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As origens do fotojornalismo brasileiro

Ainda dá pra ver até março, na sede paulista do instituto Moreira Salles, a exposição As Origens do Fotojornalismo no Brasil: Um Olhar Sobre ‘O Cruzeiro’, que foca na revista de informação que circulou entre 1928 e 1975 e detém, até hoje, os recordes absolutos de tiragem (versus população do país) com várias edições acima de um milhão de cópias.

Por mais importante que O Cruzeiro tenha sido para o mercado editorial brasileiro, em particular, e para o fotojornalismo nacional, em especial, não se pode perder jamais de vista o caráter chapa-branca da publicação. Assim como Manchete, turbinada pela ditadura militar, O Cruzeiro nasceu patrocinada por um ditador, Getúlio Vargas, e boa parte de seu sucesso e furos de reportagem podem ser creditados a favorecimentos mil.

Era uma época romântica do jornalismo: repórteres tinham autonomia para fretar aviões, e jornalistas em geral tinham liberdade para mentir (ficou o famoso o caso do “disco voador” na Barra da Tijuca, claramente uma manipulação deliberada da revista).

Fotógrafo da publicação, Flávio Damm fala sem rodeios sobre as armações de David Nasser (repórter venal e simpático à ditadura) e companhia em busca de mais vendas nas bancas.

Isso não significa que O Cruzeiro não tenha exercido sua importância e que ela não deva ser reconhecida. Mas não se pode esquecer de que forma, em boa medida, foi construída.

Sensacionalismo nosso de cada dia

Admito que se trata de uma situação atípica (ainda em férias, acompanhei bem por alto o noticiário).

Mas começou com Galvão Bueno, profissional que considero o mais competente da crônica esportiva televisiva nacional. Ao ver Felipe Massa ser embarcado num helicóptero rumo ao hospital após o insólito incidente em Hungaroring, disparou “vai, Felipe. Que deus te leve e que deus te traga com saúde” _a transcrição não é literal.

Leia mais notícias sobre Felipe Massa

Agora há pouco ouvia Milton Neves, na rádio Bandeirantes, dizer que lembrou-se imediatamente de Ayrton Senna ao ver “um lençol” ser estendido durante o atendimento ao piloto brasileiro.

Para quem estava bem longe da notícia, meu caso, soou demais a sensacionalismo.

Leitores ajudam jornal a fotografar cadáveres

O jornal popular equatoriano Extra está utilizando uma extensa rede de colaboradores não remunerados (leia-se: seus próprios leitores) para driblar uma proibição que quase põe fim ao próprio jornal.

Desde 2008, uma lei federal proíbe que a polícia ou o IML permitam o acesso de fotógrafos de veículos jornalísticos aos cadáveres.

Para o Extra, que sempre exibiu cenas de crimes na sua primeira página (indefectivelmente ao lado de modelos desnudas), foi o princípio do fim.

A publicação, porém, segue publicando defuntos com protagonismo em suas páginas. Como? Graças aos leitores, que avisam a redação, via internet e telefone, quando se deparam com um presunto fresco.

Desta forma, jornalistas do periódico estão conseguindo chegar às cenas dos crimes antes dos policiais _flagrando o morto.

É sensacionalismo, mas de resultados: o Extra, com uma tiragem estimada em 210 mil exemplares, é o jornal mais vendido do Equador.

Ainda nascem bebês-diabo

Oficialmente, é um jornal, com editor, repórteres, colunistas _e, pasmem, leitores. Na verdade, não passa de uma anomalia. É o que me permite supor a história do “homem-sereio” que estaria aterrorizando Manaus.

Estou falando do tablóide popular “Maskate“, publicado em Manaus. O veículo sensacionalista, infelizmente, é adepto do lado mais deprimente dessa vertente: a mentira.

Histórias forjadas fazem parte da própria história do jornalismo. Ponto. Agora, hoje isso ainda cola? Ou é diversão pura (de quem faz, não de quem lê)? Num momento em que o papel é cada vez mais raro, ter um jornal para fabricar notícias parece surreal.

Ok, você vai me dizer que, na Inglaterra, os jornais que mais vendem são sensacionalistas. Pura verdade, mas com um porém: seu sucesso é baseado no flagra, na imagem de famosos cometendo pequenos, grandes ou nenhum deslize. É a força da imagem. Elas estão lá.

Como está, no Maskate, a “foto” do homem-sereio e uma fantasiosa versão para suas aparições.

Impossível não lembrar do “Notícias Populares” e sua incrível seqüência de “notícias” inventadas. A mais célebre, o bebê-diabo, que passeou pela primeira página do extinto rotativo por quase um mês seguido. Trinta dias de enganação e de pantomima.

Isso é jornalismo?