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O preço de um erro

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Custou R$ 650 mil – afora o incalculável passivo de imagem – a publicação de uma foto fake do presidente venezuelano Hugo Chávez pelo jornal espanhol El Pais na semana passada. É a imagem que você vê acima (ela foi negociada por R$ 40 mil).

A empresa que edita o jornal saiu à caça dos exemplares já na rua, e promoveu uma reedição de emergência sem a barbaridade. Em seu site, a imagem ficou impávida como Muhamad Ali por eternos 30 minutos.

É o que nos conta o próprio jornal, em reconstituição passo a passo da decisão de publicar a imagem, oferecida por uma agência que não prima exatamente pela primícia noticiosa – o mais surpreendente para mim, e isso já se sabia desde aquele dia, é que a ficha do periódico só caiu por causa da repercussão em redes sociais. Ou seja, o jornal estava completamente nu. E foi descoberto.

Estamos numa época, portanto, em que as pessoas avisam em tempo real  que o jornalismo profissional fez uma barbeiragem. Mais: uma era em que as pessoas, atuando juntas, acabam fazendo o que a gente deixa de fazer.

Para piorar, um italiano assumiu o “atentado jornalístico” justificando que sempre faz isso: espalha cascas de banana para checar quais os níveis de filtragem e apuração da imprensa formal.

É uma grande história porque extrapola o campo do folclore das barrigas jornalísticas e penetra no turbulento mundo da conspiração política.

Preocupante ou auspicioso?

O trabalho mais auditado do mundo

É mesmo surpreendente e curiosa a visão que as torcidas têm do trabalho jornalístico formal _ao mesmo tempo em que martelam na tecla de sua gradual irrelevância, o que, sob a luz da era da publicação pessoal, caminha para uma definição conceitual.

Carlos Fernández Liria, escritor e professor de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid, mostra-se totalmente descido do muro ao comentar como a imprensa espanhola se comporta ao cobrir o movimento bolivariano, comandado por Hugo Chávez nas Américas.

“Na Europa há muita censura, a mídia só contrata jornalistas que digam o que lhes interessa”, afirma Fernández.

Claro exagero, mas que passa aquele recado: a internet ampliou a vigilância do público, e o trabalho jornalístico, provavelmente, é o mais auditado do mundo.

Merece até uma quantificação.

Comentário de leitor vira pretexto para controle da web na Venezuela

A censura cibernética, com um batalhão de “espiões” que perscrutam a web e eliminam ou bloqueiam conteúdo indesejado (como ocorre na China e no Irã), não parece ser suficiente para ameaçar a liberdade na internet.

Na Venezuela, país há muito afastado dos princípios democráticos, um comentário de leitor num portal de notícias foi usado como pretexto para a criação de uma comissão para controlar a web.

“Os meios de comunicação devem contribuir para a formação do cidadão e paz pública” é o trecho da Constituição citado pela Câmara para justificar a decisão.

O pepino foi a publicação da (falsa) informação da morte do ministro de Obras Públicas e Habitação, Diosdado Cabello, e do apresentador de TV Mario Silva. Tudo numa caixa de comentários que, algum tempo depois, foi moderada _a mensagem foi excluída, e seu autor suspenso permanentemente.

Subjetiva, a decisão do Parlamento fala em “punir quem não cumpra a lei”, e pede que se investigue os sites que usem de forma “indevida e antiética” a web.

Mais um passo para ameaçar a liberdade de expressão.

Quem é mais nocivo à democracia: Hugo Chávez ou o exército imbecil de adoradores de Lula?

Novas ameaças do ditador da Venezuela, Hugo Chávez, contra veículos jornalísticos que criticam seu governo. Ontem, em seu “programa” de TV (que não passa de doutrinação barata), o mandatário foi categórico ao afirmar que poderá cassar concessões _como já o fizera com a Univisión.

Uma coisa é a crítica, e outra, a conspiração“, disse.

O que me dá medo é que essa é exatamente a lógica da turba irracional e burra que, cega por opção própria, incensou Lula a outro patamar, transformando em golpe qualquer tentativa de opinião ou análise racional do que está acontecendo no Brasil.

Dia desses falei, numa resposta na caixa de comentários do site, que não aceito patrulhamento de nenhuma espécie. Nem sei se seria o caso hoje, já que nem sequer entrei no mérito do governo Lula, mas de seu séquito de adoradores que, paspalhos e imbecilizados, não têm condições de viver num estado democrático de direito.

Deveriam, pois, mudar de bibelô e se bandearem todos para Caracas. Lá, sim, eles terão um presidente que pensa _e mais do que isso, que age_ como eles.

A garota se tornou mais famosa do que a mala

Maria del Luján Telpuk, ex-agente aeroportuária, descobriu mala de dinheiro que colocou o atual governo argentino em maus lençóis

María del Luján Telpuk, ex-agente aeroportuária, descobriu mala de dinheiro que colocou o atual governo argentino em maus lençóis

Já é clássico no jornalismo: uma notícia pode ganhar ainda mais interesse se um de seus protagonistas é, digamos, interessante de se ver.

A Argentina assiste a apenas mais um exemplo dessa máxima. Aqui, a ex-agente policial aeroportuária María del Luján Telpuk se transformou numa celebridade não apenas por ter sido a responsável pela apreensão de uma mala com US$ 800 mil no aeroporto Jorge Newberry (o Aeroparque), em Buenos Aires, em agosto do ano passado _o dinheiro, presumivelmente, tinha sido enviado pelo governo venezuelano para a campanha de Cristina Kirchner, que acabou eleita presidente argentina.

A última de Telpuk (que foi capa da Playboy local em fevereiro e virou dançarina de palco da versão argentina do “Patinando com as Estrelas“) reverberou na imprensa local. Ela acusa o FBI de chantageá-la a mudar seu depoimento e vincular o empresário Guido Antonini, que viajava ao lado de outras pessoas no pequeno avião com a valiosa bagagem, ao venezuelano Franklin Durán, detido e processado nos EUA sob a acusação de atividades ilegais de espionagem a serviço do governo de Hugo Chávez.

Segundo a ex-policial (que hoje também trabalha numa empresa privada de segurança, conforme revelou anteontem num programa popular da TV local), os agentes norte-americanos lhe ofereceram “um emprego de modelo numa das mais importantes agências de Miami“. Telpuk bateu o pé e não mudou suas declarações.

Qualquer coisa que a dublê de modelo e agente de segurança diga ou faça ganha grande repercussão local. Nessas ocasiões, seu lindo rosto estampa páginas dos diversos jornais portenhos (só para lembrar: apenas nos últimos seis meses, Buenos Aires ganhou mais dois diários pagos em papel, um movimento certamente sem precedente no mundo).

A “garota da mala”, como ficou conhecida, eclipsou o próprio escândalo político por trás do incidente e que colocou os governos dos EUA e da Argentina em confronto.

Veja, Carta Capital e o partidarismo

As discussões sobre a linha editorial de Veja e de sua congênere Carta Capital (idênticas, mas com sinais políticos trocados) são inspiradoras para o debate sobre a imparcialidade no jornalismo, que nasceu partidário e nunca livrou-se totalmente dessa tendência _só a academia ainda acredita nisso, em tese.

Não é, claro, um fenômeno brasileiro. O ativismo jornalístico existe onde quer que esta atividade profissional seja desempenhada. Veja o caso da Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, expulsou ongueiros da Human Rights Watch, que diz fiscalizar o cumprimento dos direitos humanos no planeta.

Mesmo distante (no caso, no Chile), o engajado Manuel Cabieses (diretor da irrelevante revista política Punto Final) levantou a voz para comprar a briga. Defendeu Chávez, atacou a ONG. Lado certo ou errado?

No jornalismo, não há lado. Há o todo.

É constrangedor assistir à profissão se partidarizar como em seus primórdios. Qual a credibilidade de um jornalismo sectário, comprometido com convicções de outrem?