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A socialização de conteúdo

Muito (praticamente tudo) do que consta nesta apresentação de Sérgio Lüdtke eu chancelo.

“A importância das mídias sociais para o jornalismo, otimização dos sites para facilitar o compartilhamento de conteúdos e o que está mudando na forma como acessamos informações”, é o resumo da conversa do editor da revista Época.

Mesmo sem sua presença (indispensável, aliás), pelos slides dá para ter uma boa ideia do que ele (e eu) estamos pregando há um bom tempo.

Os sites estão menos importantes?

À provocação de Sérgio Lüdtke eu respondo de cara: não, os sites não estão menos importantes. Mas o que está ocorrendo nas redes sociais é tão relevante que, merecidamente, invade o espaço onde estávamos habituados a ver meramente chamadas para o próprio umbigo.

A revolução das pessoas, fruto da capacidade de publicar instantaneamente e com as mesmas armas da mídia formal (ou quase, tirando a legitimação), fez voltar definitivamente a atenção do mainstream para a mobilização pública em sites como Facebook e Twitter.

Exatamente como Lüdtke aponta: a Associated Press manda uma notícia do Twitter para o Facebook, sem passar por suas páginas. O Estadão chama da home para o microblog, longe de seus domínios, sem pudores.

Será que começamos a entender para que serve a internet?

‘É preciso humildade para entender a importância do discurso do público’, diz editor de Época

Conheci Sérgio Lüdtke, 49 anos, hoje editor da revista Época, numa viagem em que pretendia entender a interação e integração de redações no Grupo RBS, que sempre trabalhou com o conceito de rede _jornal, rádio, jornal e web mesclados, em boa medida com os mesmos jornalistas-grife passeando por todos.

Lüdtke é um dos defensores do conceito de “perseguir a audiência” (diferente de Paco Sánchez, aqui também entrevistado, que teoriza que a originalidade do conteúdo fará seu público o encontrar).

Perseguir a audiência significa, muitas vezes, dialogar com “gente que dá um carteiraço ao contrário, você quase nunca sabe com quem está falando”, como diz Lüdtke. Mas ele não desiste nunca. “É preciso humildade para entender a importância do discurso do público”, afirma. Leia a entrevista completa abaixo.

Às vezes eu acho que somos jornalistas diferentes. Entendemos a importância do discurso do público, damos valor a ele, buscamos nossa audiência… Estamos errados?
Estou convicto de que estamos certos, mas é preciso admitir que temos a facilidade histórica de contar com a internet. Como ela é o primeiro meio a possibilitar a interação com o público pelo próprio meio, é uma via em dois sentidos, a percepção da audiência que conseguimos no jornalismo online não era possível aos profissionais de jornal, rádio e TV. A experimentação de um diálogo franco e intenso com o público nos permite entendê-lo melhor, conhecer suas opiniões, mas também suas deficiências, suas incompreensões. Creio que é essa possibilidade de leitura da realidade, reforçada pela enorme capacidade de mensuração dos meios digitais, que nos diferencia. Não quer dizer que sejamos diferentes, mas temos tudo para ser.

Há uma distância, no entanto, entre a possibilidade e a efetividade. Para entender a importância do discurso do público é preciso também uma dose de humildade. Não é fácil, em meio a tantas atividades, parar para dar atenção – e às vezes até razão – a sujeitos cuja identidade não é revelada, autenticada ou reconhecida. Gente que dá um carteiraço ao contrário, você quase nunca sabe com quem está falando. Mas esses sujeitos anônimos são aqueles para quem sempre trabalhamos, desde o surgimento do primeiro jornal, e que agora também podem – e querem – ter um nome. Eles podem ser a extensão dos nossos olhos e nossos ouvidos, ser a nossa quase onipresença. Nosso trabalho é editar.

Você pode, melhor do que ninguém, falar sobre a importância do clique. Temos nossos mantras, mas vários deles ainda engatinham no quesito consumo de massa. Na maior parte das vezes funciona mesmo o que todo mundo quer ver, ou melhor, o que todos os portais estão publicando, numa mimetização impressionante. Até que ponto essa imitação dos sites noticiosos ajuda quem prega colaboração e participação no processo de construção das notícias?
A internet pode se estabelecer como um meio de massa, mas a quase totalidade de seu conteúdo não. Os portais, principalmente aqueles que têm na origem grupos de comunicação que já operavam outras mídias, levam para a internet a reprodução de seu modelo offline. E ao apostar editorial e publicitariamente em volume de audiência, deixam de lado aquilo que é a melhor possibilidade da internet: a de, independente do volume de pessoas conectadas, falar de um para um. Acredito que isso vá mudar muito nos próximos anos. A fragmentação é irresistível, mesmo numa área aparentemente muito concentrada como a das redes sociais. Não que não haja espaço para o mainstream, para o blockbuster, para a celebridade, mas esse é um terreno em que todos fazem mais do mesmo. Todos se repetem. É onde ainda faz diferença a idéia de Home de portal: tem mais cliques quem tem mais audiência e faz as escolhas mais adequadas a seu público. Mas isso só gera volume e uma posição no Ibope. O que, reconheço, não é pouco. Até por que a publicidade, que igualmente herdou o modelo, também vende volume. Não acredito que esse modelo vá prevalecer.

Os portais, por outro lado, podem usar inteligentemente a força de suas urls para promover o conteúdo gerado pela audiência, principalmente de usuários pouco experientes. Lembro que há alguns anos tínhamos que pedir à audiência para mandar fotos da mãe, do cachorro ou até da sogra. Era uma futilidade necessária para gerar a experimentação necessária, testar a usabilidade das ações. Hoje isso já é uma rotina, mas está na hora do editor-chefe do portal pensar nisso além da rotina e de uma forma menos burocrática.

O jornalismo colaborativo é apenas uma moda? Essa coisa de aplaudir o ‘meu-cachorro-fez-xixi-no-poste’, às vezes louvado como colaboração, faz algum sentido? Não temos nós, os ‘profissionais’, que sermos confrontados por eles, os ‘amadores’, e não nos colocarmos numa eterna posição de mediador?
Não acho que seja moda, mas devemos evoluir numa relação que preserve a responsabilidade com o conteúdo que oferecemos a nossa audiência. Seria impossível competir – se essa fosse a intenção – com a capacidade de captação de uma legião de olhos e ouvidos atentos e equipada com celulares, câmeras e gravadores. Além disso, independente da nossa vontade ou concordância, as pessoas já possuem seus espaços na web e lá publicam e compartilham o que bem entendem. Estamos na era do Eu.com. Nosso desafio está mais na capacidade de identificar, valorizar e descobrir formas de agregar esses conteúdos para oferecê-lo ao nosso público do que no confronto ou menosprezo com aquilo que é gerado pelo público.

O verdadeiro papel do editor de mídias sociais

Apesar de os jornais brasileiros nem saberem do que se trata, já virou consenso planetário, entre quem estuda e analisa a influência das novas tecnologias, a necessidade de um editor de mídia social nas redações.

É o responsável pelo gerenciamento de comunidades do veículo na web (notadamente em sites de relacionamento como Facebook e Twitter, ou redes construídas em páginas como Flickr e Youtube), desenvolvendo técnicas de perseguir a audiência (como bem defende o amigo Sérgio Lüdtke), atender às necessidades do público e, claro, potencializar o interesse por seu conteúdo.

Greg Linch falou um pouco mais sobre o papel do editor de mídia social, esse desconhecido para uma grande maioria retrógrada de jornalistões. Inclusive contando, para isso, com opiniões bem pertinentes de Jennifer Preston, que exerce o cargo no New York Times.

A ideia de o editor ser um moderador, um facilitador, um incentivador e um educador também está perfeitamente em sintonia com o que o trabalho jornalístico hoje, em plena era da conversação, exige dos profissionais que estão na linha de frente do diálogo e compartilhamento de informações com o público.

De graça, Chris Anderson fala sobre o preço zero

O mais recente livro de Chris Anderson, avisa Sérgio Lüdtke na rede Interatores, já está disponível para download gratuito.

Fala exatamente sobre o zero, o preço que, segundo o autor, ajudou a internet a revolucionar o mundo.

A obra chega envolvida em polêmica porque Anderson, editor-chefe da revista Wired (quem melhor cobre tecnologia no planeta), copiou trechos inteiros da Wikipedia, sem citação, em partes do livro.

Desculpou-se depois, dizendo que houve “um erro de edição”. Seus editores prometeram a correção para a segunda edição.

Anderson ganhou notoriedade após “The Long Tail” ou “A Cauda Longa”, livro de 2004 no qual discorre com bastante propriedade sobre o rumo dos negócios em tempos de internet, especialmente pelo ponto de vista de oportunidades que a web proporcionou. O resumo é o fim dos hits, mas a venda de milhares de produtos distintos. Daí a cauda.

Depois disso o jornalista e palestrólogo virou alvo. Dizem que cria conceitos apenas para se beneficiar deles depois _no caso de “Free: The Future of a Radical Price”, a matéria que apresentou a ideia foi publicada numa edição da Wired distribuída, ao menos em parte, gratuitamente, em fevereiro deste ano.

No geral, os livros de Anderson valem pela ideia central. Tanto a cauda longa quanto o preço zerado, ao que me consta, são realidades. Apenas que as obras não se sustentam como leitura. Nem de profundidade nem acadêmica nem nada.

Checar os resumos publicados pela própria Wired costuma ser mais produtivo _e ter o mesmo efeito.

As cinco obrigações do jornalismo com seu público

Texto de Sérgio Lüdtke na comunidade Interatores (feita sob medida para quem gosta de discutir novas tecnologias e jornalismo) disseca o papel do veículo jornalístico frente a sua audiência. Vale por uma aula.

É necessário reproduzir as cinco premissas básicas de Lüdtke. Ademais, elas são a própria linha do tempo do jornalismo.

Atender: Essa era a ação básica para satisfazer o público até o surgimento dos meios online. Você publicava um determinado conteúdo – que era interposto em uma página de jornal ou na grade de programação de uma rádio ou de uma TV – e era naturalmente percebido pela audiência daquele veículo. Você apenas zelava pela veracidade da informação e procurava apresentá-la da melhor forma possível.

Estimular: Com o surgimento dos meios digitais e a possibilidade de interação pelo próprio meio, a interatividade passou a ser um diferencial importante na comunicação. E para promover essa relação, os produtores de conteúdo passaram também a estimular a participação da audiência.

Ouvir: Depois de fomentar a participação da audiência, os produtores de conteúdo incluíram no seu job script a tarefa de ouvir o que essa audiência está dizendo. E quem presta atenção no que o público sinaliza, o conhece melhor, se pauta melhor e pode publicar conteúdos mais adequados a essa sua audiência.

Valorizar: Para garantir a continuidade desse processo de estímulo e atenção ao que o público manifesta, é necessário que as opiniões ou os conteúdos gerados pela audiência sejam valorizados. E a valorização aqui se dá com destaque, com crédito ou com veiculação desses conteúdos.

Perseguir: Agora precisamos também perseguir a nossa audiência e levar até ela o nosso conteúdo. Portanto, meu caro, deixe de lado seu constrangimento e vá aonde o povo está. Desenvolva uma mania de perseguição, entenda a necessidade de ter um bom conhecimento do seu público e identifique seus comportamentos e as tendências que ele segue.

É hoje: STF julga obrigatoriedade do diploma e Lei de Imprensa

Hoje, a partir das 14h, o (STF) Supremo Tribunal Federal julga duas matérias que têm tudo a ver conosco: a inconstitucionalidade de vários dispositivos da Lei de Imprensa e a obrigatoriedade de um diploma em jornalismo para exercer a profissão.

Reitero o que sempre disse: numa era em que qualquer cidadão desempenha a função, parece anacrônico ainda debater o tema. Afinal, apurar/analisar/difundir notícias é direito fundamental da pessoa.

As mídias do judiciário (TV e rádio) transmitirão a sessão. No microblog, a agência Radioweb anuncia a twitagem em tempo real. Mas vamos ver que bicho dá.

Enquanto isso, fique com Sérgio Lüdtke, um dos pioneiros da web no Brasil, que fala sobre ambas as coisas em texto muito lúcido na comunidade Interatores, que reúne o povo de mídias digitais.