sua busca por informação. Facilitar sua vida. Se vamos criar um site de Economia, devemos ajudá-lo também indicando o que ler sobre economia em outros cantos da internet”.

De novo: isso vale para todas as editorias. Já passou da hora de a grande mídia derrubar de vez o tabu do link externo. Há um belíssimo exemplo e, antes que digam bobagem, iniciativas semelhantes (mas esporádicas) aqui e ali. E sem a defesa terminante, diga-se.

A defesa do link externo é muito mais do que disputa por audiência: estamos a falar da estrutura que deu essa cara democrática à web e, ao mesmo tempo, de uma obrigação para quem ainda desempenha (ou acha que desempenha) o papel de gatekeeper.

Palavra de filósofo: transgressão presumida é notícia e deve ser publicada

Artigo publicado ontem pelo filósofo José Arthur Gianotti no Estadão responde, em parte, ao estupor que eu e demais colegas sentimos quando, numa aula de direito da comunicação, o professor praticamente sugeriu que a imprensa só devesse entrar numa história após toda a etapa de investigação policial concluída.

“Mas seria o fim do jornalismo, nunca mais publicaremos nada”, pensamos e dissemos.

Gianotti concorda. Ao discorrer sobre a absurda censura ao Estado de S.Paulo atrelada ao caso Sarney, ele dá uma opinião definitiva sobre o tema.

“[A mídia] não existiria se apenas informasse casos constatados e julgados. Um jornal não se confunde com um boletim científico ou um jornal oficial. Obtida uma informação interessante, cabe ao jornal publicá-la; obviamente assumindo os riscos se ela for exagerada, se informar além do intervalo aceito pelos costumes e pela jurisprudência.”

Mais, e especificamente sobre o caso da censura ao jornal: “Suponhamos que a Justiça decida e mantenha a proibição. Permanece a informação sobre transgressões presumidas. Ora, essa presunção ainda é notícia e deve ser publicada pelo jornal. Não como um fato ocorrido – isto o Estado está proibido de dizer -, mas como presunção, como um caso a ser verificado.”

Pronto, é isso. Gianotti falou e disse. Ou então faço minhas as palavras de um amigo: “olha, eu publico o que eu achar adequado. O departamento jurídico fica em outro andar, não é aqui na redação não”.

Pois é…

Com que capa eu vou?

Detalhe da primeira página do Extra, do Rio de Janeiro, publicado em 26 de junho de 2009

Detalhe da primeira página do Extra, do Rio de Janeiro, publicado em 26 de junho de 2009

Um blog coletivo de fotógrafos escolheu a capa do Extra, do Rio de Janeiro, como a melhor publicada no mundo em 26 de junho de 2009 entre as que elegeram destacar a morte de Michael Jackson na primeira página.

Quem discorda que me apresente outra.

Destacar é diferente de manchetar. A amiga Cristina Moreno de Castro colecionou manchetes e não manchetes sobre o crepúsculo do popstar. Não manchetar com uma notícia dessas é o cúmulo do autismo. É viver num mundo paralelo e totalmente fora de timing.

Estadão e O Globo, por exemplo, deram espaço nobre na capa para o inesperado óbito. Mas não era a manchete _isso tecnicamente, só para lembrar, porque academicamente há a discussão se o assunto que aparece com mais destaque na primeira página de um jornal é a verdadeira manchete, independentemente de convenções gráficas.

Em vários momentos de pasmaceira do noticiário os jornais não souberam oferecer investigação própria e material exclusivo. Quando irrompe uma notícia do tamanho de um Godzilla dentro da redação, a reação é manter o plano original de publicar uma sequência de matérias sobre a crise no Senado?

A colega Luciana Moherdaui desceu a lenha na empre (adoro chamar a imprensa escrita de empre), eu não li toda a produção dos impressos, mas vi muita coisa e concordo com ela. A questão, para além disso, é o que oferecer.

É sério, o que fazer numa hora dessas? Forrar o jornal de artigos, análises e cronologias “bem sacadas”? E o que mais? É difícil, senhores. A informação em tempo real exaure as chances de publicar exclusividades.

Mas veja a importância do rótulo: não li a cobertura do Extra, mas vendo aquela capa eu não tenho dúvida que valeu a pena. Mesmo que tenha sido só pela capa.

PS – Demorou, mas um leitor achou o jornal que destacou (diga-se, sem ser manchete) a morte do astro com o singelo título “Peter Pan morreu”. Nessas horas eu tenho vontade de sumir.

Detalhe da primeira página do Jornal de Jundiaí publicado em 26 de junho de 2009

Detalhe da primeira página do Jornal de Jundiaí publicado em 26 de junho de 2009

ATUALIZAÇÃO: A Veja que circula neste sábado emulou a capa do Extra. Válido?

Capa da revista Veja que circulou em 27 de junho de 2009

Capa da revista Veja que circulou em 27 de junho de 2009

O leitor Vagner chama a atenção ainda para o Meia Hora, do RJ, que transformou uma das primeiras piadas infames sobre a morte do astro em linha fina de uma manchete anódina (“Nasceu negro, ficou branco e vai virar cinza“).

Também vale destacar a manchete do Diário de S.Paulo (o eterno Dipo, pra quem é velho de guerra na profissão), que tentou sair do hard news e manchetou “Michael Jackson deixa dívida de US$ 400 milhões. Foi massacrado. É a tal história: se o jornal diz que o homem morreu, não apresentou novidade alguma. Se parte pra voo solo, corre o risco de se esborrachar.

Venham fazer jornal impresso no nosso lugar, então.

O tremor, a interação e o microblogging

São Paulo sentiu a força do tremor de 5.2 na escala Richter a 270 km de distância, e quando isso acontece (um fato que irrompe no cotidiano de muitos), o jornalismo participativo ganha destaque nos portais. É a ocasião em que a pauta, essa ferramenta quase esquecida no cotidiano das iniciativas que contam com a ex-audiência, surge e ordena o trabalho do cidadão jornalista, corrigindo grave distorção.

A priori, um terremoto sem danos não é fotografável, mas sim digno de registro em vídeo (coisas balançando sozinhas fazem tremendo sucesso). Na falta disso, sobram apenas os relatos. “Apenas” porque a gente sempre quer (e precisa ter) mais na Internet.

Na hora em que escrevo (0h45 desta quarta), só o G1 havia levado o assunto para sua página interativa. E ninguém, entre os portais que incentivam a interferência dos leitores, tinha vídeos “caseiros” para exibir.

UOL e Terra preferiram abrir fóruns de discussão. Estadão e O Globo, sempre ligados na liturgia da interação, nem sequer tinham pautado seus leitores sugerindo que enviassem material sobre o raro abalo sísmico genuinamente tupiniquim.

A Folha, que raramente incita o usuário a interagir, já estava lá de madrugada pedindo participação dos leitores.

Bem antes disso, quando a metrópole mal acabara de sacudir, o 8bitsemeio notava que o furo de reportagem, desta vez, foi do Twitter.

E viva o microblogging, ferramenta jornalística sim, e cidadã também, como não?